Capítulo 2 - Parte 2

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Tinha deixado as memórias da minha infância para trás há muito tempo, eu tinha crescido no lixo do reino das bruxas das sombras, onde qualquer comida era disputada em briga, ao invés de perder meu tempo com brigas desnecessárias, eu simplesmente entrava na floresta e pegava o que podia achar.

Aquelas lembranças estavam me sufocando naquela altura. Bruxas são cruéis, não éramos conhecidas como quatro elementos sobrenaturais por acaso, cada traço de trevas que compunham nosso poder estava entranhado na essência das bruxas.

Fechei os olhos, lembrando o momento em que cortei as cabeças das princesas dos quatro coventries. Aquelas criaturas tinham me atormentado sempre que passavam por mim, minhas fraquezas foram usadas contra mim e quando consegui um emprego limpando estábulos, precisei viver nas mesmas condições infelizes de antes para comprar um maldito amuleto de proteção.

— Você está bem? — Fiador perguntou ao meu lado me fazendo sobressaltar. Ele sorriu ao me segurar quando esmaguei uma porção de amoras entre os dedos. — Desculpe, não queria te assustar.

— Só estava dialogando com fantasmas — admiti.

Encarei o olhar do elfo, me perguntando que tipo de ideia ele tinha a meu respeito com tantos segredos entre nós.

— O acordo de sem perguntas às vezes é torturante, não é? — questionou e eu assenti sem me afastar dele, ou da não que ainda segurava meu braço.

— Eu não gosto de falar sobre o meu passado e não me interesso por saber demais sobre as pessoas ao meu redor, isso me levaria a me importar com elas e fica difícil partir quando necessário.

— Acho que descobri uma ou duas coisas sobre você hoje — comentou ainda estudando o meu rosto.

— Isso assusta você? — perguntei estudando os traços do rosto fino.

— Deveria?

— Posso ser um monstro debaixo da cama — avisei.

— Se eu conseguisse ter você no meu quarto, pode ter certeza, não seria embaixo da minha cama que te manteria.

Esbocei um sorriso divertido ao ouvir essas palavras.

— Talvez eu me esconda lá um dia desses — falei finalmente me afastando do elfo.

— Pode se esconder embaixo das cobertas — sugeriu.

Soltei uma risada baixa e caminhei entre os arbustos para procurar mais frutas.

— Temos que acabar logo com isso — sussurrei observando os cervos.

Fiador soltou uma risada divertida. Estalei a língua ao perceber o duplo sentido do que tinha falado.

— Por mais interessante que você esteja se fazendo parecer. É bom que saiba que eu não estou desesperada. A carne pode estragar se demorarmos demais — lembrei sem olhar para o elfo outra vez.

Minha sacola estava abarrotada de frutas que provavelmente seriam secas para durar mais tempo, eu não me importava de carregar peso, mas temia que o excesso dele me atrapalhasse caso precisássemos lutar. Meu corpo tremeu e eu interrompi o movimento de levar a mão ao arbusto, minha mente demorou para compreender que o tremor não vinha do meu corpo e sim do chão.

Girei o rosto e vi Fiador com uma espada na mão, enquanto ele observava um ogro de quase três metros.

— Inferno! — praguejei largando a bolsa de frutas e conjurando duas espadas.

Fiador atacou o ogro, o elfo era rápido, mas não parecia a habilidade treinada por elfos, os movimentos dele pareciam os mesmos que eu estudei e pratiquei por anos enquanto crescia entre as bruxas.

4 Elementos SobrenaturaisOnde histórias criam vida. Descubra agora