A luz suave do amanhecer banhava a empoeirada e pequena fazenda onde Aiden despertou em sua humilde casa. As tábuas rangiam sob seus pés enquanto desciam as escadas em direção à cozinha simples.John, um fazendeiro local, estava lá, preparando um pequeno pedaço de pão com um leve sorriso. A escassez de alimentos era uma realidade na vila empobrecida, mas Aiden abraçava cada pedaço como uma dádiva._ Outro dia, outra batalha - murmurou John, passando a fatia de pão para Aiden.Aiden sorriu, encarando a vida com otimismo._ Sim, pai. Mas enquanto tivermos algo para comer e um lugar onde dormir, temos esperança, pelo menos aqui estamos longe da guerra.Apesar da fome e das dificuldades, Aiden escolheu ver a beleza nas pequenas coisas. Enquanto compartilhavam a refeição, ele falou sobre sonhos de um futuro melhor, onde a vila pudesse florescer novamente. Seus olhos cheios de esperança reconfortaram John, trazendo um lampejo de luz à casa modesta. Enquanto tomava seu café da manhã, Aiden pensava em seus afazeres, rogava para que algum Deus o ouvisse e os ajudasse com a plantação. A colheita estava cada vez mais difícil com os anos, a guerra estava destruindo cada vez mais o ambiente, e a fome se aproximava mais e mais a cada dia. Conforme estava perdido em pensamentos, não reparou nos movimentos de seu pai, que chegou de supetão ao seu lado com algo em suas mãos. _ Achou que eu tivesse esquecido, não é mesmo? – Disse o velho com um sorriso banguelo no rosto. Por um momento, Aiden olhou e reparou os detalhes no rosto de seu pai, os cabelos brancos, o rosto com diversas queimaduras do sol, a barba longa, porém rala, os dentes da frente faltando, seus olhos castanho-escuros, suas cicatrizes de guerra. Enquanto reparava em seu pai, relembrava de toda sua vida dura no campo, fugindo de diversos campos de guerra e procurando novos lugares para morar por incontáveis vezes e imaginava o quanto ele deve ter sofrido no campo de batalha, as marcas de corte em sua pele, remanescentes de lutas de espadas. _Den? Está tudo bem? – Jhon, com uma cara de preocupado, olhava para Aiden com o embrulho em suas mãos – Está se sentindo bem? _ Ah, perdão, meu pai, estou bem, só estava perdido em meus pensamentos. O que é isso? _ É seu presente de Aniversário oras, você fez 18 anos hoje – Jhon estava sorrindo novamente Aiden havia se esquecido de seu aniversário, o dia a dia era tão denso que momentos assim eram esquecidos. O trabalho no campo junto ao treinamento que recebia de seu pai, os dias dentro das florestas para caçar o almoço e todo o trabalho para conseguir fazer as plantas brotarem na terra árida assolada pela guerra. Tudo se somava em uma rotina onde momentos bons raramente aconteciam, por mais que estivesse sempre tentando se manter positivo, havia realmente esquecido do próprio aniversário. Pegou o embrulho amorfo das mãos de seu pai, tinha cerca de 5kg, e pela forma não conseguia identificar o que era. Ficou curioso, não tinha ideia do que poderia ser, então logo começou a desembrulhar. Primeiro retirou o pano e viu que dentro havia diversas palhas, colocadas realmente para alterar a forma do objeto. Ao final, viu que era um arco, o arco de seu pai, o arco com que seu pai lutou na guerra, a maior relíquia que tinha em sua família. _ Pai, é seu arco, eu não posso aceitar – Disse surpreso com a situação – Eu agradeço, mas isso é seu, não posso, eu não o mereço. Jhon colocou uma de suas mãos por cima da do jovem, olhou profundamente em seus olhos lacrimejando. _ Meu filho, tudo que eu sei, eu te ensinei, tudo que eu poderia te ensinar, você aprendeu antes mesmo de se tornar um adulto. Você é muito mais hábil do que eu jamais fui, muito mais hábil do que qualquer outro que já vi, e muito mais merecedor disso do que qualquer outro que existe. Você é meu filho, meu maior orgulho e quero que fique com meu maior bem. – Suas lágrimas já rolavam pelo rosto desenfreadamente – Quando eu tinha sua idade, esse arco já havia matado pessoas, acabado com histórias, separando amores, quebrado promessas, e eu rogo profundamente a todos os deuses que você nunca tenha que utilizá-lo para isso. Mas, caso tenha, espero que ele seja um companheiro tão bom para você quanto foi para mim. _ Obrigado Pai, não só pelo presente, mas por tudo – Aiden estava chorando com seu pai, ambos não conseguiam conter a emoção, as lagrimas carregava todo o sofrimento que sofriam desde a perda de sua mãe que Aiden nunca havia conhecido, sempre cresceu apenas ao lado de seu pai, nunca conheceu outras pessoas de sua família, nunca teve amigos, estavam sempre fugindo dos campos de guerra que se formavam próximo, buscavam uma vida de paz. Aos 18, já havia visto muita morte e muito sofrimento, e sabia que seu pai havia visto ainda mais. Essas lágrimas que rolavam em ambos desenfreadamente não só os tranquilizavam naquele momento, mas também lavavam as suas almas. Após receber o presente, Aiden o abriu e o pendurou acima de sua cama. Era uma arma incrível, uma arma imperial que, decerto, em uma loja dentro das muralhas, valeria uma quantia em ouro que daria para comprar dezenas de casas como a que morava. Após agradecer seu pai novamente, viu que havia um bolo pronto para comemorar seus 18 anos, um bolo simples de frutas silvestres, porém um ótimo bolo. Momentos assim deixavam Aiden ainda mais agradecido com sua vida. Por mais que fosse difícil, havia esperanças. Enquanto estivesse com alguém que ama, ainda poderia ser otimista, independente de onde estivesse. Sua casa é onde há pessoas esperando por ele. Naquele dia, ambos tiraram o dia de folga, ficaram o dia todo em volta da lareira, Jhon contava histórias das vezes em que tivera que utilizar o arco, contava histórias que Aiden já havia ouvido, mas amava ouvir novamente. Adorava ouvir como seus pais se conheceram em meio à guerra, e se emocionava quando ouvia que sua mãe morreu em um ato heroico para salvar ele e a seu pai. Ouvia com atenção quando seu pai salvou uma vila toda de um ataque de magos, e ria das pegadinhas que seu pai e os amigos deles pregavam no exército, a que ele mais adora é a história de quando seu pai invadiu a tenda do esquadrão de alquimia secretamente e alterou as ervas, quando foram fazer um experimento, todos os alquimistas saíram azuis, ficaram daquela forma por uma semana, e por conta disso ficaram conhecidos como o esquadrão cromático, nome que odiavam ouvir, e até hoje, mesmo que da cor normal, o nome é mantido para o esquadrão de alquimia. Ficaram conversando até o por do sol, por mais que sempre estivessem juntos, não era muito comum conversarem por tanto tempo, estavam sempre trabalhando ou caçando, quando voltavam para dentro estavam tão exaustos que dormiam quase que repentinamente, por conta disso, momento como esse eram um tanto quanto raro. Já era de manhã quando Aiden acordou com o som de panelas e cheiro de chá no ar. Seu pai havia preparado um chá de hortelã que finalmente estava pronta para a colheita. Sai de seu quarto pequeno e foi até a pequena cozinha. Cerca de quinze passos já conseguia andar toda a casa de três cômodos. Cumprimentou seu pai e sentou-se à mesa, pegou um pedaço de pão, agradeceu pelo copo de chá e tomou seu café da manhã. _ O chá está ótimo pai, estava com saudade de hortelã, faz quanto tempo mesmo? – Disse enquanto enchia um segundo copo._ Vai com calma, se beber muito vai acabar tendo que ir ao banheiro o dia todo – Jhon ria, estava alegre naquela manhã – mas fazia um bom tempo mesmo que não conseguíamos ter um resultado legal com a hortelã, a terra aparentemente melhorou, fico feliz. _ Tenho estomago de aço pai, está tudo bem – Aiden também ria, estava alegre com a alegria de seu pai. A plantação talvez daria resultados bons esse ano, teriam comida o suficiente para o inverno. _ Falando em comida, o que acha de estrear seu presente? Eu cuido do campo, você caça, vamos inverter os papéis. _ Posso mesmo? Você nunca me deixa caçar, mesmo eu sendo um melhor caçador que você – Disse Aiden com um sorriso provocativo. Sabia que era realmente um ótimo caçador, porém também sabia o motivo de sempre ser proibido de ir caçar. As presas ficavam sempre distantes, já que ficaram próximas à floresta, e normalmente, criaturas fugiam da guerra para as florestas, criando um ambiente totalmente hostil a um humano inexperiente. Por mais que já houvesse caçado com seu pai, ainda não tinha uma experiência completa, goblins, hobgoblins e demais humanoides corriam para as florestas procurando abrigo, e invadir o território de algum desses monstros, seria um perigo enorme. _ Dessa vez vou deixar, ó grande caçador, divindade da caça, filho de Átermis, parece até um semi deus – Jhon devolveu a provocação enquanto bagunçava o cabelo de seu filho, chegou perto de Aiden, e com um semblante sério disse – Vai ser a primeira vez que você vai caçar sozinho, por mais que seja bom e tenha treinamento, você não tem experiencia, mas um dia vou morrer, e não posso caçar até o fim da minha vida por você, estou com 42 anos, quase um idoso..... _ Você é um idoso, pai – Interrompeu Aiden sorrindo. _ É, então vou corrigir, sou um idoso, pai de um moleque chatão – Jhon sorriu, mas voltou a ficar sério – E eu como um idoso não posso caçar mais, estou mais lento, até você com seus olhos lentos consegue ver – Riu tão alto que sua voz grossa ecoava pela casa – E agora, esse fardo é seu meu filho, te treinei bem o bastante para saber que você vai dar conta, só por favor..._ TOMA CUIDADO – Interrompeu novamente – Eu sei, pai, desde quando aprendi a falar, o que você mais me fala é para tomar cuidado..._E tenho motivo – Interrompeu Jhon. _Eu sei, pode deixar, eu vou tomar cuidado, já viu alguém mais cuidadoso do que eu? Sou silencioso como a noite, nem um hobgoblin poderia me parar, nem mesmo um elfo correria mais rápido do que eu, vou caçar algum animal que você jamais conseguiria – Aiden não conseguia ficar sério, então sempre fazia alguma brincadeira, sabia que a caçada era perigosa, e essa era a forma que tinha para diminuir a tensão. _ Sim, sim, falei já, você deve ser um semideus, não é possível, tenho certeza de que tem asa ou algo assim – Jhon com tom de ironia respondeu, também começou a sorrir, conhecia a personalidade de brincalhão de seu filho, não conseguia manter a seriedade próximo a ele – Mas sério, por favor, se cuida. Vou ajeitar algumas coisas para você levar, decerto vai ficar uns sete dias fora, então vou preparar algumas coisas para você. Enquanto isso, pegue algumas roupas e se arrume. Em dez minutos, tudo estava pronto, o sol mal havia acabado de nascer e já estava com tudo separado para sua viagem. Alguns pães, itens de culinária, roupas e cobertas de couro, uma pequena adaga e o arco, tudo estava pronto para que Aiden partisse para sua primeira caçada solo. Ambos foram para a frente da casa, antes de se despedir Jhon olhou para seu filho, havia se passado 18 anos, parece que a ficha do tempo havia caído naquele momento, o tempo passou tão rápido, seu filho estava adulto, os cabelos pretos lisos descendo até o ombro, os olhos verdes, o corpo esguio de mais de um metro e oitenta de altura, os músculos que adquiriu durante o treinamento e o trabalho no campo, havia tornado-se um homem completo, um orgulho para um pai. _ Velho, se ficar me encarando muito com essa cara, vou achar que você não quer me deixar ir – Aiden estava aparentemente ansioso para sair, era sua primeira caçada sozinho, a ansiedade palpitava, nunca havia saído sozinho, estava contente por sair. _ Estou somente pensando no quanto você cresceu, ficou mais bonito do que eu quando tinha sua idade, maldito sangue da sua mãe, ela sempre foi mais bonita – Sorria, demonstrando o orgulho que tinha de ser pai daquele jovem. _ Não é muito difícil ser mais bonito que você, pai, já vi orcs muito mais bonitos – Gargalhava enquanto provocava novamente seu pai – Vão ser sete dias sem te ver, tem certeza de que consegue me esperar sem ir atrás de mim? _ Acho bom você voltar inteiro, e com uma boa caça, vou estar com fome quando retornar – Jhon se aproximou para abraçar seu filho – E toma cuidado, lembre-se, não vá em áreas onde tenha sinais de criaturas que não conseguem matar ou fugir, e nunca se esqueça..._ Goblins são traiçoeiros – disseram ambos em uníssono. _ Tudo bem, pai, eu vou me cuidar e vou trazer uma caça maior do que todas as outras – Aiden abraçou seu pai e saiu correndo, e ao longe, virou-se e viu seu pai olhando para ele – Volto em sete dias, prepare as panelas e o machadinho, teremos muita carne para cozinhar, te amo, pai. _ Também te amo, filho – Gritou Jhon, vendo seu filho partir pela estrada de terra pela primeira vez. Com o arco que ganhou de presente de seu pai, Aiden seguiu para sua primeira aventura sozinho, agora, como um adulto, pronto para encarar os desafios que virão.
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O LEGADO DE ELDORIA
AventuraINTRODUÇÃO No início dos tempos, quando deuses desciam à Eldoria e caminhavam entre os mortais, três entidades divinas governavam sobre o mundo: o Deus da Criação, capaz de moldar a existência com um simples pensamento; o Deus da Destruição, cujo to...