10.

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Fomos até a loja e buscamos a tiara, que, por sinal, era linda.

O ar está gelado do lado de fora. O céu agora está repleto de nuvens brancas e as pessoas passam correndo de cabeça baixa para enfrentar o vento.

— Está com fome? — Pergunta Jão.

Respondo que sim com a cabeça. Agora que penso nisso, percebo que estou faminto.

— Conheço um lugar ótimo que tem comida e aventura no mesmo pacote — Ele olha para mim e sorri, e sinto um arrepio.

— Comida e aventura — digo, tentando usar o humor como uma maneira de voltar ao normal.

— Uhum. Um lugar perfeito para o dia do mistério mágico.

— Nesse caso, temos que ir pra lá imediatamente

Quando voltamos para seu carro, vejo uma garota, ela está na frente de uma cafeteria, falando ao celular. Quando nos vê, encara Jão de uma maneira persistente.

— Você conhece ela? — Pergunto.

Ele olha para ela por um instante e volta seu olhar para mim.

— Eu nunca vi essa menina antes — resmunga, andando mais depressa.

Quando passamos pela garota, olho para ela.

— É sim — ela fala animada ao telefone, sem parar de encarar Jão.

Então eu entendo o que está acontecendo. Ele é tão bonito que esse tipo de coisa deve ser comum.  João é um ímã de olhares femininos e masculinos, literalmente. Sinto uma tristeza repentina. Que ideia é essa de sentir arrepios por esse cara? Ele pode ter uma namorada ou namorado. Ele deve ter um namorado ou uma namorada. Como alguém com esse rosto e esse sorriso não namora ninguém?

— Por que essa cara triste? — ele pergunta quando entramos no carro.

— Não estou triste — respondo com toda leveza que eu sou capaz olhando pela janela. A menina agora caminha em nossa direção, segurando o celular.

— Vamos — diz Jão, e arranca rapidamente.

Seguro o assento numa reação instintiva. Felizmente, uma ligação da minha mãe me distrai.

— Pegou a tiara? — ela pergunta sem nem dizer "Oi"

— Sim, e é linda — respondo — melhor que a original.

Posso ouvir seu suspiro de alívio.

— O João e eu vamos almoçar — continuo, rezando para ela não dizer que preciso voltar pra ajudar com alguma coisa.

— Que foi? Só um minuto, querido

— Tudo bem

Ouço um ruído de uma risada infantil e aguda.

— Não dancem em cima das mesas, por favor — minha mãe grita — Desculpe, Pedro, são as daminhas... Elas são muito cheias de vida. O que você estava dizendo?

– Tudo bem se eu for almoçar com o João?

— Não! — minha mãe grita — não derrubem chocolate no vestido! Aí, Pedro, juro, se as mães não voltarem logo, eu vou ficar maluca. Sim, é claro que você pode ir almoçar, meu bem. Seu pai acabou de me avisar que ele, a Malu e a Julia vão ao cinema. Não tenha pressa, se divirta — ela conclui num tom sonhador.

A gritaria ao fundo dos ainda mais alta.

— Obrigado, mãe. Te amo

— Também te amo, meu filho. Não! Não coma as flores.

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