Resfriado, medo e confiança

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Acordo alguns minutos antes do despertador de Lalisa, quando ela tem um acesso de tosse.

— Desculpe — ela sussurra, deitada na cama. Sua voz está rouca e falhando.

Jennie entra no quarto. Ela lança um olhar estranho para mim ao notar que estou na poltrona, não na cama, mas logo volta a focar em Lalisa.

— Está doente?

— Claro que não. Hoje é dia de jogo.

Jennie se aproxima, erguendo a franja de Manoban para tocar sua testa. Ela aperta um lábio no outro.

— Acho que não vai ter jogo para você.

Não estou surpresa. Choques térmicos são uma péssima ideia. Ficar parada na chuva usando regata e shorts é estupidez.

Mas isso não me impede de sentir dó da reação de Manoban.

Ela impulsiona o tronco para frente, sentando na cama. Seus olhos se fecham com força.

— O que está sentindo? — murmura Jennie, cruzando os braços.

— Nada. Estou ótima.

Jennie obviamente não acredita nela, mas não quer confrontá-la. Ela tem sorte por eu estar por perto.

— Você só vai atrapalhar se entrar em quadra doente.

Ela tenta me lançar um olhar feroz, mas seus olhos mal conseguem abrir.

— Você não sabe nada sobre basquete.

Percebo Jennie saindo de fininho no meio da discussão, mas isso não tira a minha atenção da briga.

— Não sou eu quem assistiu a quase todos os seus treinos dos últimos quatro meses?

— Você só ia para me ver, tenho certeza.

— O quê?

— Você me ouviu.

— Céus, como você pode ser tão convencida? É óbvio que não.

Lalisa joga suas pernas para fora da cama, tomando coragem para pisar no chão frio.

— Se prestasse atenção, saberia que meu time não tem chances sem mim.

— Como pode uma capitã ter tanta fé em seu próprio time? — divago, sarcástica. — Você é, realmente, uma inspiração.

Fico de pé, pronta para dar a resposta final e acabar com nossa implicância matinal. Nesse ponto, acho que já virou uma tradição.

— Eu sou ótima, Roseanne.

— Você é convencida, Manoban.

Ela se levanta da cama, mas perde o equilíbrio na mesma hora. Dou três passos até chegar em Lalisa, segurando-a pela cintura para que não caia.

Manoban pousa as mãos em meus ombros, mantendo a cabeça baixa e os olhos fechados. Sua pele está clara como um papel sulfite, refletindo a luz do Sol.

Analiso o piercing em sua sobrancelha tensa.

Preciso me esforçar muito para deixar o orgulho de lado e aceitar que me sinto, lá no fundo, levemente preocupada com seu estado.

— Fique em casa — resmungo. Inclino a minha cabeça, tentando buscar seu olhar, mas suas pálpebras permanecem fechadas com força.

— Não — retruca, a voz falhando. — Só estou um pouco tonta.

Empurro-a pela cintura para que sente novamente. Cruzo os braços, suspirando.

— Você é mais teimosa que eu.

Efeito Borboleta | CHAELISAOnde histórias criam vida. Descubra agora