Prólogo

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Minha testa sangrava da faca de osso afiado que tinha sido lançada contra a minha cabeça. Mortes não eram incomuns nos ritos de passagem da maioridade, mas eu era só uma batedora que teria muita sorte na vida se conseguisse um dia ser general de um flanco de bruxas, não havia necessidade para tanta hostilidade.

Cada pessoa naquela arena sabia que eu era fraca contra as bruxas de osso e mesmo o medalhão que me custou o salário de um ano, poderia não salvar minha vida se elas acertassem um golpe direto.

Aquela proteção de sombras era uma magia que apenas retardava os ataques das outras guerreiras na arena, porém aquilo não me manteria a salvo para sempre. As quatro princesas dos coventries deviam estar focando suas atenções a todas nós naquela batalha, mas a faca que acertou minha cabeça pertencia a princesa do coventry de ossos e ela só me acertou porque eu me distraí com a princesa do coventry de sombras, meu próprio coventry me atacando! Era aquela mulher que eu serviria pelo resto da vida!

As princesas de sangue e de gelo já tinham atacado as demais guerreiras na arena, então eu não podia ficar escondida para sempre. Limpei o sangue na manga, apenas para afastá-lo dos olhos e desfiz a magia que me mantinha escondida.

Todos os olhos não apenas das competidoras restantes como também de cada mulher naquelas arquibancadas se voltaram para mim, eu era o objetivo comum daquelas princesas, a honra de cada coventry não seria manchada se uma princesa vencesse o torneio, mas se uma ninguém como eu vencesse... aquilo seria um desastre para elas.

Bom, atrair a atenção das quatro princesas foi um erro meu, afinal, não precisava apagar cinquenta competidoras no início da batalha. Aquilo atraiu mais atenção do que eu precisava.

Segurei firme os cabos das duas lâminas de sombras que conjurei e me movi, a princesa de osso deveria ser a primeira a cair, ela era minha fraqueza natural.

Antes que as outras três conseguissem piscar minha lâmina esquerda se enterrou na barriga da princesa de osso e a lâmina direita aparou o golpe das flechas de sangue que voaram em minha direção.

Uma lâmina de osso afundou em minha perna, mas eu a parti e puxei minha lâmina esquerda de volta fazendo a princesa de osso cair.

As três guerreiras sobressalentes não tinham poder contra mim, contudo, uma união das três seria uma dor de cabeça.

Aparei a lâmina de gelo que se movia em minha direção em formato de lança e usei a espada direita para quebrá-la, meu poder era a fraqueza da princesa de gelo, ela cambaleou para trás deixando as princesas de sangue e sombras me atacarem juntas.

A princesa de sangue entoou um cântico que fez meu sangue esquentar, se ela continuasse aquela canção meu corpo explodiria com o calor, atirei a espada de sombras em sua direção e ela caiu com a lâmina presa em seu ombro esquerdo, errando por pouco o coração dela. Nossa única fraqueza.

Minha futura soberana sorriu, ela sabia que eu não poderia matá-la. Mesmo que aquele pensamento tomasse minha mente, também havia em meus pensamentos os discursos das quatro rainhas antes do início daquela batalha: ninguém deve se curvar completamente a ninguém, poder não está enraizado na ascendência de uma bruxa, mas em sua própria força.

— Sinto muito, minha alta-senhora — murmurei quando conjurei outra lâmina e a ataquei.

A princesa do coventry das sombras aparou meus golpes com um escudo feito de pura escuridão, meu corpo assumiu aquela necessidade voraz de vitória e se moveu quase por vontade própria. Perdido nas lembranças de cada ano de humilhação que me fez chegar até ali, nossas mágoas encobriam a arena em trevas e quando eu consegui atravessar o escudo e o antebraço da princesa, ela caiu de joelhos com a dor. Minha segunda lâmina parou junto ao seu pescoço.

— Savah é a vencedora dos jogos deste ano — a voz da rainha do coventry das sombras preencheu a arena. — Limpe-se, criança, temos uma coroa para lhe entregar.

Agarrei o pedaço de osso que estava cravado na minha perna e o arranquei, sentindo minha magia se recusar a curar aquela ferida causada pelo elemento que era minha fraqueza, porém eu não me permiti mancar quando caminhei para fora da arena.

Nos fundos daquela montanha sobre a qual a arena se erguia havia uma rede de cavernas dentro das quais todas nós ficávamos em reuniões dos coventries, eu não tinha direito a uma caverna própria e precisava caminhar até o rio no fundo das cavernas para me lavar.

Segui aquele caminho com o peito inflado de orgulho. Eu tinha vencido a competição da maioridade e estava prestes a receber a coroa dos clãs, a maior das honras do nosso mundo.

Quando me agachei junto a água para lavar o rosto com a perna protestando em dor pelo ferimento que sangrava, senti as presenças às minhas costas e minha melhor defesa foi pular na água.

Meu mergulho não foi fundo o bastante para que eu me afastasse das quatro guerreiras que estavam naquela emboscada, ele serviu apenas para me dar tempo para atrair as sombras daquela caverna escura. Mesmo que uma princesa dos quatro coventries também tivesse poder de escuridão, cada sombra é única e responde a um único mestre.

Aquelas agarraram as princesas que estavam na margem enquanto eu nadava para a superfície, arrastei meu corpo para fora da água e minhas lâminas arrancaram as quatro cabeças antes que eu me desse um instante para pensar no que estava fazendo.

Eu fui de guerreira que ganharia uma coroa com honra pelos quatro coventries à assassina das quatro herdeiras em menos de uma hora e sabia que minha vida não resistiria mais do que isso se eu continuasse ali, então mergulhei na sombra mais próxima e a luz do sol me cegou quando saí de outra sombra muito longe dali.

4 Elementos SobrenaturaisOnde histórias criam vida. Descubra agora