Capítulo 3 - Parte 1

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O peso do animal que eu carregava começava a me incomodar, meus ombros já começavam a doer com o peso, mas não reclamei. Apenas continuei seguindo os passos de Fiador tentando não desacelerar a caminhada.

— Quer ajuda aí? — ele perguntou.

— Não, eu estou bem — respondi ajustando a carcaça, o sangue seco nas minhas roupas, já estava me incomodando e o tecido arranhava a pele.

— Tem certeza?

Soltei uma risada baixa enquanto me aproximava do elfo que interrompeu a caminhada.

— Eu já carreguei cadáveres por longas distâncias, acredite, estou bem — avisei.

Nós continuamos o nosso caminho em silêncio, eu não tinha certeza se podia confiar em Fiador, não sabia se o elfo manteria o meu segredo, mas uma parte de mim queria acreditar nele. Fiador sempre pareceu diferente dos elfos que conheci ao longo da vida, ele sempre agiu como um macho acostumado a jogos de poder e manejo de lâminas.

Enquanto a maioria dos elfos se preocupava com política e paz para desfrutar dos prazeres de uma vida longa, ele parecia sempre esperar um ataque e vivia como se cada segundo fosse seu último.

— Eu gosto de estar na floresta — ele declarou rompendo o nosso silêncio pela primeira vez. — Sempre que estou aqui, sinto que consigo ser eu mesmo, sem tantos olhos me vigiando.

Continuei calada ao ouvir as palavras do elfo, Fiador tinha uma noção do que eu era, mas preferia que ele continuasse sem saber quem eu era e que tipo de crime tinha cometido. Mesmo que o elfo tivesse me beijado e meu corpo o desejasse, não eram razões para deixá-lo saber sobre mim ou para querer conhecê-lo.

— Quantos anos você tem? — questionou.

Eu estagnei meus passos e talvez sua audição aguçada tivesse captado isso, porque o elfo também parou e se virou para me encarar, respirei fundo, reunindo aquela habilidade que desenvolvi com anos de saber ter paciência e procurei as palavras para expressar o que sentia.

— Eu o considero um amigo. Um amigo muito atraente, mas nada mais que isso. Se algo acontecer entre nós, não vai mudar o que eu pedi quando nos conhecemos. Não quero conhecer você e nem quero que me conheça.

— Por quê? Qual o problema em se abrir com alguém? Se sou seu amigo, tenha um pouco de confiança em mim.

— Porque quando nos permitimos falar sobre quem nós somos, isso nos deixa vulneráveis, acabamos também deixando um alvo no confidente, um alvo que nos atingiria — expliquei.

— Como pode querer viver sem conhecer alguém de verdade? — questionou.

Suspirei audivelmente movendo a carcaça nos ombros para aliviar o peso.

— Estou acostumada a ficar sozinha, isso não é suficiente para você, por mim tudo bem, nós voltamos ao acordo de antes e esquecemos tudo que aconteceu nessa floresta — sugeri.

Fiador copiou o meu suspiro e voltou a caminhar, ele ficou tanto tempo em silêncio, conforme eu o seguia silenciosamente que me perguntei se teria uma resposta.

— Tenho idade suficiente para saber diferenciar as minhas relações — avisou e eu concordei com um murmúrio. — Se você mudar de ideia, só quero que saiba que sempre terá um amigo em mim. E talvez possamos dividir os fardos que nos transformaram nessas criaturas tão impessoais.

Não respondi ao comentário dele, porque não havia o que dizer, estar atraída por ele não significava que eu o amava, nem que poderia amá-lo um dia. Significava apenas que meu corpo tinha necessidades e que ele era bonito aos meus olhos.

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