Capítulo 1. Começo

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19 de agosto de 1904.
Porchay [diary]
⊰⁠⊹ฺ✿

"Eu nunca pensei que estaria em uma casa no meio da floresta chorando por não ter recebido o meu tão sonhado Felizes para Sempre."

Essas foram minhas primeiras palavras depois de toda a mudança. Eu sinceramente nunca me imaginaria em uma casa no meio do nada, em uma floresta sombria e conhecida por todos os boatos ruins que rodeavam a pequena vila que era um pouco afastada da minha mais nova residência.
Talvez o amor não fosse realmente para alguém como eu. Passei tanto tempo sofrendo pelo meu primeiro amor não correspondido, que me sinto até patético.

Meu irmão me ajudava a organizar as poucas coisas que eu tinha trazido comigo da Inglaterra depois de abandonar meus estudos. Não consegui simplesmente continuar a seguir meu sonho apenas por alguém que nunca nem pensou em ter algo a mais comigo, fazendo eu me sentir completamente descartável.
Eu sabia que deveria seguir em frente mesmo que com a ferida ainda aberta, eu teria que aprender a costurá-la e lentamente me recuperar sozinho.

- Terminei de organizar as coisas na cozinha. - disse Porsche, meu irmão enquanto entrava no quarto.

Eu rapidamente limpei as lágrimas que ainda escorriam pelo meu rosto antes que fosse claro que eu colocava todas as minhas mágoas para fora.

- Chay, você está bem? - meu irmão perguntou preocupado sentando na cama onde eu estava sentado de pernas cruzadas tirando algumas fotos da caixa que estava a minha frente, relembrando de todos os momentos em que eu deveria ter desistido daquele relacionamento sem futuro e que existia apenas na minha mente.

Ele era ótimo em descobrir quando eu não estava bem, parecia algum tipo de conexão entre irmãos. Isso não era algo necessariamente ruim, porém eu gostaria que não fosse tão notável as vezes.

- Nada, eu estou só um pouco cansado. - digo tentando evitar o olhar do que estava a minha frente.

- Eu sei que você não está bem. Se você não quiser me contar o que aconteceu para você ter toda essa mudança drástica, está tudo bem. Eu entendo. - Meu irmão também era ótimo em me consolar em momentos em que nem eu sabia o que estava fazendo.

Eu não consegui falar nada. Apenas deitei minha cabeça em seu colo como sempre fazia nos tempos de escola quando sofria bullying, segundo meus colegas, por ser "delicado demais".
Eu não gostava de relembrar da sensação de não saber quem eu realmente era, odiava sentir que não era digno de apenas viver como outras pessoas.

- P', por que a sociedade nos julga como se não fossemos dignos de amar e sermos amados? - questionei com as lágrimas voltando a se fazerem presentes novamente.

Porsche apenas soltou um suspiro sôfrego.
Ele sabe de tudo que passei quando fui para o internato, todas as palavras de desprezo que tive que ouvir, as injúrias por apenas ser eu mesmo.
Desde que nossa avó faleceu e nossa mãe estar sempre ausente, ele é quem tem cuidado de mim, o que me fazia me sentir um fardo em suas costas algumas vezes. Mas eu não conseguia o culpar por isso. Entendia que para ele também foi extremamente difícil, ainda mais por ele ter tido a oportunidade de criar um vínculo mais forte com nossa mãe e eu, bom, era apenas um bebê. Depois da faculdade, as coisas melhoraram um pouco já que fui para a Inglaterra me formar em Artes, mais especificamente em música, que tem sido minha grande paixão desde que me entendo por gente, mas que agora não parece fazer mais sentido.

Passamos algum tempo naquela posição. Meu irmão nada havia falado e apenas continuava a fazer carinho na minha cabeça como sempre fazia em momentos assim. Eu também não conseguiria falar nada, já que as lágrimas que pareciam estarem presas a tempos agora eram deixadas na calça branca que Porsche usava. Sentia um grande nó em minha garganta o que me impedia mais ainda de falar algo.

Beast of the FlorestOnde histórias criam vida. Descubra agora