4 • Good Boy

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— Entendi.

Taehyung cruzava a calçada com passos largos, o celular colado na orelha.

— Sim, Namjoon... — Sua voz tinha uma pitada de impaciência. O rapaz parava a cada poucos metros, como se precisasse de espaço para processar cada conselho. — Não vou ficar na cola de ninguém, você sabe muito bem como ele é — alertou. — Não, não vou sair da cidade, relaxa. 'Tô indo lá agora, vou checar. 'Tá bom. Adeus, Namjoon!

Ele desligou o telefone com um gesto rápido, deslizando-o no bolso; mais à frente, o estúdio de Jungkook estava entreaberto. Deixou o asfalto e encontrou o tapete sob seus pés, outrora um convite caloroso, agora parecendo despertá-lo da letargia ao sentir a presença de alguém, como se tentasse relembrar os dias em que saudava os visitantes. Taehyung observou os fios desgastados do tecido que se desprendiam, um fragmento das memórias que permeavam aquele lugar.

Entre devaneios, foi levado por suas lembranças para uma época em que o estúdio não era sequer uma ideia. Jeon estava deitado em seu colo a se contorcer, enquanto traçava, com uma máquina de tatuagem barata, um dos maiores arrependimentos do amigo.

Aquele cervo foi o último desenho que Taehyung se atreveu a marcar em alguém. Era um símbolo, não apenas da arte eternizada na pele, mas da cicatriz que se formara entre eles. Uma briga que se desencadeou quando Jungkook percebeu que carregaria o olhar julgador daquele animal por toda a eternidade; aquilo foi um divisor de águas. Um ano inteiro de silêncio sepultara a amizade.

Felizmente, voltaram a se falar durante as obras do estúdio; ele havia comprado aquele tapete em uma de suas viagens e dera de presente ao Jeon. Fizeram as pazes pela necessidade do trabalho e não por um pedido de desculpas, mas jamais tocaram naquele assunto novamente.

Levantou o olhar e adentrou o estúdio. O cheiro forte de desinfetante misturado com o aroma do café amargo recém-passado preenchia o ar, o que fazia com que torcesse o nariz; odiava cafeína.

— Aprende a andar com esse telefone, imbecil! — Jogou o aparelho no ar para as mãos de Jungkook, que quase não conseguiu pegá-lo. — Não sou garoto de recados.

— 'Tá fazendo o quê aqui? — o moreno questionou, tão lerdo quanto o tapete.

— Tentando evitar um processo — contou ao abrir o minibar, correndo os olhos pelas garrafas e tirando de lá uma lata de refrigerante. — Faz o quatro aí.

— Hã? Eu posso fazer acrobacias bêbado, isso não significa nada. — O loiro revirou os olhos ao escutá-lo e abrir a lata. — Eu 'tô de boa, sério — afirmou enquanto passava um pano seco pelo balcão.

Taehyung não desviou o olhar e, por mais simples que parecesse, o desconforto de ser observado dessa forma fez o mais novo ceder. Ficou na posição por um minuto e, ao receber um sinal positivo de seu fiscal, levantou o dedo do meio como cortesia.

— Muito simpático, graças a Deus — ironizou e sua atenção se voltou para o garoto que não havia visto ao entrar e que parecia tirar um cochilo no sofá. — Ué, aquele ali é o substituto do Yoongi?

— Quem dera.

— Poxa — murmurou ao longe com os olhos entreabertos.

— E o que você 'tá fazendo aqui? — Virou a latinha de refrigerante como água em sua boca.

— 'Tô ajudando na produção! — Suas palavras interromperam o próximo gole do outro, acompanhada de uma feição confusa. Kim não precisou se virar para Jungkook a fim de obter uma explicação.

— Isso não é da sua conta. — Foi direto e continuou: — Você nunca se envolveu de verdade, mas tem sorte de ter dado certo e receber por isso.

— E se foi por causa dele que eu passei mal?

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