Oi, frio

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Os dedos de Lindbergh Farias dançavam de forma melódica pelas costas pálidas e nuas de sua namorada, num carinho suave e conhecedor, ligando em linhas imaginárias as pequenas pintas dispostas ali, formando constelações. Ele podia sentir a respiração dela bater rítmica num ponto de seu pescoço e sempre o fazia sorrir, era incrível a capacidade de Gleisi Hoffmann tirar um sorriso dele sem ao menos estar consciente. Ele amava segurá-la nos braços, ser abrigo para que ela repousasse não só o corpo, mas os desejos, as vontades, a vida e todos os quereres.

Farias podia sentir cada pedaço do corpo dela em contato com o seu, colaram-se depois de se amarem profundamente ainda no início da madrugada depois da farra do jantar com a família dela reunida na casa da matriarca da família da deputada, celebrando ainda o aniversário de sua estrela. Sua mulher havia pegado no sono, calma, serena e satisfeita logo depois. Ele também, até despertar quando o dia já nascia. Sentia-se sortudo e era. Olhou-a devagar, decorando cada pequeno detalhe como se fosse o poema mais lindo a ser recitado, as maçãs do rosto mais arredondadas, as sobrancelhas desenhadas, os lábios finos e o nariz arrebitado. Seria sua mulher obra de Drummond ou de Guimarães Rosa?

Ele não conseguia se decidir. "As coisas assim a gente mesmo não pega nem abarca. Cabem é no brilho da noite. Aragem do sagrado. Absolutas estrelas!", estava escrito em Grandes Sertões: Veredas. E sua estrela estava ali, ressonando na paz da reciprocidade dos sentires, causando explosões no peito dele, naquele princípio de aurora do lado de fora da janela. Carlos Drummond de Andrade escreveu que "Amor é estado de graça". E era mesmo assim que Lindbergh Farias se sentia: agraciado pelo amor que sentia, pelo amor que recebia, pelo amor que multiplicava com Gleisi.

Ela se mexeu, espreguiçando o corpo sobre o dele, enlarguecendo ainda mais o sorriso no rosto de Farias. Tinha os olhos atentos a cada detalhe, aos movimentos tão parecidos com os de Marie às vezes. Achava graça quando as duas dormiam juntas e terminavam por se enrolarem em si mesmas, ocupando pouco espaço na cama. Antes de abrir os olhos, ela sorriu e a festa no peito dele era muito maior do que qualquer carnaval no Rio de Janeiro. Sentia-se quase sem fôlego quando aquele brilho esverdeado, saído a mel, às vezes âmbar, se esparramava sobre ele.

Gleisi subiu o rosto, arrastando o nariz na pele quente do namorado, passando pelo peito, chegando ao queixo, era o jeito manhoso dela de pedir um beijo. Ele apertou um dos braços ao redor do corpo pequeno, com cuidado, entrou com os dedos nos fios loiros, segurando firme na nuca, e a beijou, vagaroso, deliciando-se com os lábios de sua mulher.

- Bom dia, bem... tá acordado faz tempo? – ela quase ronronou e quis saber enquanto se aconchegava ainda mais sobre o corpo dele.

- Bom dia, meu amor e minha estrelinha – Lindbergh sorriu, iniciando a sequência de beijos na testa dela, no nariz, nos lábios e, rapidamente, a segurando com os dois braços e descendo o corpo para que pudesse beijar a barriga levemente inchada de Gleisi, o que sempre a fazia sorrir. As alterações no corpo dela eram sutis, mas já perceptíveis – Acordei há pouco, no horário de sempre das últimas semanas. Como vocês estão se sentindo?

- Nada de enjoos hoje também – ela sorriu comemorando, deitando-se de bruços sobre Lindbergh, com um brilho travesso no olhar, enquanto ele acariciava as costas dela devagar, sentindo o corpo menor se arrepiar sobre o dele.

- Quer que eu faça o chá com torradas pra você mesmo assim? Acho que não tem ninguém acordado ainda – ele ofereceu, encantado com a expressão dela.

- Acho que eu quero outra coisa, amor... – Gleisi encaixou as pernas, uma de cada lado de seu homem.

- É?! – ele sorria, aberto, adorando cada momento daquele início de manhã entre os dois – E o que você quer, Heleninha? Fala pra mim... – tinha as duas mãos na cintura dela, fazendo carinho com os polegares, enquanto a deputada beijava-lhe o pescoço.

A valsa da estrelinha por virOnde histórias criam vida. Descubra agora