OO3 ー 夜空

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 Sentia-me desgastada, divagando em meus próprios pensamentos súbitos e melancólicos, enquanto apreciava-me de um ótimo Whisky naquele bar antigo com luz fraca. O dono do bar perguntava-me: "Senhorita, está se sentindo bem?"... A resposta era nitidamente negativa... Sentindo-me cada vez mais desgraçada e miserável conforme os segundos passam...

"Será que eu era feliz? Desde pequena eu era chamada frequentemente de pessoa afortunada, ainda que me sentisse sempre em meio do inferno..."

Minhas próprias palavras amaldiçoam-me... Certamente, morrerei em uma escura e fria solidão onde nenhum outro humano poderia sentir, ouvindo os trilhos do trem tremerem contra o chão ao seguir seu percurso... Meus olhos fechava-se, e a cada segundo, sentia a morte encostar seus lábios em meu rosto.

"- Sua insatisfação com a sua própria vida... Não é jovem demais para tal ação?" Ouvi sua voz, era aveludada e gentil.

"- Lhe incomodei, imagino... Sinto muito, meu objetivo é morrer sem que eu incomode alguém." Proferi essas palavras, tirando um riso nasalado do garoto.

Seus olhos eram de coloração chocolate, assim que me levantei dos trilhos, senti o vento forte chocar contra minhas costas... O garoto não parecia assustado, muito pelo contrário.

"- Por que deseja morrer, senhorita?" Ele perguntou se sentando ao meu lado.

Lembro-me de suspirar pesado... Eu não sabia como respondê-lo...

"- Eu me chamo Dazai... Osamu Dazai." Se apresentou docemente, enquanto olhava em minhas orbes violetas...

"- Eu me chamo ██..."

O garoto sorriu... Seu sorriso era o mesmo que minha feição; sua expressão não tem nem, digamos, o peso do sangue, nem a austeridade da vida, nada, nem um pouco dessa sensação de completude; frio e solitário. Certamente, idêntico á uma poça de sangue em meio a neve... Belo, mas demasiadamente melancólico.

Osamu Dazai, ele se chamava... Conhecendo-me em meio ao meu suicídio, onde eu de fato, daria um fim em minha medíocre vida.

Vivendo como uma parasita em um cão morto; era dessa forma que eu me via. "Não tinha onde cair morta" diziam... Entretanto, quis ainda sim dar um novo sentido, ou talvez uma nova realidade pela forma que me entitulavam... Uma pobre criança de apenas onze anos, fadada a viver como um rato num esgoto cheio de lixos e entulhos.

"- Seu nome é bonito." Ele anunciou, logo após de colocar seu casaco bege em volta de mim...

Permiti-me sorrir com genuidade pela primeira vez desde que nasci neste mundo sujo e sem cor... Mesmo prestes a morrer, Osamu não se incomodou comigo, não se incomodou com o tamanho sangue que meu corpo iria esguichar nele... Não se incomodou por ter me visto prestes a arrancar contra-gosto minha própria vida. Afinal, éramos iguais.

"Osamu Dazai: seria meu salvador?"

Perguntava-me ao olhar em seus olhos, ajudando-me a levantar, concentrada em apenas uma coisa; desvendar o mistério que esse garoto é. Mesmo ainda jovens, tornamos-nos íntimos. Osamu Dazai, meu primeiro e verdadeiro amigo...

Desvencilhei-me desses pensamentos, após ouvir uma voz doce e aveludada de um homem com aproximadamente vinte á vinte e dois anos... Ele era belo, e assim como eu, possui um par lindo de olhos violetas. Dazai nitidamente repudia o homem, seja lá o que ele o fez, sinto-me entrando em uma caverna cheia de tigres e leões...

Ainda muito nova, desconhecia-me de meus pais biologicos, criada em um orfanato, onde eu constantemente fazia minhas graças, tentando-me sentir aceita em um monte de crianças. Porém, certo dia, chegou um garotinho, ligeiramente mais novo do que eu... Minha mente enuveada não irá permitir-me recordar de seu nome. Mas, o próprio possuía lindo par de olhos heterocromáticos, numa junção reconfortante de verde e roxo.

Seus cabelos tão albinos quanto do homem que mais tarde - ao me encontrar pela primeira vez com Mori, na trilha do trem junto de Dazai. - conheci... Yukichi Fukuzawa, era seu nome.

Na noite seguinte, desapareci daquele orfanato sem deixar quaisquer rastros. Cavando uma cova rasa na qual pude passar pelos grandes portões. Desde então, conheci a maldade mundana, vivendo na pobreza e miséria de Yokohama, sempre que clamei por ajuda, negligenciavam-me.

Sustentei-me dos restos alheio, cometendo crimes leves, roubando frutas ou até mesmo carteiras, aprendi a ser furtiva em minhas ações. Até o dia em que eu assassinei uma pessoa pela primeira vez. Senti-me hedionda, uma verdadeira e bela aberração.

Lembro-me como ontem... Minhas vestes rasgadas e enojadas, sentia-me reduzida ao pó, demasiadamente suja e incapaz de considerar-me uma humana, aos olhos de outras pessoas, eu era vista como uma verdadeira aberração. Utilizando meus poderes para fazer um trabalho sujo, para ter-me onde sustentar... E então, o amigo de Osamu Dazai, com apenas quinze anos, acolheu-me como uma irmã mais nova, ensinou-me modos, repreendia-me como família. Odasaku, obrigada por me acolher...

O primeiro presente de Odasaku para mim foi um par de luvas, feitas pela alfaiataria mais cara de Yokohama... Meu primeiro presente luxuoso.

"Seu esforço deve ser reconhecido, ██..."

- Estou bem... Obrigada pela preocupação. - Disse fingindo um sorriso reconfortante para o idoso, dono do bar. Recebendo um sorriso calmo e despreocupado do mesmo.

- Aqui está outro Negroni, este é por conta da casa. - Ele disse, recolhendo o copo vazio de "Bride"

- O senhor é um anjo, sabia? - Comentei, fazendo o senhor sorrir alegremente.

𝐏𝐇𝐀𝐍𝐓𝐎𝐌 𝐁𝐑𝐈𝐃𝐄 • Osamu D.Onde histórias criam vida. Descubra agora