esse capítulo é tão EU que me da vontade de levar um tiro
❀ DOIS DIAS PARA O BAILE DE PRIMAVERA ❀
Paz.
Segundo muitos dicionários por aí, é definido como a ausência de problema.
Coisa que eu não tenho durante nenhum segundo da vida, em especial, nessa semana. Aí você pensa: "porra, o que aconteceu de novo?". Nada. Digo, sem contar que hoje mamãe resolveu me acordar dando uma beliscada na minha bunda e aquela professora de matemática filha de uma puta resolveu me colocar para fazer a questão no quadro, nada.
Isso é, se os pensamentos acelerados sobre inúmeras coisas não me deixassem em paz internamente.
De forma contínua, minha mente vive em um loop de Carol pedindo para ficar comigo. É como... Lembrar que para transar precisa tirar a roupa. E aí você faz uma careta, pensando naquilo. É claramente uma face do desespero interno e idêntica ao meu loop, porque, de repente, inúmeras paranoias como "eu sei beijar?", formaram uma nuvem densa e nada agradável dentro da cachola.
Engraçado que ontem, quando entrei em casa e pude ver aquele tipo de olhar acusatório da "titia Sarah" — porque provavelmente ela nos espiava pela cortina —, engoli em seco e marchei para o quarto. Não demoraria muito para o jantar, então fiz questão de deitar na cama de solteiro, petrificada.
E como a boa adolescente histérica que sou, enfiei a cara no travesseiro e gritei.
Gritei mesmo, rendida ao efeito de Carolina.
Não houve muita interação. Entre eu e ela. Porque a mais nova ficou ocupada com alguma coisa, e eu fiquei... Sem fazer nada. A ausência de fazer algo me faz pensar demais.
E agora, mais ou menos duas horas depois de eu vir para casa, suspirei fundo. Eu estava no quintal dos fundos, com o corpo apoiado na parede, pesquisando coisas sobre como cuidar de um girassol. Frederico estava ao lado, me fazendo companhia.
— Água de arroz? — perguntei, sozinha, mexendo os dedos na grama baixa. Olhei para a planta, que estava virada para frente. — Tu gosta, Frederico? Da água do arroz?
Não é como se ele fosse responder, mas eu fingi que sim.
Continuei pesquisando mais a fundo, tentando resgatar qualquer coisa que não fizesse o pequeno girassol morrer. Estou pensando também em replantar ele aqui, no chão, mas só quando ele ficar mais forte.
Apoiei a cabeça na parede, vendo alguns pop-ups de sites aleatórios aparecendo na tela. Aquele computador é da loirinha, que deixou comigo para que eu fizesse uma pesquisa sobre parasitas — já que ela é minha dupla —, mas desde então, estou aproveitando para fazer outro trabalho de geografia. Ela não liga, pelo contrário, é tão desligada que eu duvido que se aparecesse aqui e perguntasse: "o que meu notebook está fazendo aqui?".
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Fiz uma careta.
Poucos segundos depois de rolar a página sem nenhuma nova descoberta, escutei alguém batendo no portão. Franzi o cenho. Tentei buscar na memória se minha mãe tinha atrasado alguma conta e o pessoal veio cortar a luz ou água, mas foi só cravar os olhos na janela e ver Carol ali, que arregalei os olhos. Ela estava com uma sacola de supermercado e trajava shorts curtos, uma blusa branca e seu violão nas costas.
Ao abrir o portão, a menina saiu adentrando a casa, tirando o tênis. Antes que eu falasse qualquer coisa, escutei:
— O que meu notebook estava fazendo aqui? — perguntou, alto, parada na frente da lavanderia. Eu, com a cara amassada (porque, juro, não faz mais do que 30 minutos desde que acordei), quase xinguei aquela praga de 1,60 cm.
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Dilemas da Primavera
Storie d'amoreGeralmente os adolescentes da escola IDF não enxergam o Baile de Primavera como um dilema. No entanto, como a mãe de Milena Ferraz faz questão de relembrar a garota: "Você não é todo mundo". Cercada de convites pendentes e um medo irracional de dize...