Luan me ajuda a trocar o sofá de lugar e bagunça meus cabelos antes de sair e encostar a porta. Murilo entregou a última malinha palavras dele -, e logo éramos apenas minha filha e eu.
O apartamento é simples, pré mobiliado e bem ventilado. Iria metade do meu salário mensalmente, mas me parecia um novo começo e eu precisava disso.
Eu adorava os cuidados de Gustavo assim como gosto da companhia dos meninos. Aurora adora eles e eu sou mais que agradecida, acho que nunca vou deixar de ser. Mas eu precisava seguir meu próprio caminho, precisava escrever minha própria história, e não dava pra fazer isso no melhor sentido possível, eu juro nas costas de Gustavo.
Escuto o barulho no final do corredor e me apresso pra chegar lá, para encontrar Aurora perdida entre os brinquedos que ganhou dos meninos ultimamente. A caixa onde eles estavam antes recém derrubada e todas as peças de lego jogadas no chão, junto com as poucas bonecas e todos os bichinhos de pelúcia. Ela é muito mimada por eles.
— Mama, caiu! — Ela resmunga, talvez tentando me fazer acreditar que foi tudo um acidente. Apenas rio fraco e a pego no colo.
— Sim, eu acredito que caiu, meu amor. — Mordo sua bochecha de leve, recebendo um chiado e um empurrão como reação
— Eca, mama! — Retruca, enquanto eu refazia o caminho para a sala, encontrando Felipe e Lucas ali, instalando uma TV que não era minha.
Murilo parece voltar da cozinha, as mãos molhadas e os cabelos bagunçados. Gabriela não fala nada quando entra no apartamento e passa direto para o meu quarto, empurrando o carrinho de compras cheios de coisas que eu não fazia ideia do que era. Quando todo mundo entrou aqui?
— Acho que vai querer tudo arrumado até o Natal. — Lucas sorri fraco, atravessando o cômodo enquanto largava os fios que carregava pelo chão. — Acho que conseguimos. Gustavo e Luan foram no supermercado, a tia Jussara e o Santana vão vir ajudar a limpar o que estiver bagunçado. Gabriela disse alguma coisa sobre seu quarto, Murilo recolocou a torneira da cozinha e, Felipe e eu pegamos a TV sobrando lá de casa e colocamos aqui. Ainda não acabamos. Espero que não se incomode.
Estreito os olhos.
— Não precisava de tudo isso.
— Uhum. A gente só quer mesmo. — Dá de ombros, virando para trás quando escuta Felipe reclamar. — Pode dar uma volta, se quiser.
Eles viviam me elogiando e Gustavo adora dizer como eu sou bem mais do que ele esperava. Mas eu realmente acredito que eles sejam a parte extraordinária da história, todos eles. A Jussara que não se importaria em entrar numa briga judicial com meus pais, por minha causa, o Gustavo que se importa até demais, Murilo que me zoa mas no fundinho me deixa ganhar no videogame, até mesmo Felipe que chegou ontem a noite e já me contou o que sabe sobre programação.
Era ali que eu finalmente queria estar. Eu sabia que haviam outras alternativas e que pequenas decisões passadas poderiam me levar à um rumo diferente, mas, de todas as circunstâncias, essa é a melhor, sem dúvida.
Todas as pessoas que tenho em volta e toda a boa energia que elas carregam. Toda a empatia que recebi, é bem mais do que eu jamais vou merecer, mas eu era agradecida por cada pedacinho.
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