De Volta ao Dilema das Oito Pessoas

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qualquer erro me griteeeem!!

SEIS DIAS PARA O BAILE DE PRIMAVERA

Eu não me recordo de como conheci Carolina. Acredito que a minha memória infantil começou a ter sentido e não ser somente um monte de acontecimentos embaralhados de 2016 para frente. Eu tinha uns... 12 anos? Não sei.

Antes disso, a contínua reminiscência só destaca coisas que me marcaram muito.

Ok.

Acho que eu literalmente acabei de dizer que o início da minha amizade com Carol foi algo totalmente esquecível. Mas não é isso!

Realmente me lembro de poucas coisas. E meu cérebro colocou como "a primeira vez que vi a baixinha" como algo irrelevante. Mas está lá, em algum local que mistura neurônios, sangue, encéfalo e sabe sei lá mais o que tem dentro do meu crânio.

Para falar a verdade, prefiro acreditar que meu cérebro funciona como no filme Divertidamente, e os operários jogaram algumas memórias fora para virar pó.

A minha primeira lembrança com aquele toco de amarrar jegue não foi algo considerado normal. Não, a minha primeira memória lembrada não era da gente brincando de boneca ou dividindo um sanduíche.

Foi uma em que eu e Carolina estávamos naquele brinquedo — por Deus, eu só sei esse nome para denominá-lo —, trepa-trepa. Ana caiu lá do alto e a pontinha do seu dente da frente quebrou. E minha adorável e nada inteligente cabeça de 8 anos resolveu colar ele com cola.

Sim, colar um dente com cola escolar.

Até hoje lembro com detalhes: meus joelhos doíam porque a terra tinha pedrinhas, Lina, como eu chamava na época, estava sentada numa pedra com a boca aberta e os olhos molhados. As lágrimas pendiam nos fios dos cílios e desciam sem que ela sequer percebesse. Eu, totalmente compenetrada em colocar aquele pedacinho de onde ele tinha saído, quase chorava com a mais nova.

Não deu certo. Até hoje a pontinha do dente dela está quebrada.

Outras lembranças é a da andarmos pelo pátio da escola de braços dados e na minha mente pouco calorosa de 11 anos, eu era uma princesa e Carolina minha... criada. É. Eu era meio egoísta, eu sei. Engraçado que fora dessa brincadeira, a menor sempre possuiu mais condições econômicas do que eu. Então talvez fosse uma forma de culpar ela por ter dinheiro para comprar salgado fora da escola enquanto eu só olhava.

Ela também era egoísta. Não deixava minha boca encostar em nada que a dela encostaria depois.

Hoje é engraçado de pensar assim, porque a gente divide tudo, desde garrafinha de água até picolés babados depois da aula.

E bocas também. Perdi a conta de quantas vezes beijei bocas que Carol já tinha beijado e vice-versa.

Já ela tem uma memória totalmente diferente da minha. Sempre que citado, a meio metro diz com cada detalhe como nos conhecemos. Estávamos no Fundamental II, e a sua professora tinha faltado, então minha turma acolheu a dela. Por ironia ou acaso do destino, ela se sentou ao meu lado porque eu chamei ela. Então a gente brincou com massa de modelar e eu ensinei ela a fazer um caracol com olhos, e ela me ensinou a fazer um boneco de neve, mesmo que no Brasil não nevasse.

Sinceramente... Carolina lembra de umas coisas tão... Loucas. Eu não lembro nem o que eu comi ontem, de verdade.

Hoje eu e ela temos 18 anos. E ainda que antes Lina antigamente fosse uns bons centímetros mais alta que eu, hoje é um toco de gente ao meu lado. É até engraçado.

— Deixa eu ver se entendi...— e lá está a dita cuja, que resmungou um palavrão quando uma formiga passeou sobre sua perna. Com um peteleco, o inseto voou longe. Coitada. — Você acha que a prova de matemática vai ser em dupla... E quer escorar em mim para conseguir nota? — terminou, enfiando um pirulito na boca, enquanto nos fones que dividimos, tocava uma melodia altíssima da Ariana Grande.

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