Oi, céu

489 14 12
                                    

Uma pausa no meio da semana. Ou quase. O feriado da Proclamação da República iniciou com uma solenidade pela manhã, em Brasília, na Praça dos Três Poderes. Um evento organizado para demarcar, de novo e outra vez, a importância da democracia, a defesa intransigente do Estado Democrático de Direito, tão atacado desde o golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Rousseff. Convidados para a ocasião, Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias decidiram comparecer. Não fossem os compromissos partidários e a agenda do governo, o casal buscava cada vez menos exposição e holofotes após a gravidez dela ter se tornado de conhecimento público.

Prestes a completar 23 semanas de gestação, não havia mais nenhum motivo para esconder a barriga. A presidenta do PT, aliás, tinha atraído muitos olhares e recebido diversos cumprimentos das autoridades convidadas a estarem com o presidente Lula naquele momento. O vestido bem ajustado em seu corpo evidenciava a forma arredondada do ventre, mostrando o crescimento da estrelinha deles no abrigo dela. Janja estava radiante com a presença do casal de deputados federais, praticamente não saiu do lado da curitibana, inclusive tinha pedido ao cerimonial que colocasse Gleisi ao seu lado. Outros parlamentares, ministros, membros do Judiciário paravam para uma saudação breve ou uma conversa mais demorada.

Gleisi e Lindbergh não tinham mais falado sobre o assunto com jornalistas, apesar dos questionamentos. Também não tinham aberto para além do círculo familiar, da madrinha e do padrinho que o bebê era uma menina, e recusavam quase diariamente convites para entrevistas abordando suas vidas pessoais, pois não tinham a intenção de dar publicidade ao momento especial que viviam. Mas, em eventos públicos, como aquele, era difícil que Gleisi Hoffmann não chamasse atenção. As pessoas mais próximas chegavam, abraçavam, perguntavam sobre a estrelinha. Lindbergh quase nunca saía do lado dela, tocando as duas, especialmente depois que ela tinha começado a sentir os movimentos da neném, nos últimos dias de outubro.

Estavam em casa, após a primeira refeição do dia, acompanhando a montagem do berço no quarto de Estela. O móvel tinha chegado pela manhã, como indicaram na loja ao fazerem a compra junto com a madrinha Janja. Os nichos, prateleiras e luminárias de parede já estavam instalados. A cadeira de amamentação, alta e reclinável, nos tons cinza claro e rosa bebê, com orelhas de gato, sugestão de Luiz e Gabriela, também já estava no quarto e tinha se tornado o cantinho preferido de Marie na casa. A cômoda que também serviria de trocador e o roupeiro seriam entregues dali a poucos dias, escolhidos na mesma paleta de cores pastel, compondo um ambiente colorido e aconchegante para a caçula da família.

O berço era amarelinho, com detalhes em branco e cinza, combinando com a parede de estrelinhas onde ficaria. Assim que montado e o quarto limpo da bagunça, Lindbergh pôs o colchão e, com Gleisi, arrumou o móvel com um conjuntinho de lençol que ele tinha comprado, a estampa de gatinhos e estrelas era encantadora. Instalaram o móbile e foram inevitáveis os sorrisos apaixonados dos dois, já imaginando aquele espaço ocupado pela estrelinha.

Enquanto ele fazia fotos para enviar aos filhos, às mães dos dois e à madrinha de Estela, Marie achou que deveria inspecionar o móvel. Com um único salto, entrou no berço, cheirando cada cantinho, testando o colchão e se esticando inteira, tentando alcançar as estrelinhas do móbile. Gleisi ria do comportamento da mascote quando sentiu um movimento diferente em sua barriga. Não comentou nada a respeito daquela primeira sensação, esperou acontecer de novo e outra vez até ter certeza.

- Lind! – ele estava entretido, brincando com Marie no berço.

- Oi, meu amo... Gleisi? O que foi? Cê tá passando mal de novo? – o deputado se assustou quando a viu com lágrimas no rosto e imediatamente passou a mão pela cintura, com receio de algum outro desmaio acontecer.

- Não, bem... aqui, assim... – pegou a mão dele e pôs em sua barriga – A estrelinha tá mexendo! – ela contou e a voz era uma mistura de fascínio, alegria e gratidão.

A valsa da estrelinha por virOnde histórias criam vida. Descubra agora