CAPÍTULO 10 - CALLUM

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A rua estava cheia de buracos, e Callum sofria para desviar deles sem cair em outro. Tracy, ao seu lado, parecia não se importar com o carro quicando a cada cinco segundos. Ela continuava imersa em seu próprio mundo, como sempre ficou quando estavam os dois a sós. Mesmo que fora por pouco tempo, Callum estava incomodado com isso. Ele queria entender o motivo de ela não gostar dele assim, mas ao mesmo tempo querer mostrá-lo para o mundo.

Callum, depois de um momento de silêncio, decidiu abordar o assunto.

— Tracy, posso te perguntar algo?

Ela desviou o olhar por um breve instante antes de responder.

— Claro, Cal, o que foi?

— Eu sinto que quando estamos sozinhos, você fica distante. Mas quando estamos com outras pessoas, é como se quiséssemos que todos saibam que estamos juntos. Isso me confunde um pouco. Quero entender.

Tracy suspirou, parecendo ponderar sobre como expressar seus sentimentos.

— Não é sobre você, Callum. É sobre mim. Eu tenho medo de me abrir completamente.

— Medo do quê? — Ele levantou uma sobrancelha.

— Do que pode acontecer. — Ela pausou por um instante. — Medo do que pode acontecer comigo. Do que as pessoas vão achar de mim e como vão me tratar.

— Mas ainda não consegui entender. Você tem medo de como vou te tratar?

— Não você. Mas o mundo. Eu acabei criando uma persona sem querer para me proteger.

Callum permaneceu em silêncio, processando as palavras de Tracy. Ele podia ver a vulnerabilidade em seus olhos, algo que ela normalmente escondia atrás de uma fachada descontraída.

— Tracy, eu não quero que você sinta que precisa se esconder. Eu gosto de quem você é de verdade, sem máscaras. E se o mundo não aceitar, isso é problema do mundo, não seu.

Tracy olhou para ele com gratidão, mas também com um resquício de incerteza.

— Callum, eu sei que você diz isso, mas é mais fácil falar do que fazer. As cicatrizes do passado são complicadas.

— Eu entendo, Tracy. Mas estou disposto a estar ao seu lado, independentemente do que aconteça. Se você quiser se abrir mais, estou aqui para ouvir. Posso ser seu amigo. — Ele estendeu a mão até a dela, apertando com força.

Tracy sorriu, um misto de tristeza e alívio.

— Obrigada, Callum. Isso significa muito para mim.

— Então você vai me contar o que está acontecendo?

— É que... — Ela suspirou. — Eu gosto de meninas.

Callum freou de repente; não estava esperando essa resposta. Esperava tudo, menos isso. Tracy abaixou a cabeça.

— Mas isso é maravilhoso. Eu também gosto de meninas. — Callum conteve um riso, mas aliviado por ela finalmente compartilhar um pedaço importante de quem ela era.

Tracy ergueu os olhos, surpresa com a reação positiva de Callum.

— Você não está chocado?

— Claro que não. Você é a mesma pessoa incrível que sempre foi. Gostar de meninas não muda nada para mim, Tracy. Apenas significa que agora você compartilhou algo mais sobre quem você é.

Tracy soltou um riso nervoso, percebendo que a aceitação genuína de Callum era exatamente o que ela precisava.

— Obrigada por ser tão compreensivo, Callum.

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