Nove

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Então e se eu deixar escapar?
E dizer que você é a única que eu estou vendo
E se eu perder o controle?
Admito que eu estou com medo da sua partida
Isso te afastaria ou você diria o mesmo de volta?
E se eu deixar escapar? Te dizer que
Oh meu Deus, eu te amo, porra.

— Zolita, I Fucking Love You.

[...]

Quando Miyeon termina de contar a história, Shuhua estava paralisada. Como se um quebra cabeça se montasse em sua cabeça lentamente.

— Eu... eu não lembro de você nesse dia — Shuhua diz, ainda atordoada pela avalanche de memórias que fora jogada em si.

A loira fingiu um sorriso.

— Eu imaginava — falou enquanto se sentava na cama, escorando-se na cabeceira, que era dura, incomodando seus ossos.

Shuhua repetiu a ação de Miyeon, sentando-se ao seu lado. Reparou que os olhos a loira estavam focados em algum ponto do teto, talvez tentando não olhar para si.

— Então por que você só foi falar comigo no ano passado? E por que caralhos foi tão babaca? — Shuhua pergunta, genuinamente curiosa.

Miyeon suspira.



Depois de ter ficado com Nicha, Miyeon nunca mais entrou no assunto. Como se tivesse sido um surto coletivo.

Ainda por cima, depois daquilo, ela decidiu se grudar mais ainda a Jungkook, começando aquele purgatório eterno. Conseguia se lembrar de todas as vezes em que o deixou que lhe tocasse, mesmo que seu interior gritasse para que retirasse suas mãos sujas dali. Aquele ano tinha sido a última vez em que tentara empurrar a heterossexualidade goela abaixo, foi completamente torturante.

Hoje em dia, Miyeon olha para seu passado com tristeza. Pois, no fim do dia, a gente sempre sabe. Ela sabia que forçar algo com Jungkook não a faria gostar de garotos, mas mesmo assim o fez. Não porque queria, mas por pressão social.

Aquele dia em que beijou Minnie e conheceu Shuhua havia sido marcante, como um balde de água fria, gritando para si que as coisas mudariam.

No primeiro ano inteiro, Miyeon observou Shuhua de longe. Como seu cabelo havia crescido, a forma como sempre mudava de garota com quem ficava de dois em dois meses, nunca achando a certa. Observava-a principalmente na aula de música, que era quando podia vê-la tocando violão e se lembrar daquele dia.

Quando as mãos de Jungkook seguravam sua cintura, não era para ele que Miyeon olhava. Era para a garota taiwanesa do outro lado da sala, sonhando que um dia tivesse coragem de dar um mísero passo.

Nas férias que interligavam o primeiro com o segundo ano, com o cabelo tingido de rosa e sem aparelho dental, Miyeon decidiu que estava na hora de tentar falar com Shuhua. Já havia montado todo o tipo de situação em sua cabeça, das mais realistas até mesmo as que acabariam casadas na praia de Maldivas.

Colocou seu vestido mais bonito e provocante, branco que batia na metade da coxa, que marcava bem o busto e era solto na saia, deixando um pouco rodado. O delineado, também branco, parecia deixar os fios rosas soltos bem presentes. Tudo estava perfeito.

Era perfeitamente calculado. Até mesmo a coincidência de ter sido novamente em uma festa das irmãs Chae.

— Shuhua, essa é a Miyeon, minha melhor amiga. Miyeon, essa é a Shuhua — Yuqi as apresentou, com a paciência e leveza de um cavalo. Por incrível que pareça, ela não tinha ideia do plano de Miyeon, alheia demais ao que se passava na mente brilhante da amiga. — Acho que vocês já devem ter se visto por aí na escola.

Rebelde | Mishu Onde histórias criam vida. Descubra agora