[02] Como irmãos

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Alicia Brown.

- E então, Ali, como foi o encontro? - Briana escorou os cotovelos na bancada principal da biblioteca, me fitando atentamente. Muitas vezes ela nem precisava de livro algum, mas vinha de qualquer jeito para matar sua sede por fofocas.

- Um fracasso total. Mais um esquisito para a conta. - Respondi sem tirar os olhos do monitor à minha frente, registrando alguns novos títulos no sistema. - E você e o Ryan? Farão o que hoje? - Indaguei.

- Ai... - suspirou, pensativa. - Ele está fazendo um grande suspense neste ano, mas acredito que iremos a um restaurante francês sobre o qual sempre comento. Ontem à noite ele me enviou um trecho de Meia-noite em Paris no instagram, então acho que foi uma pista. - Sorriu, ansiosa. Briana, seus cabelos loiros encaracolados e seu sorriso gigantesco eram a combinação mais angelical possível para uma garota possuir, e como se não bastasse, sua personalidade também era uma doçura. Estudante de Artes Plásticas, ela ainda era bastante talentosa e namorava um dos caras mais clichês da história: alto, bonito e entrou com bolsa de estudos por ser jogador de futebol. Quando eu olhava para eles, estava vendo automaticamente uma comédia romântica dos anos 2000.

- Aproveitem, sortudos. - Sorri de canto, feliz por ver alguém feliz.

- Você sabe que não é sorte. É esforço mútuo. - Ela me encarou com seu olhar baixo, repreensivo. - Não tem como dar certo se você vai embora na primeira oportunidade.

- Não são os caras certos, vou fazer o quê? - Dei de ombros, me defendendo. - Parece que hoje todo mundo decidiu me dar conselhos amorosos. Primeiro o Christopher, agora você... - Bufei.

- Ah, falando nele, ainda está solteiro? Minha colega tem uma queda pelo seu amigo. - Sussurrou, se aproximando. Eu assenti. Christopher estava sempre solteiro.

- Quem é? - Perguntei, semicerrando as sobrancelhas.

- A Crystal. Olha. - Informou e me apontou a tela do seu celular, mostrando a foto de uma ruiva elegante segurando um livro de capa dura. Edgar Allan Poe. O Chris adorava Poe, com certeza teria assunto com ela. Além disso, o casal teria um daqueles apelidos fofos como Chris & Crys. Mas enquanto pensava sobre aquilo, algo ardeu em meu peito. Senti que aquela garota talvez não fosse ideal para meu bobão e sensível amigo Christopher. - Linda, não é?

- É, claro... mas acho que ela e Christopher não se dariam bem, sabe. Essa gente louca por livros sempre acaba entrando em longas discussões e as coisas ficam acaloradas. Fora isso, ela parece uma femme fatale, e fala sério, o Chris não sabe lidar com mulheres assim. As habilidades sociais dele pararam de se desenvolver aos 12 anos de idade, no máximo. - Justifiquei.

- Eu acho um amor como vocês dois se protegem, mas sabe de uma coisa, Ali? Não pode colocá-lo debaixo da sua asinha para sempre, ele já é um homem e não seu irmãozinho do ensino médio. - Ela disse de maneira empática, mas dentro de mim aquilo desceu como um banquete de pedras. É claro que ele era um homem, eu não o via mais como o garotinho atrapalhado da escola há muito tempo. Mas se éramos amigos, e dos bons, por que o pensamento de me ver como irmã dele me deixava tão furiosa?

 Mas se éramos amigos, e dos bons, por que o pensamento de me ver como irmã dele me deixava tão furiosa?

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