Capítulo 4

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Maraisa:

Maraisa acordou com a mesma rotina. Sentou- se na cama, alongou e levantou. Odiava acordar cedo, então criou essa rotina para o banho bem gelado afastar esse calor. Não existia meio termo no mundo? Berlim muito frio e Araguaína fervendo no calor do fim de verão. Desse jeito não dava.

Saiu do banheiro e se vestiu com uma blusa branca solta e uma saia marrom. Um salto só para não perder o costume. Hoje ela iria apenas observar algumas crianças que haviam se inscrito e conversar com os outros jurados, estabelecer metas, traçar o convívio e como auxiliariam as crianças. Seria um dia tranquilo, provavelmente conseguiria passar no final da tarde no trabalho da amiga para tomarem um café.

Maraisa saiu de taxi até o teatro, viu algumas crianças com seus professores e sorriu. Era tão bom ver a garotada envolvida na dança, aquilo salvou sua vida e esperava que aquilo tivesse o mesmo envolvimento nessa crianças.

Ela entrou cumprimentando alguns professores de longe, no balé ela era muito conhecida e parece que eles sabiam disso. Ficaram animados com a possibilidade de a verem de perto junto de tantos outros jurados. Ela entrou e foi até a recepção do teatro onde uma moça simpática lhe deu seu crachá.

Maraisa entrou na sala do teatro e sorriu. Tantas cadeiras, as luzes no palco. Podia rever o dia em que dançou ali pela primeira vez, foi quando a Alemanha a descobriu. Era tão nova, mal podia acreditar que tinha se passado tanto tempo. Ela foi descendo o corredor até a fileira mais próxima do palco onde os jurados estavam. Se encontrou com velhos amigos e aproveitou para fazer novos.

Fora ela tinham apenas duas brasileiras, por isso a conversa era feita em inglês  para o entendimento de todos.

- hoje algumas escolas vão levar seus alunos no palco para apresentarem eles a nós, depois vamos nos reunir no salão que fica na lateral do prédio. – Joana, uma das dançarinas brasileiras explicou. – o local virou um verdadeiro estúdios de dança para os pequenos.

Todos concordaram e logo os jurados tomaram seus lugares para as escolas de balé poderem subir no palco . pouco a pouco os jurados  iam conhecendo as crianças, morrendo de fofura por algumas. Maraisa achava tão bonito meninos e meninas apaixonados pela dança. Já tinha virado fã de todos.

Foi quando a escola de balé dos Pereira entrou e Maraisa achou uma menina encantadora, com cerca de 9 anos. Ela não conseguia tirar os olhos da menina, os cabelos sendo a primeira coisa a chamar sua atenção. Era tão linda... todas as crianças falaram seus nomes, nervosas, menos ela. Elisa. A menina tinha segurança de um exercito. A professora Fernanda, que preparava o físico das meninas, olhava orgulhosa para a criança. Devia ser a mãe, Maraisa pensou.

Sentiu quando Elisa olhou para ela, provavelmente a reconhecendo, pois os olhinhos só faltaram saltar para fora, o brilho de admiração inegável. Maraisa viu quando a menina começou a ficar agitada, balançando a mão da professora animada.
Riu.

Gostava de ser exemplo de alguém.
Depois das apresentações, os jurados foram até o salão e assistiram as crianças treinando alguns passos. Maraisa preferiu ficar encostada na parede ao lado da porta enquanto os outros foram caminhando pelo salão e interagindo com os professores e alunos. Ela logo encontrou a menininha que tinha chamado sua atenção e sorriu ao ve-la tão focada na frente do espelho. Era de uma determinação impressionante, dava para ver que a menina era apaixonada pela dança.

O que Maraisa sentia ao olhar para aquela menina era inexplicável. Viu dezenas de crianças hoje, mas nenhum tinha sido capaz de mexer com ela desse jeito. Talvez se sentia assim por serem tão parecidas, Maraisa se via nela, se via na determinação e na força de vontade.

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