11.

89 10 7
                                        

Quando chegamos ao pé da escada, Jão me leva até outra porta.

— No começo vai ficar bem escuro — ele diz — tudo bem?

Eu assinto, mas devo parecer nervoso, porque ele segura minha mão.

— Não se preocupe, tem que ser escuro para provocar o efeito completo.

— Tudo bem — não sei do que ele está falando, mas está tudo bem mesmo. Qualquer coisa estaria bem agora, com ele segurando minha mão.

— Pronto? — ele pergunta.

— Sim —

Ouço o estalo de um interruptor, e de repente estamos em um lindo mundo subaquático. Bem, é a sensação que tenho, pelo menos. Todo o corredor foi pintado para parecer uma paisagem marítima. As paredes pretas brilham com imagens luminosas de peixes, conchas e algas cor de esmeralda.

— É feito com uma tinta especial — diz Jão — As lâmpadas ultravioletas no teto provocam esse brilho — então ele olha para mim, sem esconder a espectativa — gostou?

— Adorei — respondo, virando lentamente para apreciar tudo. Cada peixe, cada concha, cada detalhe é uma obra de arte. É incrível.

— Como você se sente diante disso? — Jão pergunta.

Olho para ele
— Como eu me sinto diante disso?

— Sim. Meu pai sempre dizia que a gente sempre deve se perguntar que sentimentos a arte nos provoca.

Olho de novo para as paredes brilhantes.
— Eu me sinto calmo e em paz. E também como se estivesse em um mundo mágico — Tem alguma coisa na escuridão que me faz sentir seguro para dizer exatamente o que estou pensando.

— Vem cá, quero te mostrar uma coisa — Jão me conduz ao longo da pintura do fundo do mar, para além da imagem da arca do tesouro transbordando de ouro e de uma velha âncora com o nome Titanic entalhado — Está vendo aquela estrela do mar? — Ele aponta para uma estrela vermelha com uma carinha sorridente.

— Sim.

— Eu que pintei.

— Sério? Você fez tudo isso? — pergunto com admiração.

Jão balança a cabeça.
— Não, foi o meu pai. Mas ele me deixou pintar a estrela do mar. Eu tinha dez anos.

— Deve ter sido muito legal.

— Foi. Ele não me deixou ver o resultado na luz ultravioleta até terminar a obra toda. Sabe esse jeito como eu trouxe você no escuro? — Respondo que sim com a cabeça — Ele fez a mesma coisa comigo. Nunca vou me esquecer — ele responde com um sorriso.

— Aposto que sim. Eu também nunca vou esquecer — digo.

Ele me encara por um momento, e sinto que está prestes a me dizer alguma coisa, mas o que faz é soltar a minha mão.

— Vem, vamos almoçar.

Eu o sigo pelo corredor subaquático mágico pensando no que acabou de acontecer. No fim do corredor tem o desenho de um polvo cujos tentáculos brilham com todas as cores do arco-íris. Quando chegamos mais perto, começo a ouvir vozes abafadas e ruído de talheres.

Jão olha para mim e sorri
— Pronto?

— Sim.

Ele estrende a mão para o polvo e gira o que parece ser um nariz. Uma porta escondida se abre. O nariz do polvo é uma maçaneta.

Jão me chama para acompanhá-lo. Não sei bem o que esperar. Estou me sentindo em Alice no País das Maravilhas quando ela cai no buraco do coelho. Não teria me surpreendido se eu visse o chá do chapeleiro maluco do outro lado da porta.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 20, 2024 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

garoto online | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora