Tudo em volta tem um pouco mais de luz

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"Antes do fim da história

Eu te espero acordar

E num bocejo repleto de ar

Vou te ajudar a voar"

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No romper das manhãs de janeiro, o silêncio é amarelinho, meio misturado com laranja, como se a ternura se fizesse cor. E eram poucas as pessoas acordadas para verem o quanto ele é bonito. Apesar da hora ainda tão prematura, as primeiras revoadas de pássaros embelezavam o céu matizado com nuvens esparsas. Gleisi Hoffmann inspirou profundamente e soltou o ar devagar, repetindo o exercício respiratório cinco vezes, e sorriu. Estava sentada bem perto da janela, na poltrona reclinável do chalé que dividia com Lindbergh, aproveitando a quietude e deixando sua pele receber os raios mais fracos de sol. Estavam em um resort, em Goiás, era o último dia de férias com as meninas por lá. Gabriela, Beatriz e Marina dividiam o chalé ao lado, um pouco maior e com três camas para acomodá-las.

Sentia como se estivesse sentada no colo da calmaria, abraçada por uma brisa mansa. A frente de sua camisola estava aberta e Gleisi respirava lentamente, aproveitando aquele calorzinho que era um aconchego dividido entre ela e sua menina-estrela. Na próxima sexta-feira, dali a dois dias, completaria 32 semanas como abrigo de Estela e sonhava, mesmo de olhos abertos, com o momento em que poderia tocar o riso de sua filha.

Eram cinco e pouco da manhã, ou assim lhe dizia o relógio brilhante do celular. E era bonito pensar que dentro dela cabia um futuro inteiro que, não muito distante, estaria deitadinho em seus braços, em forma de criança. Podia ver os cabelos em cachinhos distraídos descansando em seu peito, a respiração tranquila e repleta de vida desfrutando do sono antes daqueles olhinhos pares dos seus se abrirem e inaugurarem um novo dia.

No quarto, Lindbergh sentiu falta de sua mulher, da presença dela, do aconchego do corpo menor junto do seu. Viu a porta do banheiro aberta e entendeu que ela já havia despertado. Mesmo sonolento, ele vestiu a bermuda do pijama e foi ver onde a deputada estava, preocupado caso ela estivesse sentindo algo, pois não era comum que Gleisi se levantasse tão cedo. Não conseguiu evitar o sorriso ao encontrá-la banhada de luz, cantando baixinho para Estela, deitada na poltrona reclinável, exibindo sua barriga para o sol. Era, de fato, sua estrela. E como poderia ele não orbitar ao redor daquele ser cósmico e divino que havia mudado a rota de sua vida?

Aproximou-se devagar, ela já o tinha visto desde que tinha chegado à sala, sorriu para a presença de Lindbergh e continuou cantarolando, desfrutando de seu momento com sua filha, mas levantou o olhar, acompanhando os passos dele. O deputado deixou primeiro um beijo na ponta do nariz dela, para não interromper a canção, depois se sentou no chão bonito de madeira, perto o suficiente para deitar a cabeça no colo de Gleisi e sorrir para ela, apaixonado. Hoffmann repetiu a música que ele nunca tinha ouvido, era de um grupo paranaense, A Banda Mais Bonita da Cidade. A letra tinha sido composta para uma menina que iria nascer, e a deputada acabou conhecendo durante a gravidez de uma de suas cunhadas, não se recordava exatamente de quem. Pôs uma das mãos nos cabelos grisalhos de seu homem, pai de sua estrelinha, que fechou os olhos com o carinho enquanto a ouvia, no sotaque que era tão característico dela.

- Oi, sol.

Oi, flor.

Oi, frio.

Oi, cobertor.

Oi, mar.

Oi, rio.

Oi, silêncio.

Oi... assovio!

A valsa da estrelinha por virOnde histórias criam vida. Descubra agora