Capítulo 4 - Parte 2

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Nós avançamos pela floresta, eu observava cada sombra, sem reunir coragem para me conectar com elas, com bruxas do coventry das sombras vagando pelo reino, seria perigoso me conectar com a escuridão. Se houvesse mais alguém com dona semelhantes ali, eu estaria perdida.

Puxei um pouco mais o capuz sobre o meu rosto, conforme o fazia, notei os olhos de Kayros sobre mim. Como uma típica criatura do povo das fadas, ele não perdia a oportunidade de ter um trunfo contra alguém.

Cada um do nosso grupo de mercenários estava ali por uma razão, isso não fazia de nós amigos, não nos tornava próximos ao ponto de confiarmos nossos segredos uns aos outros, mesmo que um estivesse protegendo a retaguarda do outro numa batalha.

— Fiquem atentos — Fley avisou. — Eles provavelmente estão saindo das cavernas a essa hora e podem ser ainda mais perigosos.

Ouvi uma corda sendo tensionada e não precisei me virar para ver que Kayros já tinha uma flecha armada em seu arco. Melina soltou um rosnado baixo.

— Estamos chegando perto — Edmonth disse.

Removi as espadas de sombras das bainhas e pressionei os cabos com força. Segurar metal conjurado por mim era diferente de empunhar uma arma mortal, aquelas armas eram feitas da minha própria escuridão, era como segurar uma parte de mim.

Inspirei fundo, sentindo o ambiente, cada criatura na escuridão, meu coração desacelerou, em expectativa por uma batalha.

Se eu pudesse espiar a escuridão, se pudesse apenas lançar um fio do meu poder em direção aquela escuridão a nossa volta, provavelmente seria capaz de sentir a presença das criaturas que estavam nos rodeando, mas isso exigiria poder e com bruxas na região, eu não podia arriscar.

Meus instintos me guiaram quando senti um arrepio no lado esquerdo do corpo e me movi, desviando de uma criatura que avançou para mim com garras de vinte centímetros afiadas como lâminas recém-forjadas e presas a mostra, cobertas por veneno. Minha espada se moveu, cortando a cabeça da primeira criatura.

Uma flecha cortou o ar na minha frente e se enterrou na testa de outro vampiro, meu coração acelerou, mas não ousei olhar para Kayros para agradecer pela ajuda. Outros vampiros surgiam das sombras e nosso grupo formou um círculo conforme partíamos crânios e arrancávamos membros.

Sempre que eu tentava deixar algum dos vampiros imobilizado para capturá-lo com vida, a situação mudava, outras criaturas mergulhavam em minha direção me obrigando a matar não só o que me atacava como o que tentava imobilizar.

Minhas lâminas estavam consumindo o sangue deles, o que fazia o poder obscuro nelas se tornar mais e mais profundo, por causa do sangue de demônio que percorria as veias daqueles vampiros.

— Eles são muitos! — Melina praguejou.

Uma luz dourada rompeu a escuridão, e não precisei olhar para ver que Melina tinha se transformado, a loba atacava com garras e evitava usar suas presas, se ela ingerisse o sangue daqueles vampiros, podia ficar numa situação semelhante à deles.

Praguejar conforme meu corpo se acostumava com o ritmo da luta, eu já tinha derrubado cinco dos vampiros que se aproximavam de mim, protegendo a retaguarda dos mercenários a minha volta e confiando que fariam o mesmo por mim.

As flechas de Kayros passavam por mim acertando alvos que nem sempre eram mortos por elas, mas ficavam feridos o suficiente para que eu conseguisse finalizar aquelas mortes, os corpos se acumulavam ao redor do nosso círculo de inimigos e Fley berrava que nós tínhamos que pegar um deles vivo.

Se eu pudesse confiar o suficiente para usar a escuridão, aquela tarefa seria fácil. Praguejar mentalmente pensando a respeito disso.

— Me cubram — Kayros pediu.

Me aproximei do feérico sentindo cada parte de mim tremendo com as ondas de energia que a escuridão do ambiente lançava contra mim. O macho colocou as mãos no chão e seus olhos reluziram em um azul celeste quando ele sussurrou algo em uma língua arcaica das fadas e plantas brotaram do solo, elas envolveram um dos vampiros e o aprisionaram.

Enterrei minha espada no peito de uma fêmea que quase atacou meu companheiro feérico pelas costas, seus olhos carmesim me estudaram furiosos enquanto a vida deixava seu corpo.

Respirei fundo, sentindo a escuridão, ouvindo sua voz, mas ela parecia finalmente ter silenciado, como se não houvesse mais nada ao nosso redor.

Ouvi um suspiro audível e encarei Edmonth que se colocou sobre um joelho, murmurando uma prece a Fola, a deusa guardiã dos vampiros. O macho rezou por seus semelhantes mortos, evitei observar aquela cena e embainhei as espadas de escuridão.

— Parece que acabou — Melina disse ao meu lado.

Encarei a loba marrom e confirmei com a cabeça.

— Há um cheiro no ar, algo salgado — falou.

Kayros nos lançou um olhar nervoso e se levantou do chão, seus olhos ainda estavam iluminando o lugar com aquele brilho azulado. O feérico olhou ao redor, como se seus olhos pudessem ver através daquela massa de sombras que nos rodeava.

— Estamos no território das fadas — ele disse. — Eles não são exatamente receptivos. E o que nós fizemos aqui...

— Acabamos de salvar a bunda deles, já pensou o que essas coisas poderiam fazer se invadissem a Cidade Encantada? — Melina perguntou ainda na forma de loba.

— O problema não é esse, a Cidade Encantada é protegida por encantamentos mais antigos que a maioria dos povos que vivem sobre essa terra — Fley falou. — Eles sabiam sobre os vampiros e podiam lidar com isso, mas escolheram não fazer isso.

— Provavelmente os usavam como proteção, como se fossem animais — Edmonth disse.

A voz do vampiro soou inumana nesse instante, suas mãos terminavam em garras afiadas e suas presas estavam à mostra. Eu não conseguia imaginar como ele se sentia naquela situação.

— É melhor sairmos daqui logo, antes que o povo das fadas resolva nos convidar para entrar — Kayros sugeriu.

— Só vou me livrar dos corpos e podemos ir — Fley disse.

A corsa sussurrou algo em outro idioma antigo e o musgo sob nossos pés cobriu os cadáveres dos vampiros, Kayros fez as plantas carregarem o vampiro imobilizado conforme nós caminhávamos para fora da floresta.

A noite já tinha surgido quando finalmente respiramos o ar fora da floresta, Fley distribuiu nossas recompensas e disse que Kayros a acompanharia para levar o vampiro ao castelo.

Melina sumiu um segundo depois de receber seu dinheiro, Kayros e Fley seguiram seu caminho, me vi imóvel perto de Edmonth por um momento, imaginando se podia dizer algo para ele, que pudesse confortá-lo.

— Você compreende o que estou sentindo hoje — ele declarou sem tirar os olhos do céu estrelado.

As duas luas naquela cobertura escura brilhavam iluminando o mundo com suas cores pálidas, azul e prateado. Edmonth não me olhou, apenas percebeu algo que ninguém mais tinha notado.

— Sim — admiti. — Precisei lidar com isso antes.

— Não sei porque matou criaturas semelhantes a você, mas quero te perguntar... — ele desviou os olhos das luas para estudar o meu rosto. — Como você lidou com isso?

Suspirei encarando o rosto pálido do vampiro que provavelmente não se alimentava há várias horas.

— Eu simplesmente percebi que nunca vou esquecer e aceitei conviver com esse fardo. É provável que nessa vida, você precise lidar com outros vampiros, nem todos serão viciados em sangue de demônio, suas mortes vão pesar no seu coração enquanto respirar. Não há um jeito fácil de lidar com isso — esclareci. — Não importa o quanto você tente justificar para si mesmo o que fez, nada vai diminuir o que sentirá daqui em diante.

Edmonth concordou com um aceno, mesmo que as minhas palavras não fossem exatamente um conforto.

— Tenha uma boa noite, Vana! — ele sussurrou.

— Boa noite, Ed — respondi.

O vampiro seguiu seu caminho pelas ruínas nas quais estávamos e eu suspirei, também tomando meu rumo, as bruxas provavelmente já tinham deixado o reino a essa altura, mas não arriscaria voltar ao orfanato até o amanhecer.

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