Insônia, táxis e brigas

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Jisoo abriu a porta do meu quarto delicadamente para não me acordar, sem suspeitar de que eu não havia pregado os olhos durante a noite inteira. Ela, por outro lado, estava com o bom humor de um anjo. Seus cabelos castanhos presos em um meio coque, o delineado em seu rosto combinando com o estilo de suas roupas em tons de outono. Essa paleta combinava com ela, por mais que estivéssemos no meio da primavera.

— Oi — sussurro, sentando na cama. Como sempre, vários pontos pretos invadem minha vista quando levanto rápido demais. Jisoo sempre se preocupa, dizendo que devo ter algum problema de pressão.

Ela é um pouco paranoica.

— Bom dia — responde, sorrindo. — Você está horrível.

— Que bom saber.

Esfrego as costas da minha mão no olho, tentando expulsar o sono de mim, mas obviamente não consigo. Terei que sustentar as consequências de uma noite em claro.

— Tem café?

— Você não toma café — devolve Jisoo, espremendo os olhos. Eu dou de ombros.

— Estou explorando coisas novas.

— Claro — concorda, mas sem parecer entender o que está passando pela minha cabeça. — Vou arrumar uma xícara para você. Saímos em quinze minutos, que tal?

Assinto com a cabeça, pegando as primeiras roupas que acho no guarda-roupa para vestir. Calça jeans, camiseta larga e levemente amassada, uma jaqueta de moletom preta. Se o resultado final funciona ou não, não sei dizer. Não é como se fosse importante.

Forço meu estômago a aceitar o gosto amargo do café, porque sei que é o único meio de aguentar o dia. Jisoo me observa como se eu fosse uma completa desconhecida.

Estou no banheiro terminando de escovar os dentes quando meu celular vibra.

— Alô. Quem é? — pergunto, a voz soando estranha por estar com a escova de dentes na boca. Cuspo na pia e lavo meu rosto, pronta.

— Park? — é uma voz masculina que parece estar se esforçando para ficar grossa. Reviro os olhos com o modo como me chamou, já arrependida por ter atendido. Mesmo com uma única palavra, já sei quem está do outro lado da linha.

Foi inocência minha acreditar que porque as ligações pararam eles teriam me esquecido.

— Quem é?

— Estou falando com a filha do Park?

— Geralmente é a pessoa que liga quem precisa se identificar, sabia?

— Oh, Roseanne — ele resmunga. — É como se eu estivesse falando diretamente com o seu pai.

— Você não está — sibilo. Não estou com paciência para esses jogos. — O que quer?

— Sou um antigo amigo do seu pai. Senti que precisava te avisar — Ouço um suspiro vindo do outro lado da linha — que eles estão te procurando.

— Estão perdendo tempo — retruco. — Já estou bem longe há muito tempo.

— O problema, Park, — diz — é que eles sabem disso. Estão muito mais próximos do que você imagina.

Guardo a escova de dentes, tendo vontade de gritar com esse homem, mas me forçando a falar baixo ao notar o eco causado no banheiro. Não quero que Jisoo se preocupe.

— Sinto muito por avisar, mas — Arrumo alguns fios rebeldes do meu cabelo com os dedos. Ele está mais obediente hoje, o que diminui parte da minha raiva — eu não tenho medo deles. Não sou o meu pai.

Efeito Borboleta | CHAELISAOnde histórias criam vida. Descubra agora