— E você... Teve a criança? — A mulher questiona, nem um pouco receosa, com as pernas cruzadas e o olhar frio.
A casa é tão bonita por fora quanto por dentro. Era possível ver a grande piscina pela porta de vidro no final do cômodo, as escadas Ana Flávia carpete claro e corrimões de ferro. Bárbara costumava viver aqui, com todo esse conforto.
Ela apenas assente, segurando o copo de água quase cheio, sozinha na poltrona florida.
— Você teve a criança. — A mais velha repete, tão incrédula quanto eu, mas eu estava impressionado com sua cara de pau. — Ana Flávia, você sabe o que isso significa?
— Que ela passou quatro meses dando conta de algo que ela não fazia ideia de como funcionaria?— Não dou a chance de Ana Flávia responder. — Que ela foi para um hospital sozinha, esteve sozinha durante o parto e passou todo esse tempo sem ninguém pra ajudá-la? Pra mim é exatamente isso que significa.
— Você deve ser o salvador da pátria, não é mesmo? — Agora o homem quem diz, encostado o corpo para trás. — Ou ela transou com você também? Caso não saiba, garoto. Foi assim que ela arranjou um filho. Dando pra qualquer um.
Ana Flávia tinha uma expressão indecifrável. Mas na minha mente eu já conseguia ouví-la dizer um "eu te avisei", e, porra, ela estaria certa.
— Olha aqui, meu senhor. — Minha mãe se levanta, deixando a xícara de café sobre a mesinha de centro, se lembrando de tirar as chaves do bolso e me entregar. — Leva ela pra casa, Gustavo. Ela não precisa disso.
Respiro fundo ao me levantar e segurar a mão de Ana Flávia, ela acaba me guiando até o lado de fora, ela espera chegar perto do carro para desabar.
— Eles não queriam conversar, Gustavo. — A mais nova diz entre soluços, ao juntar o corpo no meu e me apertar contra si.
Eu não sabia que seria assim. Imaginei outra coisa e queria ter ouvido Ana Flávia quando ela disse que não queria vir. Ela não precisava ter ouvido essas coisas, não precisava de nada disso.
— Me desculpa. — Murmuro, sentindo-a esconder o em meu peito. — Eles são tão idiotas, e...
Me interrompi quando seus soluços ficaram mais extremos. Ela parecia lembrar de uma coisa diferente a cada instante e me partia o coração vê-la tão mal.
Eu queria poder protegê-la de tudo e todos, que ela não precisasse se preocupar com mais nada, ou chorar com mais nada. Queria que ela só se sentisse bem. Era horrível não poder controlar isso e eu m sentia a pior pessoa do mundo por ter participação nesse ocorrido.
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