Tatuagens e cicatrizes

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Soluço não havia olhado na cara de Astrid desde o momento em que ela acordara.

O silêncio ensurdecedor entre eles começava a irritar a loira. Até mesmo Banguela conseguia sentir a tensão no ar, densa o suficiente para ser partida por um machado.

A garota olhava de longe Soluço cuidar do ferimento na asa de Tempestade. Ele havia se livrado da armadura pesada e usava uma blusa preta de mangas curtas, revelando braços cobertos por tatuagens que Astrid ainda não tinha tido a chance de ver. Além disso o garoto havia prendido os cabelos escuros em um pequeno rabo de cavalo atrás da cabeça. Ela o viu soltar o penteado enquanto andava em sua direção, a encarando pela primeira vez naquele dia:

- Boa notícia, loirinha. Tempestade está melhorando rápido. Então não vai demorar muito para nos livrarmos um do outro.

Astrid, arregalou os olhos, sendo despertada de seus devaneios. Não sabia se havia se surpreendido mais com o garoto finalmente falando alguma coisa ou com o apelido novo. Sem saber o quê responder àquilo, a viking permaneceu calada.

Soluço se jogou na grama, apoiando a cabeça em uma pedra. Astrid o encarava enquanto ele colocava o antebraço em cima dos olhos para não ser incomodado pela luz do Sol:

- Você vai ficar aí me olhando?

Astrid corou envergonhada. Como ele sabia que eu estava olhando? Ela desviou o rosto rapidamente e os dois voltaram a ficar em completo e desconfortável silêncio.

Alguns longos minutos se passaram até Astrid decidir que não aguentava mais a calmaria da falta de barulho. O silêncio era tão alto que ela se sentiu na necessidade de iniciar um diálogo, mesmo que ele fosse o mais inútil possível.

Astrid sempre odiara conversas sem sentido que levavam a lugar nenhum. Eram uma perda de tempo. Mas o desconforto era tanto que sua pele começava a coçar e seus dedos a ficarem inquietos. Ela olhou ao redor procurando por um tema para a conversa urgente, até que seus olhos se voltaram para o garoto deitado ao lado:

- Qual o significado delas?

Soluço tirou o antebraço de cima do rosto tão rápido quanto Astrid fizera a pergunta. Ele demorou para entender o que ela havia dito e demorou mais ainda para entender do quê ela estava falando.

Até ele olhar para o próprio braço coberto por tatuagens:

- Ah...bem essa aqui é um dragão... - ele apontou para uma tatuagem no braço esquerdo, levantando um pouco a manga da camiseta - ...eu fiz ela porque...bem...eu gosto de dragões. Essas aqui são para coragem e proteção...- ele apontou para dois símbolos nórdicos tatuados na parte de dentro do antebraço - ...e essa eu fiz pro Banguela. - ele levantou a manga direita revelando o ombro coberto pela cabeça de um Fúria da Noite. Era um desenho simples mas inconfundível. Identico ao que ele tinha na armadura:

- E eu tenho mais algumas por aí.

Ele disse dando de ombros enquanto se deitava novamente, colocando as mãos atrás da cabeça.

Astrid entendeu que a conversa morrera ali, deixando-a ainda mais constrangida do que antes. O silêncio voltou a reinar e ela não viu outra solução a não ser fazer a mesma coisa que o garoto. Então ela fechou os olhos e dormiu.

O céu estava escuro quando Astrid abriu os olhos novamente. Havia uma fogueira já acesa à sua frente e um prato improvisado feito com um pedaço de tronco de árvore com uma fatia de algo que ela acreditava ser carne de iaque ao seu lado. A garota não havia percebido o quanto estava com fome até ver a comida.

Dragon Soul ( Como Treinar seu Dragão)Onde histórias criam vida. Descubra agora