La trahison des images

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Estava de frente para o fogão nesta quinta-feira a noite, preparando o jantar que havia prometido aos meus amigos. Nancy Wheeler estava arrumando a mesa de jantar, enquanto sua esposa Robin Buckley estava futricando a vitrola antiga sobre meu aparador. 

"Robin, dá para vir aqui me ajudar?" - Nancy ralhou com a esposa. 

"Calma, amor. Estou só procurando o disco perfeito..." - com um toque delicado, Robin ajustou o braço da vitrola em cima do vinil preto, que ressoou os primeiros acordes de Sultans Of Swing da banda Dire Straits. 

Robin se aproximou de Nancy mexendo a cabeça no ritmo da música e tocando uma guitarra imaginária. A loira pegou as mãos da esposa nas suas e começou a balançá-la em uma dança desengonçada por conta da resistência de Nancy. Se rendendo ao gingado da esposa, Nancy começou a rir enquanto a acompanhava. 

Era uma cena muito fofa, confesso. 

Passei tempo demais as observando e ensaiando na minha mente uma troca tão genuína assim com outra pessoa, que só me dei conta de que o alho para temperar o arroz estava queimando quando o cheiro forte invadiu o apartamento. 

"Tem coisa queimando Maxine!" - Steve Harrington vinha da despensa com alguns sousplats nas mãos. 

"Já está tudo sob controle!" - remexi a panela esperando poder aproveitar o alho torrado. 

Com ajuda de uma luva de silicone, tirei a travessa de vidro com salmão do forno e coloquei sobre a bancada da ilha. O cheiro estava incrível. 

Steve, Robin e eu nos conhecemos assim que me mudei para Manhattan. Tinha acabado de entrar na faculdade e tive uma aula magna sobre nosso curso com alunos recém formados; Robin falando sobre seu novo emprego de fotógrafa documentarista na Nat Geo, e Steve sobre a coluna de esportes que escrevia para o The Guardian. No fim da aula, procurei Robin expressando minha vontade de ser fotojornalista e que me via em tal revista no futuro. Steve, que já era amigo de Robin pois haviam sido da mesma turma, também se prontificou a ser meu mentor junto da loira. E assim nasceu nossa grande amizade. 

Os tinha como irmãos mais velhos.

Robin conheceu Nancy poucos anos depois, em uma conferência de jornalismo em Chicago. A redatora júnior do The New York Times se apaixonou no momento em que pôs os olhos em minha mentora, e hoje, chefe. 

"Max, espero que não se incomode que eu tenha convidado o meu irmão e o namorado. Mike parece estar com problemas entre o namorado e os amigos nojentos dele, então pensei que um programa diferente pudesse ser legal para ambos. Mas agora me arrependi porque Mike avisou que irão trazer uma amiga deles que iria ficar só." - Nancy digitava algo no celular. 

"Sem problemas Nancy, sabe que eu adoro ter a casa cheia!" 

"Ótimo, porque eles já estão aqui na portaria e não pude dizer não." - Robin foi até o interfone de parede e apertou a tecla que dava acesso ao hall do meu prédio. 

Poucos minutos se passaram, até que a campainha tocasse. Joguei o pano de prato que usava para segurar a alça da panela nos ombros e fui até a porta. O barulho de patinhas agitadas estalava pelo piso de madeira, indicando que Banguela e Encardido vieram atrás receber os convidados com muitos cheirinhos e lambidas. 

"Meninos, por favor, se comportem! E Banguela, nada de cheirar a bunda dos convidados." 

Apertei um pequeno botão cinza que destravava a fechadura eletrônica. Uma surpresa tomou meu corpo, me incapacitando de dizer qualquer coisa. 

Mike sorria contente, de mãos dadas com William Byers e ao lado do casal, nada menos do que Jane Hopper. 

"Quantas vezes o universo pode fazer coisas desse tipo?" - brinquei, não conseguindo esconder a felicidade ao ver a mulher que estava sempre rondando minha mente. 

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⏰ Última atualização: Mar 01 ⏰

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