Beast of the Florest

Capítulo 2. Gatos misteriosos

26 de agosto de 1904.
Porchay [diary]
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Se passou uma semana desde aquela noite. Com o passar dos dias minha cabeça parecia ficar cada fez mais confusa e curiosa, cheia de pensamentos que pareciam não me levar a lugar nenhum.

"Quem era aquela pessoa?
Por que ela estava ferida?
Como ela foi parar justamente na minha casa? E mais importante, para onde ela foi?"

Eu ainda estava um pouco aflito com o fato de ele ainda poder estar por perto e talvez me observando, mas eu não conseguia sentir medo, e isso me fez refletir o porquê. Talvez tudo que aconteceu comigo naquela noite era como se fosse uma fantasia ou algo que eu imaginei no meu subconsciente. Até cheguei a me questionar se eu não estava sonhando, mas o bilhete deixado por Porsche afastou tal ideia.

Eu realmente não estava sonhando ou imaginando coisas, e isso era bom, um sinal de que eu ainda não estava ficando louco.

Porsche me ligou a alguns dias atrás, sorte pois eu havia esquecido onde tinha guardado meu caderno de ligações. Disse que não poderia me visitar essa semana por problemas que teria que resolver na antiga empresa de nossa mãe. Resolvi não contar sobre o que aconteceu naquele dia, para não o fazer ficar preocupado e vir correndo para cá.
Contei que tenho ficado em casa por esses dias desfazendo e arrumando as coisas, o que não seria uma mentira.

Depois de conversarmos por um tempo e ele me contar por quase uma hora sobre Kinn, seu mais novo interesse romântico e sobre os problemas com a empresa que herdou após nossa avó falecer. Nunca tive muito contato com minha mãe, já que ela era sempre tão ocupada, o que me forçou a ser criado pelo meu único irmão e minha avó. Nossa mãe acabou falecendo pouco tempo depois de eu me mudar para estudar na Inglaterra. Eu não tenho o que reclamar sobre minha infância, sempre fui muito bem orientado a seguir meus sonhos e fui apoiado em todas as minhas decisões, principalmente a de ir para a Inglaterra, o que me rendeu um coração partido e o fato de eu estar aqui agora.

Bom, chega de falar sobre as mágoas do passado.

Voltei a organizar o restante das coisas que estavam ainda em algumas poucas caixas, já que rinha desfeito o maioria. Dentro, apenas algumas roupas e livros que eu usava na faculdade.
Talvez eu não precise mais deles, porém não consigo simplesmente os jogar fora. Então apenas os coloquei no canto mais escondido na prateleira onde estava outros livros que tenho desde que era criança.

Me lembro de quando era pequeno e meu irmão lia histórias para eu conseguir dormir. A maioria eram as que ele inventava, sobre castelos, flores mágicas, florestas encantadas que escondiam princesas, duendes, bruxas, dragões...
Bons tempos.

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Depois de terminar de desfazer e organizar todas as caixas, resolvi que seria bom dar uma caminhada pelo lado de fora, já que fiquei dentro de casa desde que cheguei a uma semana.
Ainda era bem cedo, provavelmente não passavam das nove horas da manhã, porém o sol já estava bem quente.

Contudo, isso não me impediria de explorar a minha nova residência.

Era um terreno bem extenso. Delimitado por um bosque que possivelmente daria até a vila mais próxima. A antiga casa era cercada por árvores de ambos os lados e tinha em sua imensidão, pequenas flores brancas que se perdiam em meio a grama verde e recém molhada.

- Uau... Vista de fora, a casa realmente parece em bom estado... - disse admirando o lugar ao longe.

Não seria estranho eu me familiarizar tão rápido com esse lugar.
Parecia mágico.

Não consigo saber o porquê, mas este lugar me lembra muito de "Peter e Wendy", uma peça que eu assisti recentemente no início do ano quando ainda estava na Inglaterra. Meu amor não correspondido havia me chamado para ir junto assistir com ele. Posso dizer que me diverti muito e virou uma de minhas peças preferidas.

Lembrar dos momentos em que passei com ele ainda me dói muito, então, irei parar de escrever sobre isso por um tempo. Tudo que eu preciso agora é de um novo recomeço. Sei que não será fácil esquecer assim, de uma hora para outra, porém não importa mais.

Nada disso é mais importante.

Fui andando de volta em direção a entrada da casa. Precisava me lembrar onde eu havia colocado o caderno de ligações para que pudesse ligar para meu irmão de volta e dar mais notícias. Até que meu corpo simplesmente paralisou ao chegar perto da porta de entrada. Eu não conseguia acreditar no que via, completamente confuso ao ver dois gatos no parapeito da pequena janela ao lado da porta.

Eles me observavam com seus olhos e pupilas, que pareciam dilatadas. Fiquei surpreso com suas aparências.
Eram completamente opostas.
Enquanto um tinha pêlos brancos como neve e olhos verdes como de uma floresta sombria, o outro possuía pêlos negros como uma noite escura, sem estrelas e olhos tão azuis quanto o oceano.

Em nenhum momento eles desviaram seus grandes olhos de mim e nem eu deles. O tempo parecia ter parado enquanto eu estava imerso naqueles olhares brilhantes.

Veja bem, eu não estava com medo, apenas surpreso e impressionado com a beleza dos animais. Nunca imaginei ver animais assim na vida real.
Eles realmente pareciam pertencer à aquele lugar, aquela floresta que parecia tão mágica mas assustava os moradores locais e curiosos que se arriscavam ao entrar nela.

Depois de minutos, talvez, ambos os gatos desviaram seus olhares de mim para algo que pareciam ter escutado na floresta.
Eu não consegui ouvir nada mas olhei para a mesma direção que os animais olhavam sem nem piscar. Era a direção de trás da casa, onde ficava a entrada para o bosque que iria até a pequena vila próxima dali.

Tentei forçar meus olhos para tentar enxergar algo, porém nada vi. Comecei a sentir uma tonteira agoniante e minha visão pareceu turva e confusa. Me amaldiçoei por não ter me alimentado mais cedo. Mas de nada adiantaria, já que alguns segundos depois, senti minha visão escurecer completamente e meu corpo cair no chão desmaiado.

Ainda não havia perdido completamente minha consciência. Eu conseguia sentir o cheiro da grama fresca e levemente molhada pela chuva de ontem a noite.
Até que enfim, senti meus sentidos sendo levados embora e finalmente desmaiei no chão em frente a minha nova residência.

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