Capítulo 5 - Deus Não Existe

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ARABELLA

Ano 7026

Se eu soubesse que iria acontecer essa patifaria, teria cortado o pescoço desse homem e o largado para morrer afogado no próprio sangue.

O QUE ele está pensando? Killian nos céus, como eu sou sortuda! Vou trocar a palavra "Deusa" pelo seu santo nome, já que quem roga por mim é ele. Se é que o nome dele é esse! Eu já havia ouvido falar em kan-ori, kan-oren e barbantes ou cordões que ligam almas, mentes e corpos. É como se fosse a coisa de alma gêmeas humanas, só que, versão feérica e mais... mágica? Também não é algo necessariamente romântico, eu brincava com meu irmão quando era muito pequena que nós dois éramos kan-oris. De acordo com meu pai, é real.

Eu nunca ouvi uma pessoa falar tanto sem piscar desde que nasci, não entendi metade do que ele disse, mas falou sobre coisas que faço e ele não deveria saber.

Eu percebo que estou pensando a mais ou menos 5 minutos e ele está na minha frente parado.

- Simplifique oque você disse tudo de novo, por favor. Com detalhes, quero saber tudo. - Eu digo puxando um dos fios da teia de cordões do príncipe que agora eu possuía, dando um comando. Eu sou bem mente aberta quando quero.
Ele obedece contra a sua vontade, entre dentes.

- Não sou desse mundo, sou de outro. Encontrei sua alma e descobri que ela estava ligada a mim, mas não tinha um corpo e estava viajando para encontrar um, então ela veio para esse e eu a segui. Ela era uma coisa parecida com uma nebulosa e quando chegou aqui, a perdi de vista, mas a sentia aqui, então não fui embora. Ele não era assim como é agora, era primitivo. - Se refere ao mundo. - Eu caí no Reino do Sul, onde os outros como eu, ou de onde eu vinha, normalmente caiam. - Os feéricos. - Estas terras eram vazias e a povoamos, mas logo chegaram os humanos de outro lugar em a nossa espécie não existia, com o típico preconceito do homem. Armamos um plano e eu fui obrigado a me infiltrar no meio deles, assumi outra forma, os trouxe para o Reino Oeste como um profeta e eles me coroaram seu rei, depois que entrei em suas mente, dando-lhes o que queriam: promessas de uma guerra que nunca aconteceu. Por isso as leis daqui são tão rígidas para feéricos, estou os controlando e mantendo a sede deles na linha. Nunca ouve uma monarquia, oque há aqui sou eu e cascas de corpos com minha voz dentro de suas cabeças ocas. É absolutista então não há um ministério, a única coisa real nesse palácio são os criados, porque, apesar de tudo este país, falido pelo próprio povo, precisa de empregos para as pessoas ocuparem. O casamento foi uma história trágica que eu inventei. Toda geração tem que ter algum assunto polêmico, humanos da realeza são assim. O rei que não é real vai morrer dentro de meses, quando a esposa que também não é real de meu irmão inexistente estiver grávida. No parto morrerá ela e a criança, meu irmão se matará semanas depois devido ao ocorrido. Como a rainha falsa morreu de peste a anos, ficarei só eu novamente, sem ter que manter farsas, como sempre. - Ele para e tenta cortar partes várias vezes, mas não consegue.

- História de vida interessante. Quantos anos você tem?

- Não me lembro, parei de contar depois de um tempo. - Ele tentava trancar a mandíbula e não responder.

- Como não se lembra? Nem uma estimativa?

- Estou chegando perto dos 10.

- 10 mil? Caramba! Como você não se matou ainda? - Não era uma pergunta genuína, era uma sugestão. Eu já vi feéricos de 800 anos, sabia que havia alguns mais velhos que isso, mas acho que os da minha espécie não podem viver tanto como ele, de forma alguma com aparência jovem. Nós paravamos de envelhecer no normalmente depois dos 18 anos, então cada século vale 5 anos.

- Motivação certa. - Ele diz irritado, o comando ainda sobre ele. - Há 18 anos atrás eu acordei no meio da noite quando sua mãe entrou em trabalho de parto, a alma havia entrado em seu corpo e eu a senti. Feéricos só ganham uma alma ao dar o primeiro suspiro e quando a bolsa que te carregava rompeu, você respirou, a alma entrou em seu corpo e levou algo que era meu junto. Fui até sua casa sem que pudessem me ver e você nasceu em pouco tempo, causou uma hemorragia em sua mãe e eu curei a ferida, ou hoje você seria órfã. - Eu escuto o coração dele retumbar dentro do corpo, eu não havia conseguido escutar um indício dele desde que chegamos aqui.

Dobradora de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora