26
Vomitar plantas era o que Eric chamaria de castigo, Cartman era cristão mas não acreditava que poderia ser castigado, pois foi fortemente manipulado pelas palavras de Kyle também de modo que o fazia não crê em castigos divinos. Kyle havia expressado sua opinião num dia em uma festa de pijama qualquer, falando que Deus não nos castigaria, que ele nos dava livre arbítrio, eram ideias pouco judias, Eric diria, mas naquele momento o garoto não estava bem o suficiente para repetir isso.
O jovem vomita boa parte em sangue, pétalas e um pouco do almoço. Sua garganta queima em agonia e ele sente como se fosse sua possível morte, respirou profundamente, tossindo e pingando mais algumas gotas de sangue, o cheiro de latrina com naftalina realmente o deixou enjoado.
Até ouvir alguém o chamar.— Eric?? — O garoto se levantou no mesmo momento, sentou-se no chão e apertou o peito entre os dedos. Reconhecia aquela voz.
— O que está fazendo aqui, Kahl? — com a voz fraca, fez a única pergunta que lhe veio à mente. Kyle o encarava de cima, vendo o estado desastroso que Eric se encontrava. A única coisa que Kyle conseguia pensar era que Eric estava vomitando condimentos fortes que ele havia comido no decorrer de seu dia, mas claro, Cartman pensava além disso, embora não desse para Kyle realmente acertar o verdadeiro motivo.
Cartman sofria com a ideia de que Kyle sabia de tudo.— Te segui, achei estranho você ficar tanto tempo preso dentro do banheiro, não achei que estaria vomitando. — Eric abaixou o olhar na mesma hora, sorrindo abertamente.
— Não precisa ficar cagando preocupações pela boca, todo mundo vomita uma vez na vida!
— Ah, pode apostar que eu não estou preocupado. Na verdade, tenho outras intenções. — O corpo de Cartman gelou, olhou para Kyle, mexendo as sobrancelhas, Kyle não parecia pensar em mais nada além de encarar os lábios de Eric. O garoto notava, poderia estar com a mente embaralhada mas conseguia perceber quando era secado daquela forma…
Afinal, o que Kyle queria?
Seria essa uma deixa para Eric finalmente ter uma conversa descente com Kyle?— você tem intenções? comigo? — Eric apontou para si próprio. Kyle assentiu e consequentemente Eric se acovardou. Em questão de segundos ele percebeu o turbilhão de emoções que estavam passando em sua mente e grunhiu, batendo em sua própria cabeça. Ouviu o tec tec das botinas de Kyle no chão, o que deixou Eric mais tenso.
— Eric, eu sei que nunca fomos tão próximos, mas eu percebi que você anda muito estranho. Eu não sei como explicar, mas eu sinto que você está com problemas que não consegue resolver sozinho. — Kyle nunca havia falado de forma tão sútil quanto aquele momento, fazia Eric se sentir com tantas borboletas no estômago, mas acima de tudo, sentir a dor de seu ego explodir pelas ventas.
Ele se sentia só, se sentia mal e acima de tudo, perdido… como nunca se sentiu antes…
Ao sentir o toque de Kyle em seu ombro, tão suave quanto nunca chegou a ser, Eric se virou, seus olhos remelentos gotejavam e não parecia que iriam parar tão cedo.
Kyle o olhou com extremo pavor.— Kahl, eu tenho certeza que você tá querendo rir da minha cara, mas quer saber seu judeu fodido? Eu… eu tô pouco me fodendo. — Cartman balançou a cabeça, limpando os olhos. Kyle estava sério, em seu semblante já dizia que suas intenções nunca foram rir. — Mas se quer tanto saber, eu me sinto doente, e não tem curas óbvias para minha doença, Kahl, eu vou morrer a menos que você me salve. — No momento que Cartman começou a falar, parecia que seu tom de voz deu um impulso, ele aos poucos se levantou e aproximou de Kyle. O ruivo deu passos para trás, assustado, porém não conseguiu fugir, logo seus braços estavam presos pelas mãos de Cartman.
— Cartman, o que é isso-
— Basta! Me escute! Quero que saiba que eu, desde sempre, a gente era amigo quando jovem e a gente cresceu e… a gente… é velho agora, tá terminando a escola e tudo mais, estamos juntos aqui e agora, e sozinhos. Eu queria que soubesse que meus sentimentos são fodidamente loucos, mas eu só percebi esses últimos dias que eu estou louco por vo-
— Basta? Basta você! — O ruivo reuniu forças para empurrar Eric que foi parar perto das cabines do banheiro, Kyle se encolheu e abraçou os próprios braços, olhando para Eric com pavor e repulsa. Está era uma reação que Cartman não esperava que acontecesse, embora fosse bem óbvia. — Quer saber? Vai se foder! Eu não quero mais escutar! — Kyle apontou o dedo para Eric o fazendo entrar em choque, totalmente parado. Kyle bufou, não conseguindo nem sequer olhar para Eric. — Puta merda… — Kyle massageou as têmporas, dando uma última olhada para Eric antes de sair apressado para fora do banheiro.
Ver Kyle fugindo era o habitual, mas naquele momento, foi como se uma parte de Eric tivesse escapado para viver uma vida melhor…
Eric odeia a todos que fugiam de si, mas naquele momento, não conseguia sentir nada além de remorso.
Seu corpo inteiro começou a tremer, o coração palpitar e a mente ficou tão turva ao ponto de Eric ter que se sentar no chão. Ele ficou lá por um momento, recobrando sua sanidade… seu estômago embrulhou e a única coisa que saiu de sua boca vou um vômito vermelho e verde. Doeu muito para sair…
Ele voltou a vomitar…27
Eric ao sair do banheiro encontrou Butters, que embora já tivesse terminado suas aulas do dia, estava totalmente devastado, parecendo imerso na lataria de seu armário. Eric se aproximou enquanto limpava a boca, parando ao seu lado. Butters o olhou na hora.
— Eric! Poxa vida, onde estava? Você havia sumido! — Butters abriu um grande sorriso, mas Eric não parecia dar atenção.
— Eu odeio essa doença… — Eric confessou da forma mais baixinha que conseguia… Butters mexeu as sobrancelhas. Coçou atrás da nuca e olhou no armário.— Tome. — Eric pegou em mãos os comprimidos que Butters o mostrou, eram meros paracetamol com codeina. Desconfiado, Eric ergueu a cabeça, mexendo as sobrancelhas em dúvida.
— só não exagera, ok? Esse remédio é um pouco forte demais, pode tomar dois toda vez que sentir muita dor. Talvez você sono sono, de qualquer forma, cuide-se. — Eric lembrava de tomar essa medicação quando fez a cirurgia de amigdalite, era um medicamento que precisava de receita para consegui-lo na farmácia.
Butters reconforta Eric com um afago no ombro. — Aliás, meu aniversário está chegando, queria que você aparecesse por lá. — A animação de Butters ressuscitou do nada, fazendo Eric fechar a cara.— Eu tô morando com você, seu imbecil. — Eric falou com tamanha desgosto, fazendo Butters rir.
— Eu sei, mas tenho certeza que até lá sua mãe já vai ter conseguido a casa de volta, então já aproveito para te convidar! — Eric pensou a respeito do que Butters estava falando, lembrou do remédio e dos dias hospedados na casa dele…
— claro que irei, Butters, você é meu grande amigo! — Eric sorriu totalmente contente, em questão de segundos, Butters pulou em cima dele, o abraçando com tamanha felicidade.
— Obrigado Eric, você é realmente um grande amigo! — Butters falou totalmente emocionado, infelizmente ele não via o rosto de Eric, que estava retorcido em repulsa.
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Rosas em meu peito
FanfictionEric Cartman nunca se sentiu tão perdido em sua vida. Ele sentia dores e sabia o propósito desses incômodos e onde o levaria, mas no fundo... Eric não aceitava de jeito nenhum acabar com tudo isso.