[23] Velas, vinho e veludo

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Christopher Perry

Assim que abri os olhos e percebi que era segunda-feira, fui tomado por uma enxurrada de sentimentos divergentes: era a última semana de aulas antes do Spring Break, era minha primeira semana de namoro com Alicia, eu precisava entregar todas as minhas pendências acadêmicas até a sexta-feira e trabalhar com o ex-ficante da minha namorada que ainda não sabia que tinha sido chutado por minha causa. Empolgação, ansiedade, preocupação, alegria, medo... Havia um pouco de tudo dentro de mim naquela manhã abafada e chuvosa, completamente oposta ao domingo ensolarado e refrescante do dia anterior.

Domingo. O dia em que planejei o nosso primeiro encontro e passei a manhã toda fazendo mais planos e a beijando, como se não existisse nada além daquilo. Agora eu finalmente entendia por que pessoas apaixonadas eram sempre tão ridículas: elas não conseguem evitar. A sensação de ter encontrado a pessoa com a qual você quer fazer milhares de planos e beijar para o resto da vida te deixa meio maluco mesmo. E idiota.

Quando levantei e peguei o celular, dei de cara com uma mensagem da Ali, de alguns minutos atrás.

"Falei com Andrew e terminei tudo. Boa sorte no trabalho hoje, meu lindo."

Eu sabia que existia certo sarcasmo naquele desejo de boa sorte, mas não pude deixar de sorrir ao ler o apelido pelo qual me chamara.

"Se eu sair de lá desempregado, você paga o próximo encontro.

Ninguém mandou beijar meu chefe."

Ela então respondeu com uma sequência gigantesca de letras K, achando a maior graça do meu comentário.

"Que homem vingativo. Muito sexy."

Senti meu corpo inteiro se arrepiando e só notei que mordia o lábio inferior quando ele começou a latejar.

Alicia devia ter mais cuidado ao flertar comigo assim. Já estava sendo difícil o suficiente controlar meus instintos de agarrá-la e trancá-la em um quarto comigo por algumas horas. Apesar dos meus desejos, queria demonstrar que sexo não era a única razão para querer estar com ela. Sabia que ela estava muito insegura com nossa relação se tornando maior e que havia ficado nervosa com a ideia de ser apresentada a meus pais como namorada, mas a ideia deste encontro era justamente mostrar a ela quão sério eu estava falando sobre ter certeza. Nós ficaríamos juntos.

Contrariado, me arrumei, peguei meu material e caminhei até o departamento de Língua Inglesa, tentando parecer determinado, mas realmente ansioso com aquela situação toda. Nunca havia tido a necessidade de lidar com muitos confrontos ao longo da minha vida e aquele parecia um dos grandes.

Cheguei à sala de Andrew pontualmente, sentindo minhas mãos suarem. Limpei-as nas calças e bati à porta entreaberta. O homem levantou o olhar, antes concentrado, e me fitou. Havia uma mistura de decepção e admiração nos olhos castanhos.

— Bom dia, Christopher. Pode entrar. - Seu tom de voz era distante.

— Bom dia, professor Byrnes. - Segui até uma das poltronas estofadas.

— Nesta semana, precisarei de seu auxílio para finalizar as correções da segunda chamada dos testes. Devemos entregá-las até a quinta-feira no máximo. - Ele falou, entregando-me uma pasta pesada, repleta de folhas. — Depois, registraremos as notas no sistema.

— Certo. - Assenti, constrangido pela frieza de sua voz. — Professor Byrnes, eu gostaria de falar com o senhor sobre...

— Não é necessário. - Ele me cortou sem tirar os olhos da tela do computador. — Você é um bom escritor e um bom assistente, e eu sou um bom profissional, apesar de quase ter-me esquecido disso ao pedir-lhe todas aquelas informações sobre Alicia. - Ele falou, e então eu percebi que a decepção em seu olhar era com ele mesmo. — Eu devia ter percebido. - Disse e soltou um riso abafado, quase irônico. — Gostaria de pedir-lhe para esquecer esse assunto durante nossas manhãs de trabalho. Não é necessário remoer essa situação.

Cupido Reverso [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora