[25] Patty Brown é assim mesmo

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Alicia Brown

Meu corpo inteiro pareceu congelar ao ouvir aquela voz. Não porque eu a odiava, ou a temia. Eu nem sequer a achava a pior mãe do mundo, mas o fato de ela ter aparecido justamente quando as coisas entre mim e Christopher começaram a andar, parecia um sinal do universo.

Patricia, ou Patty Brown não era o tipo de mãe que faz questão de estar presente ou que acompanha, ainda que de longe, cada passo do filho. Minha mãe sempre pareceu estar vivendo em outro mundo, sempre parecia distante, perdida em suas fantasias sobre a vida que poderia ter tido caso não tivesse engravidado precocemente e ficado presa a uma responsabilidade com a qual ela não tinha capacidade de lidar. Não, Patty não era o tipo de mãe que fazia chantagem emocional ou me culpava pelo seu futuro falido. Ela apenas não tinha nascido para ser mãe e, agora que era, não sabia como fazer isso. Jamais poderia culpá-la por não ter instinto materno, mas a culpo por não ter tentado mais.

— Oi, mãe. - Respondi sem conseguir disfarçar o desconforto com a ligação.

Pude sentir o corpo de Christopher ficando tenso ao meu lado. Ele era o único que sabia em detalhes como minha vida costumava ser quando ainda morava com ela.

— Não precisa ficar tão surpresa. Eu sou sua mãe.

— Ficaria menos surpresa se você me ligasse com mais frequência.

Chegava a ser irônico ouvir seu tom de voz ofendido. Como um pai pode se impressionar com as reações do filho, quando elas correspondem perfeitamente à maneira como foram tratados?

Minha mãe me ligava no máximo três vezes por ano, bem separadas entre si. Uma no começo, uma no meio e a outra no fim do ano. Aquela devia ser a do começo, considerando que já era fevereiro e ela ainda não havia me ligado.

— Você também pode me ligar mais vezes, se quiser. - Disse sem muita convicção.

Até parece. Patty Brown só queria tirar o dela da reta, cumprir com suas obrigações mínimas e seguir seu dia.

— E então, tudo bem, mãe? - Perguntei, tentando encurtar a conversa.

A esse ponto, Christopher já estava bem acordado e curioso, me observando com o cenho franzido. Sendo sincera, eu sentia certa vergonha com ele ali, presenciando aquele diálogo frio e falso, quando a família dele era cheia de amor e preocupação.

— Tudo bem, sim. E com você?

Reviro os olhos e inspirei impaciente com a enrolação.

— Tudo, sim. - Respondi de maneira breve para que ela dissesse finalmente o que quer dizer.

— Que bom. Então, gostaria de te convidar para passar as férias de primavera aqui, em casa. O Mike quer te conhecer.

Não conhecia nenhum Mike, mas não precisava ser algum gênio para imaginar que era seu novo namorado.

— Ah, legal, mãe. Obrigada pelo convite, mas acho que vou passar as férias na casa do Chris. - Disse, sentindo a mão do garoto acariciando minha perna de forma reconfortante, me oferecendo suporte.

— Ah, sim. Como ele está? - Questionou, trocando de assunto. Para ela era um alívio saber que eu já tinha outro lugar para ir e ela provavelmente já esperava por aquilo. Havia sido assim nos últimos cinco ou seis anos.

— Está bem. Muito bem. - Afirmei sem citar que estávamos juntos agora.

— Que bom. E você não tem novidades? Não está namorando?

Até onde eu sabia, era bem possível que ela tivesse algum livro com uma lista de perguntas padrão para se fazer a uma filha com a qual nunca interagia.

Cupido Reverso [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora