me aguardem

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  Entro em casa, o sangue ainda escorrendo pela minha bochecha, respiro fundo e tento me acalmar.    Vou até o meu espelho, quebrado, mas ainda pode ser usado, preciso saber se o corte foi fundo.
   Ando até o espelho, pego um pano velho que estava em cima da mesa, mas quando vejo meu reflexo, caio no chão. Não sou eu.
  É outra pessoa naquele espelho, quero acreditar que não sou eu aquela jovem que nem sabe a própria idade porque teve os pais arrancados dela a muito tempo, se é que algum dia os teve, não quero acreditar que sou quase uma assassina, ensanguentada, com lágrimas jorrando de seus olhos, não quero acreditar nisso.
Quero acreditar que sou uma féerica poderosa, com uma vida feliz e que nunca precisou infringir alguma lei só pra ter alguns centavos e não morrer de fome, quero acreditar que nunca precisei sujar minhas mãos para nada.
  Mas isso nunca serei.
Não quero nem pensar nisso, no que eu fiz agora. Odeio mais fortemente esse lugar, e agora, não tenho nada a perder na verdade, nunca tive. Eles que me aguardem.
Tenho que me acalmar, respiro fundo, me levanto e molho o pano, a casa está suja de sangue e eu também.
  Pressiono o pano sobre a ferida,  quase grito. Com minha mão tremendo enxugo as lágrimas, não tem sentido chorar se ninguém morreu lá, não entendo porque das lágrimas.
   Mas morreu sim, algo dentro de mim acabou de morrer, algo que já era bem pouco não é mais nada. Acabou pra sempre.
   Percebi que meu queixo também foi um pouco cortado, não foi fundo, mas os dois cortes vão deixar cicatrizes.
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  Limpo-os bem e depois, é a vez do resto da casa.
   Estou tão cansada que nem lembro do cervo que está em cima da mesa, só preciso dormir agora.
  Mas quando deito, minha mente ainda está a mil, não entendo nada, afinal, se eu não me importo porque isso está acontecendo? Minha própria mente me castiga. E quando finalmente pego no sono, as lembranças vem com tudo e quebram todo e qualquer resquício de confiança. Agora só me resta a dor, mais do que a física, é a mental.
  Na minha mente se misturam vergonha, ódio, tristeza e raiva. Esses sentimentos quebram as barreiras que construí durante tanto tempo. Mas nada, por mais terrível que seja, me impedirá de me vingar de quem me fez mal por tanto tempo.

 
  

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