Fogo, Mar e Nosso Sangue

Capítulo X: A Ilha

Lucerys

O patriarca da casa Tully, Lorde Grover Tully, não era um homem fácil para dizer o mínimo. O homem já não era jovem, já passava de seus 50 anos e não estava bem preservado. Seu cabelo, que no passado era ruivo, hoje não passava de alguns fiapos esbranquiçados e cinzentos. Além disso, sua arrogância transpassa sua idade tornando qualquer negociação com o homem um jogo de paciência muito exigente, nenhuma habilidade diplomática o fazia mudar de ideia.

O homem havia apoiado a reivindicação do meu falecido avô, Viserys I, pois vira como um absurdo a linhagem feminina, de minha avó, Rhaenys, representada por meu pai, o falecido Laenor Velaryon prevalecer à masculina vinda de Baelon e seu filho, Viserys. Agora, vemos essa questão repetida e mesmo que ele tenha no passado dobrado o joelho para minha mãe, o velho apoia meu tio, Aegon.

Em contraponto, seu neto e seu bisneto, Sor Elmo e o jovem Kermit, já declararam seu apoio à reivindicação de minha mãe ao Trono de Ferro e à Jacaerys como Príncipe de Pedra do Dragão.

O sol começava a surgir pintando o céu e os rios com sua dança de cores, eu já havia me acordado faziam horas. Nas últimas duas noites eu venho sido atormentado por um pesadelo com Gucerys. Sempre tivemos uma conexão especial, muitas vezes quando jovens, sonhávamos o mesmo sonho. Mamãe dizia que era porque somos gêmeos, e apesar de não sermos idênticos, temos uma espécie de conexão entre nós dois, um tipo de pressentimento um sobre o outro.

Nessas noites incômodas o pressentimento ruim era constante, ele não estava bem. Algo de muito ruim havia acontecido. Era um vazio doloroso, uma ausência.

–Príncipe Lucerys, chegou uma carta vinda de Pedra do Dragão, de vossa mãe, a Rainha Rhaenyra. –Kermit veio até mim com receio devido à presença de Arrax que me envolvia de certa forma.

Seus movimentos eram lentos e cautelosos. Eu sabia, no fundo eu sabia desde que senti aquilo naquela manhã. Gucerys se foi. Era isso que a carta dizia. Não, ele não se foi, Aemond o matou. Era diferente. A carta possuía duas Rhaenyras, a sua mãe e a sua rainha.

A sua mãe lhe pediu perdão por não ter conseguido proteger seu gêmeo, lhe pediu calma e lhe desejou conforto em seu coração. Sua rainha lhe disse para não tomar atitudes imprudentes com desejo de vingança. "Sangue será pago com sangue. Um filho por um filho" escreveu sua mãe.

O desespero tomou meu coração completamente. O grito que eu dei foi a mais pura dor, o choro veio tão intenso que eu não conseguia mais enxergar. Arrax rugiu de uma forma triste, sentindo o meu luto e pela minha raiva ele cuspiu fogo aos ares.

Kermit me abraçou, tentando me confortar, mas era impossível. Como qualquer um seria capaz de acalmar meu coração enlutado pelo meu gêmeo? Como era possível tamanha crueldade ter sido permitida pelos deuses?

Aenysa também estava chorando quando veio em minha direção, mas seus olhos possuíam um fogo intenso. Eles brilhavam e a água salgada das lágrimas parecia dançar nas chamas violetas de seus olhos.

Aenysa

Quando Jace chegou a Correrrio no dia seguinte à chegada da carta, eu sabia que ele não era mais o mesmo garoto que deixou Pedra do Dragão há quase uma semana. Ele era um homem agora, um dragão. Seus olhos castanhos possuíam puro fogo e sangue. Ele era um dragão tomado pela vingança.

Na noite anterior, quando Kermit contou ao seu bisavô, Lorde Grover, sobre o assassinato de Gucerys o velho baixou seu olhar. No amanhecer ele estava morto, Sor Elmo era agora o Senhor Supremo do Tridente e Lorde de Correrrio. Declarando assim seu apoio à Rainha Rhaenyra.

Jacaerys passou horas nos aposentos de Lucerys, confortando o irmão. Posteriormente, ele reuniu uma mesa com mapas e documentos fornecidos por Lorde Elmo. Delegou a proteção do Vale, enquanto Gucerys protegeria parte das Terras Fluviais, levando em conta que Maegor estava em posse de Harrenhal.