Os eventos da noite anterior revelavam o motivo de sua inquietação.
O celular vibrava sobre a cama, mas, desde que chegou em casa, ele se recusou a checar suas mensagens. Havia um receio dentro de si, um medo de tocar no aparelho e ver as notificações cessarem. Sentia que se aproximar demais significaria perder aquela sensação que perseguira por tanto tempo.
De frente ao espelho, ele ergueu com leveza o queixo, apreciando as nuances de vermelho se formando onde o vira-lata de Doyeon fizera-lhe o favor de deixar o seu carimbo. Podia sentir o relevo na parte inchada da boca e o gosto metálico do cuspe disparado no rosto do loiro. Esperava que ele tivesse se divertido, pois Park certamente tinha.
Contemplava sua face ao passar a mão pelo cabelo e pensar nos próximos tons que aquele hematoma assumiria. A cura era um fato, ainda bem. Mesmo que durante aquela noite tivesse se colocado em uma situação pela qual estava disposto a morrer, havia um alívio. Não podia negar.
Contudo, arqueando uma das sobrancelhas perante o espelho, Jimin não podia evitar reviver a imagem de ter seu pescoço prensado. As palavras de Hoseok zumbiam em sua mente, descrevendo os olhos belos daquele estranho. Embora Park, por infelicidade, não tivesse o privilégio de fitá-los cara a cara, consolava-se com a visão dos olhos de seu amigo.
Quando, no instante em que tudo o que Jimin desejava era sair pela porta e terminar o que havia começado, foi capturado não só pelas mãos, como pela pureza inerente vinda dele, percebeu. Aquele homem era, com toda certeza, um cordeiro disfarçado de lobo.
Devia tê-lo agradecido por não deixá-lo cair, pensava. Ao invés disso, a voz rouca de seu subconsciente sussurrava para agradecer ao loiro pela violência. Os leves hematomas em seus pulsos e rosto eram um lembrete de seu próprio valor, uma confirmação brutal de sua existência. A adrenalina pulsava em suas veias como um eco distorcido da ameaça recente, ainda reverberando em sua mente.
— Cara maluco... — O pensamento escapou de seus lábios enquanto ainda encarava seu reflexo. — Por acaso, ele já te machucou? — perguntou Jimin a Hoseok, que estava sentado na beirada da cama com o rosto enfiado no celular desde que chegara de seu ensaio.
— Na verdade, eu é que sou um pouco sem noção com ele. Taehyung sempre foi muito gentil — respondeu, aéreo.
— Taehyung... — murmurou. — Tinha um cara com ele, moreno, tatuado, já viu? — O outro negou com a cabeça. — Meio sádico, mas no final foi bonzinho.
"E eu fui sem noção", pensou e riu sobre como a fala de Hoseok se encaixava bem naquela situação.
— Você vai fazer alguma coisa contra ela? — questionou o colega ao deixar o celular de lado.
— Acho que 'tá bom, 'né? — Jimin gesticulava com uma escova de cabelo. — Se esse cara 'tá envolvido com drogas, como você disse, e me bateu como se eu fosse um inseto, não quero imaginar o que faria se ela decidisse me querer fora do caminho de vez. Eu quero ser notícia, mas não como um indigente achado no meio do mato — pontuou.
— E o vídeo?
— 'Tá aqui, mas vou deixar 'pra lá, iam colocar ela como vítima de um "roubo". Não quero nada que alivie o lado dela.
— Então você só apanhou por ser um idiota? E, por esse mesmo motivo, vai continuar sem fazer nada?
— É — admitiu ele, com um grunhido seco.
— 'Tá, mas olha aqui, desde que começou o burburinho sobre o que aconteceu no evento, seus números só sobem.
O dançarino, despretensioso, virou a tela de seu celular em direção ao rosto de Park para revelar o perfil que agora exibia um número de seguidores quatro vezes maior do que tinha quando saíra de casa na noite anterior. Houve uma pausa na respiração de Jimin, suas íris tremendo ao reconhecer seu nome de usuário junto de todos aqueles números.
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NO DEVOTION
FanfictionCriminal | Romance | Drama Em andamento | Darkfic | Longfic | +18 Jeon Jungkook, um exímio tatuador do subúrbio isolado de Moorose Coast, guarda consigo um legado que o atormenta silenciosamente. Tudo se torna pior no momento em que seus olhos se cr...