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SUNA ISCARIOTE

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SUNA ISCARIOTE

A pequena viagem de carro é mais desconfortável do que imaginei e me pega desprevenido. Pigarreio antes de falar.

─ Quer que eu te deixe na casa da sua amiga ou em outro lugar? -pergunto, apertando o volante ao fazer uma curva.

[Nome] está sentada no banco do carona, com as mãos no colo. Será que está nervosa?

─ Da minha amiga. -responde e me dá o endereço.

Depois, o silêncio impera entre nós. Sinto necessidade de preenchê-lo, então ligo o rádio. Uma música começa a tocar, e a letra rouba um sorriso de [Nome].

─ I hate you. I love you. I hate that I love you.

Começo a cantarolar para disfarçar o constrangimento.

─ I miss you when I can't sleep. Or right after coffee. Or right when I can't eat.

─ Uau, Suna Iscariote canta. Quantos talentos será que você ainda tem? -provoca ela. ─ Você deveria gravar e postar. Aposto que ganharia muitos likes.

Dou um grande sorriso.

─ Só aumentaria minha popularidade com as garotas. Você quer isso?

─ Sua popularidade com as garotas? Ah, fala sério, você nem é tão bom assim.

─ Não sou tão bom assim? Não foi isso que você disse hoje de manhã. Quer que eu repita as coisas que você me pediu gemendo?

Lanço um olhar que a deixa sorrindo, corada e com o espaço entre suas sobrancelhas franzido. Bem, o clima não está tão ruim assim, e ela parece muito mais à vontade do meu lado.

─ Não precisa.

Coloco a mão na perna dela.

─ Aquela foi uma boa maneira de começar o dia.

─ Fica quieto, pelo amor Deus, que cara pervertido.

Dou um apertãozinho em sua perna que a faz ficar quieta.

─ Mas você gosta desse pervertido aqui, não?

─ Aff, não aguento seu ego. -retruca ela. ─ É insuportável.

─ Foi exatamente o que você disse hoje de manhã.

Ela dá um tapinha no meu ombro.

─ Ah! Para com essa mente suja!

Dou uma risada, e o alívio por tudo estar fluindo com mais naturalidade entre nós é interrompido pelo toque do meu celular. Vejo o nome de Samy na tela e atendo. Meu celular está sincronizado com o rádio do carro para eu poder falar sem ter que tirar as mãos do volante, então o "alô" de Samy ecoa nitidamente. Não me incomoda que [Nome] escute, não tenho nada a esconder.

─ Alô?

─ E aí, o que estão fazendo? -pergunta samy, e parece estar comendo.

─ Estou ocupado. Por quê?

─ Pensei que você ainda estivesse no Antony, deixei umas coisas lá outro dia. la pedir pra você trazer pra mim.

─ Já saí de lá.

Samy suspira do outro lado da linha.

─ Tranquilo. Está de pé o cinema hoje?

Sinto [Nome] ficar tensa ao meu lado, mas deve ser coisa da minha imaginação.

─ Lógico, passo aí às sete. -confirmo.

─ A gente se vê mais tarde, lindo. Beijinhos. -diz samy antes de desligar. ela sempre me chama por esse apelido.

O silêncio se instala entre nós, e eu lamento por essa maldita ligação que acabou com o clima bom que havíamos construído.

─ Quem era? -pergunta [nome], num tom sério.

─ Samy.

─ Sei. -limita-se a responder, e as mãos estão outra vez inquietas no colo. ─ Vão sair hoje?

Confirmo com a cabeça, parando num sinal.

─ Sim, vamos ao cinema com os caras.

Aproveito o sinal para olhá-la, mas ela não retribui. Está olhando pela janela e franzindo os lábios. O que eu faço? O que eu digo para ela voltar a se sentir à vontade comigo, em vez de evitar meu olhar dessa forma? Ela ficou chateada por causa da ligação? Começo a bater o polegar no volante, ansioso para o sinal abrir, e, quando enfim fica verde, dou uma última olhada nela.

Olha pra mim, [Nome]. Dá um sorriso, mostra que está tudo bem.

Nada acontece, e fico um pouco mais estressado. Não quero estragar tudo de novo, mas pelo visto isso é algo que faço com uma facilidade absurda.

─ Eu também tenho planos. -diz ela de repente, num tom estranho.

Será que ficou irritada por eu ter marcado de encontrar meus amigos? Ela também marcou. E se for com o nerd da festa?

[Nome] me olha de soslaio, e eu reparo que faz um tempo que estou calado. Ela esperava uma resposta, mas perguntar com quem ela marcou de sair me parece pior do que ficar em silêncio. E também não sei se dizer que confio nela seria ainda pior.

Quando estaciono, [Nome] apenas me olha, sorrindo, e desce do carro.

Não, definitivamente isso não está legal. Preocupado, desço também e vou atrás dela.

─ [Nome], ei. -ela se vira para mim. ─ [Nome], oque está acontecendo? -eu paro em frente à ela com a pergunta.

─ Nada.

Mas seus olhos se esquivam dos meus. Está mentindo.

─ Não entendo você. O que foi que eu fiz agora?

─ Deixa pra lá, Suna. -seu tom é frio e me deixa assustado.

Não entendo, e isso me desconcerta, me inquieta e me apavora, porque eu achava que estava tudo bem, que ontem à noite tinha mostrado a ela que me importo. Será que não fui claro?

─ [Nome], olhe pra mim. -ela me encara, cruzando os braços. está na defensiva e eu não faço a menor ideia do porquê.

Será que está com ciúmes de Samy?

Estou tentando, ok? -digo com sinceridade. ─ Faço tudo errado, mas estou tentando.

─ Está tentando o quê?

Abro a boca para responder, mas ela me interrompe:

─ Pode me deixar aqui e ir encontrar com seus amigos. Só que não me leva em consideração para nada, né? Afinal, eu sou importante ou não para você? Já não estou entendendo nada. E não quero que você me magoe ainda mais.

─ E eu não quero te magoar. -protesto, quase sem palavras.

Obviamente, estou falhando nessa missão.

─ Então me diz. O que você sente por mim?

A pergunta me pega de surpresa. Abro a boca para dizer algo, mas nada sai. Um sorriso triste invade meu rosto.

─ Quando você puder responder a essa pergunta, me procura. -conclui ela, direta.

E assim ela desvia de mim, me deixando ali, de pé e sozinho, com as palavras entaladas na garganta e o coração ardendo no peito, porque não posso responder a sua pergunta, embora saiba a resposta.

𝐉𝐔𝐃𝐀𝐒⠀─ suna rintarou.Onde histórias criam vida. Descubra agora