Oi, sol

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A manhã tinha começado um pouco mais cedo naquela sexta-feira para Gleisi e Lindbergh. Os dois tinham um compromisso pessoal em São Paulo e, por isso, acabaram se desentendendo logo cedo. Ele achava que os dois não deveriam ir, que era melhor permanecerem em Brasília.

- Lindbergh, o nosso voo já tá marcado, as passagens compradas, seja razoável!

- Eu tô sendo, Gleisi! Tentando dizer pra gente não ir, a gente diz que não deu, que dessa vez não foi possível, os nossos amigos vão entender.

- Os nossos amigos podem até entender, mas quem não está entendendo sou eu! Por que essa resistência em viajar?

- E se você passar mal, Gleisi? E se acontecer alguma coisa por causa do voo?

- Lindbergh, eu vou falar só uma vez e eu espero que você me escute muito bem. Eu não vou deixar de fazer nada que eu tenha que fazer porque eu descobri uma gravidez que...

- Por favor, não continua essa frase – ele interferiu e ela se calou antes que dissesse algo de que, com toda certeza, se arrependeria segundos depois.

Farias tentou argumentar. Hoffmann não quis ouvir. Ela deu as costas para ele e foi tomar banho, ainda precisava arrumar suas coisas antes de seguir para o aeroporto. Tinha apenas entrado debaixo do chuveiro, com a água fria, quando ouviu o box sendo aberto e, em seguida, as mãos do namorado a envolviam.

Gleisi tentou manter as emoções sob controle, mas não conseguiu. Agarrou-se ao corpo de Lindbergh e escondeu o rosto no peito dele, chorando pelo que tinha pensado, pelo medo que a visitava outra vez. Ele fechou o chuveiro, ficou com ela nos braços, manteve-a perto, as mãos inquietas sempre fazendo carinho.

- Me perdoa, eu sei que não posso... – o deputado tentou falar, mas as palavras não saíam.

- Me desculpa também... – a presidenta do PT falou baixinho, a mão esquerda sobre o peito dele, em cima do coração.

- Você tá se sentindo bem pra viajar?

- Eu tô bem...

- A gente não devia discutir assim... às vezes eu acho que vou ter um troço até terça-feira chegar – ele se permitiu dizer.

- Eu queria ter... mais certezas pra te dar, mas eu não tenho, Lind. Tudo isso ainda é muito confuso pra mim. E te confesso que... deixa.

- Não, Gleisi, fala. Conversa comigo, por favor – ele pediu e ela respirou fundo.

- Eu dei graças a Deus que a gente tinha essa viagem, esse convite pra ir a São Paulo. Queria me distrair um pouco, sair um pouco de dentro da minha cabeça – ela despejou.

- Eu não posso dizer que sei como você tá se sentindo, seria muita pretensão minha, mas, Gleisi, eu tô aqui. Você não tá sozinha. Mesmo que você ache que não faz sentido, o que cê quiser falar, eu vou ouvir, meu amor...

- É tanta coisa ao mesmo tempo, Lind, a nossa vida já é tão complicada, a gente já é um alvo todos os dias, tantos ataques... imagina... imagina trazer uma criança pra esse caos? Como que vai ser se... – Gleisi sentiu uma pequena onda de enjoo e parou de falar. Sabia que era sua ansiedade alta.

- Sei que é difícil, que falar é muito mais fácil, mas... vamos dar um passo de cada vez? A gente vai pra São Paulo, passa o fim de semana lá, procura se distrair um pouco. A gente tá precisando... – ao ouvir aquela última parte, Gleisi se deu conta de que ainda não tinham conversado sobre seu companheiro em meio a tudo.

- Lind... – ela se sentiu egoísta, tão mergulhada em suas próprias emoções que ainda não havia aberto espaço para as dele.

- Oi?

A valsa da estrelinha por virOnde histórias criam vida. Descubra agora