04.

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2 semanas depois...

Normalmente, gosto das segundas-feiras. Eu sei, eu sei, sou estranho! Mas é mais forte do que eu — sempre achei animador o começo de uma nova semana. É uma chance de começar tudo de novo, com sete novos dias bem na sua frente, como um Ano-Novo encolhido. Mas esta segunda-feira é diferente. Esta segunda-feira é terrível e me enche de medo por TRÊS motivos:

1. Percebi que ODEIO uma amiga minha, Luiza, e de que ela não serve mais para mim.
2. Tenho que passar o dia inteiro com essa amiga que eu odeio e não serve mais para mim, enquanto a gente prepara a peça.
3. É o dia da apresentação da peça.

Quando chego a escola, estou tão para baixo que tenho a impressão de que posso sentir meu coração batendo nos pés.

— Pê! Que bom que você chegou! — o senhor Mendes grita assim que piso no teatro. Ele parece muito agitado, nem passou gel no cabelo. A franja cai sobre a testa.

— Onde estão os outros? — Pergunto, olhando para a sala vazia.

— Foram até o estúdio fazer um ensaio final enquanto nós, ou melhor, você dá um jeito no cenário.

Olho para o palco.

— Qual é o problema com o cenário?

— Meu amigo grafiteiro me deixou na mão, por isso preciso da sua ajuda.

Durante semanas o senhor Mendes falou com entusiasmo sobre um amigo que é artista de rua e viria decorar o cenário para criar um ar mais de São Paulo. Eu deveria saber que isso não ia dar em nada.

— O que você quer que eu faça? — Pergunto quando ele me entrega uma sacola.

— Um pouco de grafite no prédio e na parede de fundo — ele responde de um jeito casual, como se estivesse me pedindo para varrer o chão — Preciso acompanhar o ensaio. Coitada da Luiza, está com uma tremenda dificuldade para lembrar a última fala.

— Você quer que eu grafite o cenário? — Olho dentro da sacola, que está cheia de tubos de spray — Que tipo de grafite?

O senhor Mendes parece ainda mais estressado.

— Não sei, Pedro. Crie uma marca, sei lá. Você é assistente de cenário.

Olho para ele, sem entender. Sim, eu devia ajudar com a criação do cenário, e também sou o fotógrafo oficial, mas eu nunca teria me oferecido para isso se soubesse que sobraria tudo para mim.

— Vou para o estúdio — Anuncia o Mendes, pegando a prancheta em cima de uma das cadeiras — Assim que tivermos um intervalo, eu desço para ver o que você conseguiu fazer — E desaparece antes que eu possa dizer qualquer coisa.

Olho para a parede no fundo do cenário. Isso é loucura! Se eu chegar perto dela com um tubo de spray, vou estragar tudo, e uma coisa que eu decidi hoje, é não estragar nada. Então, faço o que eu sempre faço em casos de emergência: mando uma mensagem para a Malu.

sos!! o professorde teatro quer que eu grafiteo cenário, tipografite de vddacho q ele endoidoupfvr me ajuda antesque eu fique maluco tbo que eu faço malu?😭

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sos!! o professor
de teatro quer
que eu grafite
o cenário, tipo
grafite de vdd
acho q ele endoidou
pfvr me ajuda antes
que eu fique maluco tb
o que eu faço malu?😭

SAI DE PERTO
DOS TUBOS DE TINTA!!
vc é um homem de
mtos talentos, mas
pintar NÃO é um deles
lembra qnd vc desenhou
um coelho da páscoa
pra aquela menina que
a gnt foi babá na nossa rua
e ela teve pesadelo por meses?
pq vc nao pede pro pessoal
da iluminação projetar
no cenário um das suas
fotos de arte de rua?
acho que ficaria legal

SAI DE PERTODOS TUBOS DE TINTA!!vc é um homem demtos talentos, maspintar NÃO é um deleslembra qnd vc desenhouum coelho da páscoa pra aquela menina quea gnt foi babá na nossa ruae ela teve pesadelo por meses?pq vc nao pede pro pessoalda iluminação ...

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Leio a mensagem da Malu e suspiro aliviado. Tenho uma solução para o que parecia impossível de resolver, talvez o dia não seja tão ruim, afinal...

E estou certo — o resto do dia é surpreendente tranquilo. Os atores ficam no estúdio com o senhor Mendes, ensaiando freneticamente, enquanto Matheus, o garoto que cuida da iluminação aparece para fazer um ensaio técnico e consegue projetar uma das minhas fotos na parede do fundo do cenário. O resultado é incrível.

Pouco antes da estréia, o senhor Mendes, reúne todos nós nos bastidores.

— Vocês vai arrebentar. Quebrem a perna — e então ele olha para mim — Ah, e, Pê, você vai precisar tirar uma foto minha no fim da apresentação, quando o elenco agradecer. Acha que consegue entrar no palco e fazer algumas fotos?

Sinto um medo instantâneo. Para isso vou ter que entrar num palco na frente de um teatro cheio de gente, ou seja, meu pior pesadelo. O Mendes se afasta para chegar se o cinegrafista está pronto para começar a filmar, e todos se posicionam.

Pego a câmera e me sento na coxia. Vai ficar tudo bem, digo a mim mesmo. Afinal, não tenho que lembrar nenhuma fala. Só preciso entrar no palco, tirar uma foto e sair.

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