O Dilema Negado - ou Ignorado

31 6 1
                                    

UMA SEMANA E UM DIA PARA O BAILE DE PRIMAVERA

Se inventassem uma máquina do tempo, eu voltaria para meus 11 anos de idade.

Em um dia qualquer, enquanto eu fazia um desenho idiota de girassol ou esfregava a cabeça das minhas duas únicas Barbies (elas estavam se beijando) no meu quarto. Eu, do Futuro, olharia para a do Passado e falaria: "Daqui seis anos, você vai pegar mulher. E vai fugir de casa com a Carol quase toda semana pra ir em festas que começam 1h da manhã".

Me conhecendo como sou, a Milena do Passado caíria no tapete do quarto desmaiada. Ou porque eu sou uma viajante do tempo ou porque pego mulher (mesmo que as Barbies meio que já incriminassem).

Dos dois, um. Menos sair para festas hás 1h da manhã.

Porque se Carol pula da ponte, eu pulo atrás.

Foi exatamente isso que Ana Carolina Moura Silveira me convenceu a fazer hoje. Confesso que no início eu não estava muito feliz ali por simplesmente estar cansada, mas ao notar que pelo menos não tinha ninguém quebrando garrafas de cerveja vazias na cabeça dos outros, fiquei mais tranquila.

É um estereótipo das festas do 2o ano B. Os alunos de lá sempre organizam encontros malucos — é sério. Até porque o representante da turma já foi pego fumando maconha (e coisas piores) dentro do banheiro masculino mais vezes que posso contar nas mãos.

Pensou que meu medo fosse de fugir de casa de madrugada, né?

Não é como se fosse a primeira vez que faço isso; meu passatempo favorito é fugir de madrugada para ir em festas, principalmente com a Carol.

E não, minha mãe nunca descobre.

Na verdade, a coroa tem um sono tão pesado que se eu chegar no meio da madrugada e ela me flagrar na sala de estar usando coturnos, jaqueta jeans e um vestido mais curto que sei lá o que, Sarah Ferraz só vai dizer: "Tá doida, menina? Sabe mijar sem quebrar a casa não?".

Então, reconhecer alguns rostos naquela multidão pequena de pessoas com certeza foi bom, porque passou um sentimento de "está tudo bem por aqui".

E confesso: a morena com mechas loiras ao meu lado sempre faz tudo ficar melhor, porque logo me ofereceu uma cerveja trincando de fria e questionou até mesmo se eu queria mais gelo no meu copo. Gelo da caixa de isopor, mais especificamente. Só ali deve ter uns cinco mil tipos de bactérias, fungos e vírus diferentes.

Mas Carolina não liga muito.

São duas da manhã e estou segurando na mão esquerda a primeira garrafa de cerveja da noite, que já está quente porque tomei só 3 goles.

Já minha melhor amiga ao meu lado, segurava um cigarro de palha, tragando e jogando a fumaça para cima.

— Cacete, tá muito quente aqui — respirou fundo, secando a testa e balançando a camiseta do A-ha que usava nesse momento. — Estou sentindo meu subaco suar! — acabei rindo, porque certamente não estou interessada em saber qual a situação que o sovaco de Carol está.

Em suma, sua frase está certa. Está muito quente. Abandonei minha jaqueta jeans nesse sofá desde que chegamos, porque o galpão que os garotos responsáveis pela festa alugaram é muito abafado. Aparentemente, quem organizou tudo notou esse pequeno contratempo tarde demais, porque agora tem uma extensão em cada canto do lugar, ligando vários ventiladores ao mesmo tempo. Ventiladores que ventilam ar quente. Vai entender.

— Quer ir lá pra fora? — perguntei, tombando a cabeça para prender meu cabelo num coque desajeitado pela vigésima vez. Ele sempre se desfaz.

— E fumar na rua? Tá maluca? Vai que chega na minha mãe... — neguei, balançando os ombros. Dei um sorriso pequeno para a mais nova, antes de responder:

Dilemas da PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora