Young Hare

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Entrei na cripta abafada, sendo recebida pelo odor de tinta fresca. Jane e Will agora estavam sem o andaime, iniciando a restauração de uma das paredes que contava sobre o apocalipse. Haviam se passado um mês desde que chegamos em Anagni. Jane e Will trabalhavam incessantemente na restauração.

Durante esse tempo, como já havia feito bastantes fotos do processo deles, resolvi ficar uns dias vasculhando a pequena cidade para fotografar seu fluxo diário e suas belezas. Minha ideia seria retratar, também, a importância da cidade para a história da Itália e do cristianismo.

"Buongiorno." - pude deduzir que a morena sorria por baixo da máscara, por conta de os cantinhos dos olhos terem repuxado.

"Bom dia, gatinha." - Will e eu acabamos criando uma grande amizade.

Identificamos vários gostos em comum e nossa sede por fofoca nos uniu por diversos momentos durante o expediente. Uma delas foi a afirmação de Byers sobre Enrico ser "tchola", como ele mesmo nomeou. 

"Bom dia, Max." - voltou a olhar para o mural que pintava - "Faz alguns dias que não a vejo."

"Fui conhecer um pouco mais da cidade por esses dias." - estalei a língua no céu da boca. - "Tenho uma proposta para os dois queridos."

"Infelizmente, não tenho autorização do meu namorado para fazer ménage à trois." - gargalhei e Jane arregalou os olhos, dando uma cotovelada no amigo.

"Por mais que eu quisesse muito fazer um ménage com vocês, não era isso. Pensei em irmos para Roma esse final de semana. Hoje é sexta, podemos sair assim que terminarmos que vamos chegar lá no máximo meia noite."

"Super topo." - Will deu pulinhos de alegria.

Hopper ponderou por alguns bons minutos antes de concordar.

"Certo! Então vou preparar minhas coisas e o carro enquanto vocês finalizam aí."

[...]

A noite estava um pouco fria, o que me fez fechar o teto do conversível. No rádio, tocava Don't Matter do Kings Of Leon para me manter acordada.

Dirigir a noite em autoestrada poderia ser um sonífero dos mais fortes. Olhar fixamente para a faixa reflexiva se movendo a minha frente e as vegetações passando vagarosamente ao redor, fazia minhas pálpebras pesarem mais a cada minuto. Tomei mais um gole do energético que havia comprado para a viagem, por saber que estaria cansada para dirigir.

Will dormia todo esparramado, ocupando todo o banco traseiro; enquanto Jane dormia no banco ao meu lado, com a cabeça encostada na janela.

Fiquei alguns segundos observando a morena dormir serenamente ao meu lado, com a cascata castanha espalhada em padrões confusos pelo encosto do banco. Vez ou outra, franzia o cenho resmungando num sussurro quase inaudível de algum pesadelo que estava tendo.

Apertei mais forte o volante quando senti meu coração acelerar, mas não por conta do energético. A música Run Right Back do The Black Keys começou a tocar, embalando minha tortura.

"Ela é a pior coisa em que já estive viciado" - cantarolei o trecho da música.

Com certeza não era a pior coisa, mas estava viciada nela; e era assustador!

Um vulto negro com duas bolinhas amarelas brilhantes surgiu na pista fazendo com que eu me assustasse e freasse bruscamente, não impedindo o carro de se chocar com o bichinho. Will acordou dando uma cabeçada no encosto do banco da frente, e Jane despertou assustada com o solavanco.

"Porra!" - senti meu corpo gelar com o susto. - "Desculpa, desculpa."

Soltei o cinto de segurança e saí do carro com um certo desespero. A última coisa que queria, era atropelar qualquer bichinho silvestre. Jane também desceu do carro e parou ao meu lado, agachando-se para ver.

Reintegração Cromática; ElmaxOnde histórias criam vida. Descubra agora