De volta
“Eu estarei aqui com você, mesmo que isso custe minha vida, pois não farei valer a sua”[...]
O sangue estava gelado em seu corpo, como se estivesse morto. O loiro sentiu que estava em uma paralisia do sono, pois não conseguia se mover ou até mesmo falar. O medo cobriu seu pescoço e o apertou, e um sussurro alcançou seu ouvido.
– Doce… meu… – aquela voz mansa e profunda ecoou baixinha no quarto escuro e sombrio. Uma dor latente espalhou-se por seu pescoço, como se um par de agulhas o perfurassem.
Aether desejou gritar, pedir socorro, mas a única coisa que saiu foram lágrimas finas por seus olhos semi-abertos. Ele podia ver, em meio aquela escuridão, mechas pretas e um par de olhos no tom roxo, encarando-o como um predador faminto.
Nesse mesmo dia, o loiro acordou enfraquecido, sua pele estava mais pálida, como se sofresse de anemia. Signora, sua mãe, lhe assegurou que era apenas uma virose, enquanto seu sobrinho passava pelo corredor, parando como uma estátua demoníaca para lhe encarar sobre os ombros, entre a fresta da porta, mas quando Aether piscou, ele não estava mais ali.
[...]
3:40 AM
Estalos e mais estalos serpenteiam pela casa, até alcançar a audição sensível do menino mais novo. O loiro começa a piscar para que a nitidez se espalhe por sua pupila, o suficiente para que pudesse encarar o quarto que dividia com seu garoto.
A estranheza formigara no coração quente do mais novo, lhe denunciando que algo o observava, como na noite em que dormiu na casa de Chongyun. Aether sentou-se sobre a cama macia, seus pés mal alcançando o chão devido à altura do colchão. Logo em seguida o loiro descobriu o motivo dos estalos, pois eram provenientes da chuva que pesava do lado de fora.
Estava tarde, o garoto estranhou tanta barulheira, mas quando se ergueu até a janela de vidro, ele afastou a cortina para observar a floresta densa e escura, como se não houvesse sequer um sinal de luz, mas algo chamou a atenção do loiro. Vários pares de pontos vermelhos estavam espalhados pelos troncos de árvores e folhas secas da neve, e não demorou para que as gotas de água fossem se solidificando ao alcançarem o clima frio de Liyue. Aether estremeceu, muitas daquelas coisas rodeavam a casa, e foi amedrontador o suficiente para fazê-lo fechar a cortina.
– O que… – sua respiração estava desconfortável no pulmão, o sangue frio pelo medo. Rapidamente, o garoto entendeu o motivo das grades de ferro nas janelas, mas ele foi rápido o suficiente para correr e trancar a porta do quarto.
Aether deu pequenos passos para trás após girar as chaves, seu estômago estava frio, uma sensação sufocante de estar em perigo. Seus olhos viraram até baterem na imagem do moreno deitado sobre a cama. Xiao ainda estava muito debilitado, pois ficar anos sem se alimentar quase o levou à morte.
Pequenas lágrimas de medo brotaram como um lírio aranha-vermelho em seus olhos, escorrendo suas pétalas sobre as bochechas pálidas do loiro.
Caminhando sobre o piso de madeira, lentamente, Aether sentou-se na cama novamente, seus olhos estavam opacos e o corpo levemente curvado. Os pés formigam intensamente, como se o sangue subisse e descesse numa velocidade prejudicial, mas o loiro não poderia se sentir diferente quando aberrações o cercavam. Seus lábios permaneceram crispados, as pupilas dilatadas encaravam nada em específico, e pensamentos corriam por sua cabeça.
O que eram aquelas coisas? Aether só sabia que Shenhe os conhecia de trás para frente, e ele desejou ter aquela mulher ali novamente, para proteger seu garoto adormecido. O coração do loiro parou, ele lembrou que costumava acordar quatro horas da madrugada para fazer seu café, uma breve e limpeza e ir para o hospital. Suas mãos percorreram a mochila sobre a mesa de remédios, angustiado para achar o celular e desligar o alarme. Ao conseguir fazê-lo, Aether suspirou baixinho, finalmente se acalmando.
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beijos da meia-noite
RomanceMemórias fragmentadas em mil pedaços, um jovem enfermeiro tentava desesperadamente juntar as peças daquele quebra-cabeça, angustiado para encontrar imagens fiéis de seu passado misterioso. Perguntas sem respostas, tendo como único apoio, sonhos ent...