Capítulo 5. Intrusos

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Resolvi ver se tinha algo nos armários que ficavam abaixo das bancadas, debaixo da pia.

E como o esperado, nada.

Eu tinha esquecido completamente de ir até a vila comprar alimentos para reabastecer os armários. Estava tão confortável que esqueci completamente.

Agora a pergunta que eu tenho em mente é: "Onde fica esse vilarejo?"

Eu não tenho a menor ideia de como chegar nele, só sei que passamos pelo mesmo quando viemos com a mudança mas nem reparei se tinha algum caminho por lá.

"Bom, acho que vou ter que descobrir sozinho", penso comigo mesmo enquanto saio da cozinha indo de volta para o quarto afim de tomar um banho e me trocar antes de tudo.

A água quente que sai do chuveiro, caí sobre minha pele como se lavasse todo o meu interior, o que era uma sensação boa e ao mesmo tempo estranha.

Meu corpo parecia tenso, talvez pela falta de sono ou apenas pela ideia de que a besta esteja por aí, me observando pelas janelas ou até mesmo pelo buraco das fechaduras nas portas.
Não tenho medo dele, e sim do fato de poder estar sendo observado, o que faz tudo parecer ainda mais assustador, já que eu estou sozinho em uma casa no meio da floresta, longe de um vilarejo que eu não faço ideia de onde fica.

A sensação de solidão fazia meu subconsciente pensar demais fazendo meu corpo ficar tenso, sem nem que eu, próprio, perceba.

Tomo um banho, consideravelmente demorado. Apenas deixo a água correr tirando os resquícios de sabonete junto à minha tensão muscular.

Saio do chuveiro sentido um ar frio, capaz de me causar arrepios, ao abrir a cortina que separava o box do restante do cômodo.
O banheiro era bem grande, e tinha até uma banheira, mas que ainda não foi usada por mim. A mesma já tinha uma aparência bem antiga junto a todo o estado da casa, mas eu sinto uma sensação de desconfiança ao pensar em entrar nela, não sei.

Tenho algumas lembranças de quando minha avó me banhava no local; eu sentia ser a melhor parte do meu dia, já que a mesma adorava fazer uma massagem em meu couro cabeludo quando lavava meu cabelo pouco ondulado, quase um liso escorrido.

Sai do cômodo com uma toalha enrolada em minha cintura, já que esqueci de pegar uma roupa limpa antes de entrar no banheiro. Ao sair, por um momento sinto meu coração quase parar de susto.

Aqueles mesmos gatos que eu havia encontrado antes de desmaiar ontem, estavam na minha frente e dentro do meu quarto.

O de pelos negros estava deitado sobre minha cama, parecendo brincar com o meu cobertor que ainda estava bagunçado, já que não arrumei a cama quando levantei. E o gato branco, estava sentado no parapeito da janela olhando diretamente para mim.

O gato preto parecia dócil e carinhoso, mesmo tendo uma aparência não tão convidativa e que assustaria os mais velhos que acreditam em lendas de que gatos pretos trazem má sorte. Eu nunca fui do tipo que acredita nesses tipos de lendas.

Já o gato de pelos brancos parecia mais ameaçador; seus olhos me olhavam de forma afiada sem nem piscar, como se eu fizesse qualquer movimento ele já estaria em posição de ataque.

Enquanto um que tinha a aparência ameaçadora estava brincando com a colcha da cama de forma despreocupada, o outro que parecia ser gentil, me observava procurando algum mínimo movimento errado da minha parte para poder se defender.

- Ei... - digo em voz baixa depois de me recuperar do choque, com um sorriso no rosto. - O que fazem aqui? Já é a segunda vez que nos encontramos.

Vejo o gato preto parar sua brincadeira e olhar para mim pela primeira vez, com grandes olhos azuis feito um vasto oceano. Sua cabeça se inclina levemente para o lado como se compreendesse o que eu dizia. E o branco continuava estático com seus olhos sobre mim.

Eu ando devagar até o pequeno armário no canto oposto do quarto onde estavam as minhas roupas, pegando uma calça de linho marrom e uma blusa branca que tinha rendas substituindo as partes das mangas longas. Uma roupa não muito simples mas seria confortável o bastante para ir comprar mantimentos para a cozinha.

Conseguia ter uma boa visão do lado de fora pela janela aberta; ainda era bem cedo mas o sol já estava alto e com poucas nuvens no céu, o que dava uma sensação maior de calor. Ela havia dormido aberta, na esperança de que o homem da noite passada aparecesse novamente, o que não aconteceu.

Depois de me vestir, voltei minha atenção para os dois pequenos intrusos que eu podia sentir que observavam cada movimento meu.

O gato branco agora já não estava mais na janela e sim na cama junto ao outro gato.
O preto o mordia afim de iniciar algum tipo de brincadeira mas o branco parecia não estar muito confortável para abaixar a guarda, pois havia um "intruso humano" no mesmo cômodo.

Observei aquela cena sem falar nada. Era estranho ver os dois ali, em minha cama, mas ao mesmo tempo me dava uma sensação de proteção e calmaria.

Decido me dirigir até a porta do cômodo ainda em silêncio afim de sair e encontrar o caminho para a tal vila. Isso pareceu chamar a atenção dos dois animais, que logo desceram da cama indo até minha direção.

O gato preto foi correndo, tão rápido que quase não acompanho o mesmo até que o animal diminui a velocidade e se esfrega nas minhas pernas, me fazendo parar imediatamente por medo de o chutar sem querer.

- Ei... Você é amigável? - pergunto vendo o mesmo se esfregar mais algumas vezes em mim, me fazendo ajoelhar no chão. O que pareceu dar total passe para que o mesmo pulasse encima de minhas pernas, me assustando com a ação repentina.

Ele se encaixa perfeitamente em meus braços e logo consigo sentir o mesmo ronronando, o que foi capaz de tirar um sorriso meu. Eu amo gatos. Animais em geral na verdade, mas gatos e cachorros tem um lugarzinho especial em meu coração.

- Você é amigável. Sabia que você é um fofo? - digo sorrindo recebendo um miado seu em resposta.

Levantei do chão com um pouco de dificuldade já que tinha seu peso ainda encaixado em meus braços. Procurei pelo outro gato, mas não o consegui encontrar pelo cômodo. Pensei que talvez já tivesse saido correndo também.

- Você tem um nome? - pergunto olhando para aqueles olhos grandes que brilhavam tanto quanto uma constelação inteira.
Ele mia em seguida apertando minha blusa com sua pata, o que arranha um pouco minha pele, mas nada muito profundo. - Vou pensar em um nome para você, hum...

Penso um pouco e me vem um na cabeça.

- Suki, acho que Suki combina com você! - digo sorrindo, recebendo um miado arrastado em resposta, seguido por seu "carinho" em meu peito. - Acho que você também gostou.

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Beast of the FlorestOnde histórias criam vida. Descubra agora