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Khun PhraNang posicionou, com todo o cuidado e destreza possível, o galão que carregava consigo em um canto perto da porta, e em seguida, indo em direção a uma pequena bancada do outro lado do cômodo. Entrei logo após e também posicionei o outro galão no mesmo canto.
A vendinha era pequena porém muito aconchegante no seu interior. Não era um espaço muito grande, apenas uma pequena sala com umas cinco prateleiras, onde se tinha de tudo, desde alimentos até utensílios diários que eram muito bem organizados, elas que iam do chão até quase a altura de meus ombros. Havia um pequeno balcão no canto oposto a entrada onde Khun estava e uma mesinha junto a duas cadeiras no local.
O lugar me dava um sentimento de lar, por mais estranho que pareça. Era como se eu já tivesse estado ali em algum momento, porém eu não me recordo disso. Talvez quando era pequeno? Não sei.
Depois de uma rápida olhada pelo ambiente, sigo a mulher que a esta altura, estava com uma pequena chaleira vermelha em suas mãos, a qual já estava cheia de água para o chá.
- Que tipo de chá você gostaria? Tenho de maracujá, maçã, camomila, erva-cidreira, tenho até capim limão se preferir. - disse com um sorriso simpático.
- Não precisa se incomodar quanto a isso. Pode ser qualquer um. - respondo sorrindo meio sem graça. Ela mal me conhece e já me tratava como se fosse alguém de sua família, algo ao qual eu não tenho costume.
- Que nada, nong. Não é todo dia que recebo visitas. Vivemos apenas eu e minha filha. Ela deve estar em algum lugar brincando. - ela diz enquanto pega um pote abaixo do balcão.
- A senhora é casada? - pergunto vendo seu rosto se levantar, olhando diretamente em meus olhos. - Desculpa pela pergunta repentina... - Khun solta um risinho. Provavelmente eu estava com as bochechas claramente vermelhas de vergonha pela intromissão.
- Fique tranquilo, querido. Você não precisa ficar constrangido, pode perguntar o que quiser. É como Buppha sempre dizia: eu sou um livro aberto. Respondendo sua pergunta, nunca me casei, na verdade, nunca me relacionei com nenhum homem. Os aqui na vila não valem a pena.
- Mas a senhora não tem uma filha? - questiono confuso.
- Sim, não de sangue. Adotada, na verdade. Venha, o chá está prontinho. - ela diz pegando a chaleira indo em direção à mesa.
Sigo-a e me sento em uma das cadeiras. PhraNang olha abaixo do balcão e volta a mesa carregando um pote de vidro com biscoitos dentro, junto a duas peguenas xícaras que pareciam serem se porcelana. Sentou-se, pegou uma das xícaras e derramou dentro um pouco de chá quente.
- Então, me conta como tem sido a experiência de morar no campo? - ela pergunta sorrindo, empurrando a xícara em minha direção, colocando um pouco de chá para si também.
- Ah, muito cansativa, mas tem sido tranquila. Gosto bastante da tranquilidade. - respondo sorrindo de volta, pegando o pequeno recipiente que estava parcialmente quente.
- Você não tem se sentido muito sozinho? Lembro-me que sua avó sempre reclamava sobre se sentir solitária.
- Sério? Na verdade eu adoro o silêncio e a calmaria. E também tenho tido algumas visitas de alguns vizinhos um pouco, ahn... intrometidos, então não me sinto tão solitário. - solto uma risadinha baixa.
- Como assim? - a mulher me pergunta parecendo desconfiada.
- Ah, não é nada muito grave ou perigoso, na verdade é bem fofo até. Dois gatos tem me visitado por esses dias. Não tenho certeza se são selvagens ou não, mas eles não são tão hostis. - dou um gole na bebida em seguida.
- É um gato preto e um branco?
- Eles mesmos. A senhora sabe se eles tem donos ou algum lugar pra morar? - curioso coloco a xícara na mesa.
- Eles tem vivido por aqui desde que me entendo por gente. Eles estão sempre juntos andando por aí, brincando e correndo. Minha filha adora brincar com os dois.
Logo após dizer isso, vemos a porta ser aberta por uma garotinha que aparentava ter uns 9 anos. Vestia um vestido branco florido, sapatos pretos, que incrivelmente estavam brilhando de tão limpos. Era difícil estarem intactos, já que as ruas eram de terra e pequenas pedras se espalhavam pelo caminho, sem nenhum tipo de pavimentação. Seus cabelos eram castanhos claros, curtos e sua franja quase tampava seus olhos, algo que a obrigava a jogar o cabelo de lado.
A menina carregava um gato branco nos braços. Identifiquei sendo Snow, que logo assim que me viu, pulou de seus braços sem nem disfarçar seu descontentamento por me ver ali, voltando porta afora.
- Kaew, o que estava fazendo? - pergunta Khun PhraNang com um sorriso.
- Eu estava brincando com o gatinho perto do lago. - responde a garotinha com um sorriso pequeno no rosto andando em nossa direção, agora, olhando para mim. - Quem é esse, mamãe?
- Esse é Porchay. - respondeu a mulher dando um tapinha carinhoso na cabeça de Kaew. Pegou a menina e sentou-a em seu colo. - Fiz aqueles biscoitinhos que você adora.
- Prazer, Chaychay! - disse a garota sorrindo com os dentes, adorável.
- Prazer, nong Kaew. - digo sorrindo da mesma forma.
- Então, nong, sobre o que estávamos falando mesmo? - Khun PhraNang diz voltando sua atenção para mim.
- Bem, era sobre os intrusos que me visitam de vez enquando.
- Intrusos? - pergunta a garotinha com com a boca cheia de biscoitos.
- Kaew, não fale de boca cheia! - reclamou Khun carinhosa, fingindo uma carranca em seu rosto.
- Desculpa, mamãe... - Kaew murmurou culpada, engolindo o restante dos biscoitos. - Vocês estam falando dos gatinhos?
- Sim, meu amor. Porchay se mudou para a casa de Khun Buppha a pouco tempo, e já recebeu a visita deles.
- Suki e Snow apareceram apenas duas vezes lá em casa, e uma delas foi hoje inclusive. Meio que foram eles que me guiaram para o caminho para cá. - digo rindo.
- O que significa Suki e Snow? - a menina questiona olhando para mim.
- Suki é uma palavra japonesa que significa amar, gostar ou ter afeição. E Snow significa neve.
Vejo a feição de Kaew brilhar de uma maneira diferente e um sorriso adorável pairar em seu rosto.
- Sério, P'? - a animação é visível em sua voz. - Você já foi para o Japão?
- Na verdade não, mas sei algumas coisas de mandarim por causa de Ken, um dos guarda costas que me "protegiam" quando morava com meu irmão.
- Por que você precisaria de guarda costas? - Khun me questina com uma feição preocupada.
- Não, não! Minha família tem um grande negócio têxtil e minha mãe era um pouco paranóica quanto à segurança. Eu e meu irmão não podíamos sair para lugar nenhum sem eles.
- Nem pra brincar? - pergunta Kaew espantada.
- Nem para brincar. Apesar que nós sempre fugiamos quando eles estavam distraídos. - solto uma risada, lembrando de uma das muitas vezes que fomos pegos por Arm e Pol. Aqueles dois eram uma peça, já que sempre se distraiam facilmente, dando brecha para nossas fugas.
- Igualzinho a alguém que eu conheço... - diz Khun olhando para Kaew que a essa altura já estava com a boca cheia de biscoitos novamente.
- Mamãe! Eu nem fujo tanto assim... - responde a garota tentando se justificar.
- Mas não siga o mesmo caminho que eu. Em uma dessas vezes quase fui pego por um dos seguranças...
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Beast of the Florest
RomancePorchay, um garoto que vivia uma vida difícil depois de problemas com seu primeiro amor, que como consequência o fez desacreditar no conceito de "Felizes para Sempre", herdou a casa de sua avó. Uma casa no meio de uma floresta dita por muitos como...