[16] Todo mundo ama Crystal Banks - Pt. 2

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Alicia Brown

Assim que Jess voltou para o quarto, cheirosa e mais sóbria, eu fiz questão de fechar os olhos e fingir que estava em um sono profundo. Não tinha coragem de falar com ela sobre o que havia descoberto. Eu mesma precisava processar a informação primeiro. Minha colega de quarto e amiga era platonicamente apaixonada pela garota com a qual Christopher, meu melhor amigo, estava saindo. E a pior parte em tudo isso é que fazia sentido. Jessie era apaixonada por música e, ainda que não fosse sua área específica de estudo, ela estava sempre agarrada na guitarra tocando, cantando e até compondo alguma coisa em seu tempo livre. Ela ia a todos os concertos da universidade e sempre participava dos eventos musicais. Era óbvio que, em algum desses momentos, Crystal tinha chamado sua atenção com o talento, carisma e beleza inerentes a ela. E então todas suas esperanças foram destruídas quando provavelmente viu a garota de seus sonhos espalhando felicidade campus afora ao lado do Chris.

Meu coração doía por ela. Jessie não era do tipo de garota que vivia se apaixonando ou saindo com várias pessoas. Ela era muito seletiva em suas companhias amorosas justamente por estar envolvida em uns trezentos grupos de cunho revolucionário da faculdade. Nem todo mundo era tão envolvido como ela, então Jess se preservava muito. Mas ali estava mais um exemplo claro de que ninguém manda nos assuntos do coração.

Durante os dois dias seguintes, evitei ao máximo conversas muito profundas com minha colega de quarto. Me ocupei com os trabalhos e nem ao menos citei novamente aquele que desenvolveríamos juntas. Eu não conseguia olhar para ela sabendo de um segredo do qual não devia ter conhecimento e, para melhorar, mal podia ficar ao redor de Christopher com ele todo cheio de planos com a Banks. Era só esquisito vê-lo saindo com alguém para valer. Mas não pude evitar quando a noite de quarta-feira chegou e, com ela, o maldito cinema para o qual eu havia impulsivamente me convidado. Estava tão transtornada com tudo aquilo que acabava não tendo cabeça para flertar com Andrew, respondendo suas mensagens apenas vagamente e adiando qualquer compromisso com ele.

Quando cheguei à bilheteria e comprei meu ingresso, avistei o casal feliz próximo aos pôsteres dos filmes. Respirei fundo, torcendo para aquilo acabar o quanto antes, e fui até eles.

— Mas esse cara precisava ser tão alto assim? - Chris questionava, encarando a foto do ator que interpretava Adam Carlsen no filme.

— Se você visse de quantas maneiras diferentes a protagonista descreve a altura dele no livro, não se impressionaria. - Crystal respondeu, se divertindo com a surpresa dele.

— Como se você fosse algum homem prejudicado verticalmente. - Falei, pulando os "olás", e sendo obrigada a olhar para cima, como sempre. Chris tinha no mínimo 1,85m de altura.

— Ela sempre se ofende por ser um mini projeto de ser humano. - Christopher fingiu sussurar para Crystal a meu respeito, com uma expressão debochada. Dei-lhe um soco no braço.

Claro, para eles aquilo devia ser bem engraçado. Ele do tamanho de uma porta, ela com no máximo uns 10 centímetros a menos, e eu vendo tudo do nível do chão com meus gloriosos 1,65m. Éramos uma escadinha ambulante na qual eu representava o primeiro degrau.

— Então, vamos entrar? — Sugeri. — Antes que eu sofra mais ofensas aqui.

— Claro. Pegamos pipoca e refri. - Crystal disse, mostrando o balde de pipoca amanteigada em suas mãos.

— Não se preocupe, Ali, eu peguei Snickers pra você. - Chris garantiu com aquela cara condescendente dele. Seu cabelo estava penteado para trás, mas algumas mechas ainda lhe caíam por sobre os olhos de uma forma charmosa. Além disso, estava vestindo uma camiseta branca por baixo do casaco jeans que o dava ares de James Dean.

— Meu herói. - Falei e fui entrando na sala de cinema, tentando afastar aqueles pensamentos rapidamente.

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Eu não queria admitir que aquela noite pudesse ser agradável, mas o filme estava incrível! Todos os atores eram perfeitos para seus papéis e muito parecidos com o que eu havia imaginado lendo. Além disso, eu e Crystal, que havíamos ficados nas cadeiras laterais de Christopher, comentávamos o tempo todo sobre as cenas e nossas expectativas, e era de fato divertido observar Christopher revirando os olhos com nossos surtos em relação às cenas românticas entre os protagonistas. Era difícil mesmo não gostar da Banks, mas é claro que eu não podia evitar tossir de maneira exagerada quando as mãos deles se aproximavam, ou simplesmente derrubar pipoca no colo de Chris sem querer quando os olhares deles duravam mais que três segundos.

Porém, o clima ficou realmente denso quando a única cena de sexo do filme inteiro começou. Era um momento sensual, ardente e muito íntimo entre aqueles personagens que vinham criando uma relação de cumplicidade acidental ao longo da história, e a cada... movimento deles, eu lembrava instantaneamente da noite que tivemos. Quando os personagens faziam algo que havíamos feito, eu me mexia na cadeira, desconfortável e com o coração descompassado, e... opa. Podia ouvir Christopher pigarreando ao meu lado, tão nervoso quanto eu. E no momento em que a protagonista disse que nunca havia imaginado que sexo podia ser tão bom até ter encontrado aquele cara, eu não pude evitar olhar de soslaio para o garoto ao meu lado. Era exatamente o pensamento que eu havia tido naquela noite. Nunca havia sido tão bom. E para minha surpresa, ele também me olhava de cima, com seus olhos verdes escondendo um tipo de voracidade que eu só havia visto uma vez até então.

Sentindo o rubor em minhas bochechas, respirei fundo e me ajeitei na cadeira, tentando afastar aquele pensamento. Peguei minha barrinha de Snickers e foquei apenas no sabor do melhor chocolate do mundo até que aquela cena de fato acabasse. Meu corpo só parou de tremer quando um dos melhores amigos da protagonista apareceu. Ele era um visível alívio cômico com suas milhões de paixões frustradas e protagonizava uma das melhores cenas, na qual pedia para a amiga adivinhar com quem ele havia ficado, e ela citava uma dúzia de homens e mulheres até acertar.

— É incrível que essa história tenha um personagem bissexual tão livre e confiante como o Malcolm. - Crystal cochichou por cima de Christopher para mim. — Nós dificilmente somos bem representados.

Opa.

Calma lá.

Opa.

Nós? Nós, bissexuais? Nós, pessoas que gostam de meninos e meninas?

— Não sabia que você era ativista. - Foi a primeira coisa que consegui pensar.

— É, quando se faz parte da bandeira, fica impossível não levantá-la. - Ela disse, me lançando uma piscadela corajosa.

E finalmente o universo me enviava um sinal positivo.

Crystal Banks, a menina dos olhos da minha colega de quarto, a qual ela imaginava ser hétero só porque estava saindo com um garoto, era abertamente bissexual e ainda por cima se preocupava com a causa, tal qual Jessie Holmes.

Era simplesmente a oportunidade perfeita para mim, era matar dois coelhos com uma cajadada só: podia juntar as duas garotas em um lindo romance sáfico e ainda afastar Crystal do Perry porque eu ainda possuía a plena convicção de que aqueles dois não combinavam em nada.

O plano "Cryssie" (Crystal + Jessie) estava oficialmente lançado. 

Eu não vou nem comentar

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Eu não vou nem comentar. Vai que a loucura da Alicia é contagiante. 

E, sim, gente! Eu estou lançando pro universo a ideia de que "A Hipótese do Amor" ainda vá ganhar uma adaptação pro cinema. Esse livro é tudo pra mim hahahahua 

Cupido Reverso [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora