Quatro

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A porta do quarto de Soojin é aberta de maneira rápida e grotesca. Os olhos de Shuhua — mesmo na escuridão do aposento — encontram a imagem de Soojin e Minnie se agarrando na cama.

— Puta merda! Me desculpa! — exclama, fechando grande parte da porta e olhando para algum lugar que nem a mesma sabe aonde.

Não demora muito para que Soojin abra a porta e olhe para os olhos de Shuhua sem muito humor, depois ligando a luz do próprio quarto.

— Oi, Shuhua — diz, ainda com uma coloração nas bochechas.

Mentalmente, Shuhua agradece por apenas ter as pego dando alguns amassos, e não por ter as encontrado sem roupas.

— E aí, Shu — Nicha cumprimenta, sentada na cama e lançando um sorriso largo à taiwanesa como se há poucos minutos não tivesse sido pega beijando a namorada como se fosse seu último dia de vida.

— Mais uma vez, me desculpa. Não sou do tipo que entra sem bater, mas acho que fiz merda — diz com a mão na nuca em nervosismo.

Soojin espera a amiga entrar totalmente e fecha a porta, logo depois dizendo:

— Não é bem culpa sua. Minha mãe tá aqui em casa e ela insiste que eu nunca tranque a porta enquanto a Mi estiver aqui.

Shuhua para de olhar para as paredes do quarto branco e limpíssimo apenas para lançar um olhar malicioso para a amiga.

— Acho que ela tá certa. Se vocês fazem isso de porta fechada imagina tranca... — A fala de Shuhua é interrompida por um travesseiro sendo jogado bem na sua face. — SOOJIN-NAH! — grita.

As namoradas riem enquanto esperam Shuhua se sentar na frente delas na cama. A cabeça de Nicha descansa no ombro de Soojin.

— Para de reclamar e pode ir falando — diz Soojin enquanto entrelaça sua mão na da ruiva.

Shuhua olha para Minnie, pensando se realmente deveria falar sobre Miyeon na frente dela. Quer dizer, sabia que a tailandesa era a única outra garota que Miyeon beijou na vida, então podia ser meio constrangedor. Mas ela já estava namorando há alguns meses, então talvez estivesse tudo bem.

— Eu fui, tipo, um lixo com a Miyeon — assume, fazendo uma careta, e depois conta tudo o que havia acontecido desde a hora do estacionamento, detalhe por detalhe.

As namoradas prestaram atenção em cada palavra e mantiveram a expressão neutra até chegar na parte em que Shuhua conta o que havia falado para a loira há menos de duas horas.

— Shuhua?! Caralho, por que você disse isso? — pergunta Soojin com uma expressão de desapontamento tão grande que fez o coração da taiwanesa se apertar.

Shuhua mexeu na barra da camisa de uniforme antes de responder:

— Sei lá. Todos nós pensamos algumas merdas uns dos outros, porque todos temos defeitos. Mas nunca dizemos em voz alta, mesmo que isso nos incomode tanto que sufoque e te deixe sem ar. — Engole a seco. — Então eu meio que fico dando algumas indiretas sobre isso, para me deixar melhor... o que é super inconveniente.

— É mesmo — Nicha diz.

Shuhua estreita os olhos. Isso era uma das coisas que não gostava em Minnie: sua sinceridade exagerada. Sabia que ela não fazia por mal e muito menos estava errada, mas irritava muito.

— Eu só... argh! — blefa, colocando às mãos no rosto. Respira bem fundo, sem saber direito o que falar.

Soojin estrala a língua.

— Shu... com o que exatamente você se incomoda sobre Miyeon? — questiona, com sua voz que transmite uma calma inexplicável, como se Shuhua fosse quebrar se escolhesse as palavras erradas.

As mãos de Shuhua descem sobre o piercing na sobrancelha, meio atordoada.

Talvez esse foi um dos maiores motivos na qual elas viraram amigas: Soojin se importava o suficiente com as pessoas para entendê-las e aconselha-lás, sem julgamento. Enquanto Shuhua era uma pessoa muito mais surtada e boca para fora. As duas juntas eram um equilíbrio perfeito.

O coração de Shuhua foi para a boca. Merda, ela teria que dizer aquilo mesmo? Aquilo que estava a enlouquecendo nos últimos dias?

— Eu me incomodo sobre o quanto ela é falsa para as pessoas. Mas isso é compreensível pela forma que ela foi criada. — Assume. — A princesinha Miyeon! — Exagera, o que a faz rir um pouco. Mas rapidamente para, apoiando ambas as mãos no edredom branco de Soojin e evitando ao máximo olhar para as namoradas em sua frente. — Mas acho que eu fiquei puta mesmo porque... — engole a seco, como se isso fosse fazer as palavras não saírem de sua boca carnuda — ... porque eu odeio ver ela com Jungkook. Odeio o jeito que ela age quando está perto dele, como se faltasse cair sobre seus pés. Como se ele fosse quem ela está ficando, não eu.

— Você está com ciúmes, Shu — Soojin adicionou, levando sua mão para cima da mão da taiwanesa. Sabia que era difícil para ela assumir aquilo, que talvez aquilo estivesse passando do ponto de "ficar por ficar".

— Sabe... — Minnie começa, tirando a atenção de Shuhua em Soojin e voltando para si. — Aquilo é fingimento. Ela nunca vai ter sentimentos reais por ele, nunca. Agora isso que ela tem com você... isso é a realidade, Shuhua. Você não pode ficar puta com ela por fazer isso, porque ela não faz por querer próprio.

Shuhua não diz uma palavra se quer. Para ela, era algo muito humilhante assumir que se preocupa e sente demais por uma pessoa. Era como dar um chute forte em seu ego.

— E aliás, acho que a Miyeon está certa — Minnie volta a falar. — Ela é a única na sua vida amorosa faz tempos, então por que não confirma isso?

— Confirmar o quê? — pergunta Shuhua, mesmo sabendo da resposta.

Nicha dá de ombros.

— Você gosta dela, isso é óbvio. Então por que não oficializa o que vocês tem? Tá bem claro que ela também tem sentimentos por você.

— Eu não gosto dela! Eu só...

— Shuhua — Soojin chama sua atenção, olhando-a com cara de "sério mesmo?", como se fosse um toque para deixar de ser tão cabeça dura.

A taiwanesa bufa e tira sua mão da coreana, deitando-se na cama e olhando para o teto, meio sem saber o que fazer. Ok, a sinceridade de Minnie podia doer, mas era uma dor necessária.

— Como eu conserto isso tudo?

Nicha e Soojin se entreolham em cumplicidade, como se quisessem passar um "fizemos isso!" com o olhar.

— Simples, fale a verdade para ela — a de cabelos vermelhos diz.

— Diga de coração para coração que talvez você não queira ela só como sua ficante. É exatamente isso que ela queria ter ouvido naquela hora. — Soojin afirma.

Era só isso que deveria fazer: pedir desculpas e dizer a verdade. Pode parecer simples, mas não é. A garganta de Shuhua parece querer rasgar com o bolo gigante que se formou nela.

Não tinha o que fazer: Yeh Shuhua havia se deixado levar pelos encantos da perfeita Cho Miyeon.

Estava ferrada.

Rebelde | Mishu Onde histórias criam vida. Descubra agora