Voragem
(20 anos)
O privilégio de ter limites às vezes não me alcança
Picuinhas que não servem para nada
O porteiro que assiste
Premeditei milhares de vidas, a invasora vencedora foi a ignorante e pesada
Quero janelas sem grades
Odeio calçada desnivelada
Queria ver o céu sem fiosAs vezes esqueço o cosmo como um todo, isso é a coisa mais triste sobre mim; lentamente esquecer das coisas simples que implicitamente me fazem querer viver um minuto a mais ou dois
Porque em resumo tudo que tenho são textos vazios, músicas melancólicas otimistas e um longo suspiroÉ que às vezes a distância entre o meio e o fim é tão grande que parece infinita
Não existe possibilidade, não existe bifurcação confortável, não quero confundir com pessimismo porque o fato que era, continua e em todas realidade sempre permanece
Chorando aberto e vísceras escorrendo, choro por um garoto jovem que morreu
Demoraram encontrar, me assustou muito
Choro por ainda estar vivo e porque eu?
Choro pela beleza de um garoto que desistiu dos fatos que me assombram
É sempre assustador lembrar e lembrar que sobrevivi
É pavoroso tentar entender o porquê ou porque ele não
É constrangedor ver minha inveja sobre vidas que acabam por motivos que desejo
Eu sou um morto vivo apático e sinto tanta vergonha disso
Porque sei que a agonia vem do desejo entrelaçado a inveja e da impotência crua
Essa não foi a história que vi ganhar quando criançaEu poderia caminhar no entardecer e morar nos coelhos e dinossauros
Eu poderia ser vapor puro, laranja, rosa lilás
Eu poderia ser quente
Cinza ou cinzas como sempre e para sempre
Eu poderia descobrir meu raro arco
Um poeta matemático
Aonde toco faço vento, aonde olho crio pressãoDetalhes assustadoramente etéreos
A contentação que chega no fim de um ciclo
Ou o devaneio frequente que é bom mas nem tanto
Sou jovem demais, velho demais
Detalhes me induzem ao desejo do complexamente simples.
O desconforto da ribanceira
Obcecado por quem serei em 2 anos; não quero o desgaste de aprender ou entender algo futuramente óbvio
Entediado e acostumado à frustraçãoTodas aquelas noites, antes disso tudo, não dizia uma palavra
Era uma guerra mas eu dormia em paz mesmo na porta do inferno
Entupido de devaneios, a nostalgia me dissolve e explícita cada parte que rumina outros futuros
Sempre fui a água que desce pelo ralo entre o meio e o fim
A medida que desço isso me devora, me suja e me sujo
Me torno áspero
Uma previsão do defeito de fábrica de um produto duradouro é a agonia do inevitável iminente fim
Eu sei que não existem argumentos para a mente ou músculos para o verbo erguer
Ele sempre será presente suficiente para continuar ausente
Eu quero só poder falar e falar até igualar todos os anos de silêncio e medo
Eu quero que todos eles saibam e tenham compaixão, eu quero o que todos querem e não me envergonho, eu quero beijar ele como uma garota
Deus, eu quero beijar ele como um garoto
Eu queria tanto amá-la como se não existisse motivos ou planos
Estou tão cansado de querer
Queria que estivesse tudo bem simplesmente desistirSou feito de puro desejo de duas dimensões, e eles estão sempre muito perto mas muito alto
É entediante e frustrante o desânimo na beira que é sempre presente e unânime
Expectativas agoniantes, muros inalcançáveis vezes esquecido, vezes ruminado
Quando a ponta parece clara ela dá sempre um jeito de voltar a ficar sem graça
Talvez se eu fosse um pouquinho mais um pouquinho talvez não fosse tão determinante e permanente quanto parece que seriaNunca lidei bem com a falta dos arrepios
Sempre foi ruim e sempre será
O nada será sempre um pressentimento do pior
Porque vai ser sempre pior que o pior
Atrás da cortina premeditando o caos que fica e a bagunça que sempre sobra pra limpar
Parece que estou vivendo no meu passado; todos são sempre os próximos enquanto espero constantemente um ano ou dois
Evolução burra que é forte mas tarda; inútilIrritado com a minha ambiguidade
O mesmo com adendos, é irônico
Repetindo da metade; sem gostos confusos mas a falsa nostalgia trata de deixar presenteA coragem de ser desagradável;
De mostrar minha apatia;
De não ter medo de deixa-los desconfortávelO ambiente é caótico
Esse caos é desconcertante mas habitual
Aceito estar preso nisso mas continua paralisanteQue caminho confuso e pesado
Tudo que sempre desejei foi uma vida simples
Escrevo nu e cru, meu eu através do reflexo que ignoro
Tudo que sempre desejei foi uma vida simples06/01/2023

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Translúcido Garoto Cósmico
PuisiDurante 6 anos escrevi como se fosse a última coisa que eu pudesse fazer - e era! Este livro é um compilado de poemas e textos, minhas visões de mundo sendo testadas enquanto amadureço ao longo dos anos, textos confessionais em forma de fluxo de con...