Família, desculpas e descanso

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O fim de semana foi muito mais calmo do que qualquer outro que já tive.

Gabriel e eu acordamos no carro quando o sinal da última aula tocou, então, buscamos algumas roupas na casa de Jisoo e partimos até a casa de Gabe ao som de chamadas incessantes de Jisoo. Eu recuso todas enquanto atualizo meu amigo de infância sobre a minha vida e escuto suas aventuras na escola de mauricinhos.

Eu fico chocada ao lentamente me dar conta de que ele também é um mauricinho agora.

Nós dois nos afastamos bastante ao longo dos anos. Cada um tem um grupo de amigos diferente, afinal. E, nessa escola, é impossível imaginar nossos grupos se juntando.

Ainda assim, sempre soube que poderia contar com ele, e esperava que pensasse o mesmo sobre mim. 

Viemos do mesmo lugar e compartilhamos experiências juntos.

Internamente, o vejo como o irmão mais velho que nunca tive.

Mas, diferente de mim, esse irmão teve a sorte de melhorar sua vida. Depois de anos sendo criado pela minha família, os seus pais, que haviam sumido, voltaram com uma casa própria, um carro ótimo, um emprego estável e o desejo de compensar por todos os anos em que Gabriel ficou 'sozinho'. 

Mal sabem eles que, não, Gabe não estava sozinho. Nós tínhamos uma família. Talvez não tão funcional, mas enorme e protetora. Ele ficaria bem sem eles.

Sempre que nos aproximamos do tópico 'pais do Gabriel', ele desvia rapidamente para o nome da minha mãe, perguntando há quanto tempo não a vejo, quando irei visitá-la, se poderá ir comigo...

Independente do que seus pais façam para tentar compensar os anos perdidos, ele sempre iria se sentir abandonado. Carros de luxo não podem mudar ressentimentos.

Chegando na sua casa, atendi Jisoo e ouvi dezenas de vezes a pergunta: "Você está bem?", o que me irritaria se fosse qualquer outra pessoa se não Jisoo. Ela entendeu a minha situação e disse que estaria me esperando em casa domingo à noite, quando os pais de Gabriel voltariam.

E o tempo passou bem mais rápido do que desejei.

Sexta, almoçamos marmitas e jantamos pizza, passando a tarde inteira falando sobre quão ridícula a nossa escola conseguia ser, relembrando momentos da nossa infância e desabafando sobre relacionamentos - no caso, Gabriel desabafava e eu gargalhava.

Gabe arrastou o colchão de sua cama de solteiro até o quarto de seus pais, colocando-o no chão ao lado da cama para me fazer companhia. Nós dormimos assistindo aos filmes favoritos da nossa infância na televisão de cinquenta polegadas dos seus pais, e eu só conseguia pensar em como tudo mudou tão drasticamente.

No sábado, comemos cereais, hambúrgueres e sushi.

Quando crianças, nosso sonho era saber qual era o gosto de um sushi. Assim que o meu pai me matriculou na nova escola, ele disse que iríamos sair para comer qualquer coisa que eu quisesse. Foi naquela noite que Gabriel e eu experimentamos frutos do mar pela primeira vez. Me lembro de ter estranhado bastante, mas tinha passado anos demais ansiando um sushi para cogitar dizer que não gostei.

À tarde, Gabriel saiu para se encontrar com uma garota. Fiquei em casa maratonando filmes de todos os aplicativos pagos que encontrei em sua televisão. Jisoo me ligou novamente, querendo saber como eu estava me sentindo. Quase desliguei na sua cara, mas sabia que isso seria cruel demais, mesmo para mim.

Fui sincera quando respondi que estava bem. Sério.

Na hora de dormir, consegui convencer Gabe a dormir na cama, porque eu poderia dormir no colchão. Achei muito mais justo do que fazer o dono da casa dormir no chão por duas noites seguidas.

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