[18] Aquele em que eles dormem na mesma cama

275 48 30
                                    

Alicia Brown

Acordei no meio da manhã com o sol batendo em meu rosto e minha cabeça latejando levemente. Eu e meu maldito costume de deixar as janelas abertas. Desta vez, não me sentia tão mal quanto em várias anteriores; era apenas uma leve tontura que poderia ser resolvida com um comprimido e muita água. Minha resistência para bebidas alcoólicas sempre foi deplorável: eu bebia menos da metade do que Chris bebia e ficava completamente doida. Foi quando tive esse pensamento que reparei no peitoral bem definido e descamisado que estava abaixo da minha cabeça e da minha mão.

Com certo receio de encontrar algum rosto desconhecido, ou pior, conhecido e odiado, fui levantando a cabeça lentamente, mas nem precisei chegar muito longe para reconhecer o cheiro daquela pele. Perfume amadeirado com notas de café.

Puta merda.

Antes de reagir ao que estava acontecendo ou até mesmo acordá-lo, decidi puxar pela memória os eventos da noite passada: nós jogamos beerpong, eu dei um beijo no Christopher que jamais deveria ter acontecido mas que não consegui evitar porque ele ficava tão bonito todo orgulhoso, e depois me esforcei para agir como se aquilo jamais houvesse acontecido, mas aí comecei a me declarar para ele no meio do jantar e decidi beber mais para parar de falar merda. E então, um breu completo.

A certeza de que havíamos cedido aos nossos desejos já estava instaurada em mim, mas ainda assim decidi checar nossas roupas e, para minha surpresa, eu estava praticamente vestida. Meu suéter e sutiã estavam intactos, e da mesma maneira minha calcinha. Apenas as calças haviam sido retiradas, até porque eu nunca durmo de calça. Quanto a Christopher, estava apenas sem camisa. Aquilo não tinha energia de sexo.

De repente, o corpo abaixo de mim começou a se mover e suspirar.

— Bom dia, doidinha. - A voz grave e sonolenta de Chris me causou uma onda de arrepios.

Virei-me para encará-lo e dei de cara com seu sorriso debochado.

— Chris, a gente por acaso...? - Indaguei, preocupada, sem conseguir terminar a pergunta.

— Ah, sim, a gente transou como loucos. Foi uma gritaria só. Tinha gente batendo na porta, implorando para parar, e você só respondia "Não vou parar porque o Christopher Perry é o homem mais gostoso dessa universidade." - Ele encenava cada palavra, com os olhos semicerrados, e eu já não aguentava mais segurar a risada. Explodi em uma gargalhada aliviada.

— Tá bem, já entendi. - Falei para que ele finalizasse os relatos da nossa transa falsa. — Mas se nada aconteceu, por que a gente dormiu assim? - Perguntei, apontando para nós dois.

— Você estava muito bêbada, para a surpresa de ninguém, e pediu para que eu ficasse aqui por essa noite. Aí você tirou as calças do nada e se deitou, e com estes trezentos quilos de cobertor, eu fui obrigado a tirar minha camisa para não derreter. - Ele explicou, com uma expressão complacente.

— É perturbador como isso faz sentido. - Conclui ao final.

— Viu? Tudo sob controle. - Garantiu quase revirando os olhos com a minha preocupação. — Então, acho que vou voltar ao meu dormitório para continuar dormindo o resto do dia. Não se pode desperdiçar horas de sono aqui. - Disse, fazendo menção de se levantar, ao que empurrei-o levemente de volta para a cama.

— Você pode continuar dormindo aqui. - Sugeri, automaticamente me arrependendo. O meu talento para jogar o plano "apenas amigos" pelo ralo era impressionante.

— Aqui, com você? - Ele se certificou.

— É, assim a gente se mantém... aquecido. - Falei e abaixei a cabeça, fazendo uma careta de vergonha. Que tipo de frase era aquela?

Cupido Reverso [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora