Capítulo 6.
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Última parada?
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''Quando a vida está em risco, o instinto de sobrevivência prevalece sobre a solidariedade.''
— O colecionador de lágrimas.
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Apertei os olhos, sentindo uma dor monstruosa na lateral da minha cabeça, e soltei um gemido ao tentar mover minha mão. Io ainda sentia dois dedos latejando. Tentei mais uma vez, porém foi inútil e voltei a fechá-los rapidamente. A claridade estava forte. Minha mente era uma nuvem escura e confusa de lembranças emaranhadas, das quais eu não conseguia me concentrar em alguma sem ter a sensação de que a minha cabeça explodiria em seguida. Essa sensação era muito pior do que me senti na manhã seguinte, quando tive a minha primeira e última ressaca ao fazer dezoito anos. Tentei me focar na minha última lembrança, e a realidade me atingiu como um soco no estômago.
'' — Ei, idiota! — Chamei a atenção do magrelo antes de socá-lo, fortemente. — Cazzo! — Choraminguei em pura dor, sentindo dois dedos deslocarem-se.
— Vadia! — Exclamou furioso, vindo na minha direção. — Vou matá-la!
No entanto, ele não deu mais nenhum passo. Do nada, ouvi um único disparo no meio do curto silêncio. O seu corpo tombou para frente e caiu um baque surdo no chão de terra. Havia um pequeno buraco na sua testa e um filete de sangue escorria pelo seu rosto.
Ergui o olhar e fitei Camila, que tinha o seu revólver apontado na minha direção. Arregalei os olhos, assustada, porque ela estava com parte do rosto e pescoço cobertos por sangue. Entretanto, o mais impressionante eram os seus olhos frios e injetados de ódio. Mas, io sabia que não para mim que toda a sua ira estava direcionada.
Do nada, comecei a sentir-me fraca e a minha visão a ficar turva. Enfim, a extrema exaustão estava cobrando o seu preço.
— Camila... — Sussurrei o seu nome com certa dificuldade, sentindo o meu corpo desligando e as minhas pernas ficando moles, rapidamente. — Esse é o número cinco. — Completei com pesar, antes que a escuridão me engolisse por completo.''
— Cazzo! — Resmunguei ao fitar o teto rasgado e enferrujado do carro. — Aquele maledetto tinha a cabeça muito dura. — Praguejei, olhando meus dois dedos provisoriamente imobilizados.
Levei um susto ao escutar um risinho tímido, enquanto erguia o olhar e encontrava Ally, me fitando carinhosamente. Franzi a testa ao me dar conta de que minha cabeça estava sobre seu colo, e ela passava os dedos nos meus cabelos.
— Você desmaiou ontem. — Explicou ao ver minha expressão confusa. — O que é cazzo? Às vezes, escuto você falando essa palavra. — Observou, curiosa.
— Porra, caralho... — Dei de ombros, levantando-me com certa dificuldade e amarrando meu cabelo, que estava duro e sujo de poeira, em uma trança improvisada. — Como você está, Ally? Aquele maledetto te machucou? — Sussurrei com raiva ao relembrar da noite anterior.
Io havia matado pela quinta vez, porém não me arrependia. Não ao olhar para essa garota tão jovem, que poderia ser a minha irmã, e que ontem quase teve seu corpo violado de uma forma tão suja e monstruosa. Mas que agora estava bem e viva. Sabia como ela estava se sentindo. Eu já estivesse no seu lugar e lembrava-me perfeitamente a sensação aterrorizante e desesperadora de ter alguém sobre si com a intenção, unicamente, de estuprar.
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𝐄𝐩𝐢𝐭𝐚́𝐟𝐢𝐨 𝐝𝐞 𝐋𝐚𝐮𝐫𝐞𝐧 | 𝐂𝐚𝐦𝐫𝐞𝐧 | 𝐋𝐞́𝐬𝐛𝐢𝐜𝐨
RomanceAo contrário do que muito pensavam e diziam, o mundo não acabou em gelo, em fogo ou com a volta de Cristo. O mundo acabou em 2010, quando os mortos retornaram a caminhar entre os poucos vivos que restaram de pé E dois anos depois, Lauren Jauregui e...