Despertalar...

11 1 1
                                    

33

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

33

Kenny não achava que naquela noite sua maior vontade seria ir a um hospital, pois ver Butters naquele estado foi sem dúvidas assustador. Infelizmente quem havia chegado para ir ao médico com Butters foi o vizinho, depois que a ambulância chegou, levaram Butters às pressas e Kenny não teve notícias por longas horas. A festa esfriou e algumas pessoas foram embora, as bêbadas ficaram, logo estavam desmaiadas pelos cantos, só saberiam o que aconteceu no dia seguinte.
Kenny foi levado à sala, proibido por Kyle de entrar na cozinha, ele não queria, nem Kyle, nem Stan, ninguém queria ir naquele cômodo novamente. O loiro estava encolhido no sofá, com os joelhos no queixo e abraçando as pernas como uma forma de se manter estável. Kyle estava no canto da sala, com o telefone em mãos, olhando a tela de minuto em minuto, querendo receber ligações. Stan estava na janela, esperando que os pais de Butters voltassem com notícias.
Nada.
Kenny estava se sentindo ansioso.

— Eu senti o corpo dele ficar gelado, a pele pálida e o peito não mexia. — Foram horas até Kenny decidir falar, Kyle e Stan olharam para ele, perplexo.

— Basta Kenny, não fale besteiras.
— Não são besteiras Kyle, eu sei do que eu tô falando. — o olhar de Kenny transmitia uma terrível certeza, Kyle sentiu o amargo descer pela garganta, engolindo o desespero a seco.

— Ele vomitou bastante sangue, e coisas que ele não deveria vomitar. — Stan segurava a cortina, olhando para o lado de fora. Kenny tremeu, fechou os olhos e caiu que nem uma pedra no sofá, chorando baixinho.

— Eu disse, eu disse que aquela porra de lactose faria mau a ele!

— Pode ter sido qualquer coisa, mas não foi lactose. — Kyle retrucou, mas não deu atenção a Kenny que estava irritado por Kyle não concordar em nada. Kyle estava mais focado em pesquisar algo.

— É mesmo? Oh dono de toda inteligência do mundo! Fale Einstein, que merda que aconteceu com o Butters? — Kenny se levantou do sofá, ainda instável com sua tremedeira nervosa. Kyle abaixou o celular, frustrado.

— Eu não sei, mas, vale a pena dar uma conferida nas coisas do Butters, ninguém vomita uma poça de sangue da noite pro dia, deve ter acontecido outras vezes. — Kyle acreditava que aquilo poderia ser algum câncer ou coisa parecida, o que com certeza seria trágico e fatal. Kenny conseguia compreender o nível de raciocínio do ruivo.

— Vamos para o quarto dele, agora…

— mas fechem os olhos ao chegar perto da cozinha, já não basta o cheiro… — Stan encerrou o assunto, rumando diretamente para as escadas.

34

Os três entraram sem bater, não havia ninguém naquele quarto além de tico e teco, os dois hamsters marrons que Butters tinha dentro de uma gaiola. Kenny se separou de Kyle e Stan, indo diretamente aos hamsters, um girava numa rodinha e outro roía uns grãozinhos…

— se vocês soubessem o que aconteceu. — Kenny tocou na gaiola, como se pudesse acalentar a tristeza que os hamsters nem tinham noção que sentiriam. Kenny olhou para trás quando Stan derrubou uma pilha de livros da estante, Kyle passou a mão na testa e voltou a vasculhar, mexendo em alguns papéis em cima da mesa de Butters.
Kenny se levantou e foi diretamente para a cama, ficou parado por mais uns minutos, ouviu outro som de livros caindo e dessa vez um grunhido de Kyle. Kenny suspirou, abrindo a gaveta e tomando coragem.

— Desculpa Butters… — Kenny pegou o diário de Butters, era simples, tipo um caderno de anotações. Stan e Kyle perceberam e juntos se aproximaram.

— Um caderno? — questionou Stan, sentou ao lado de Kenny.

— Na verdade é um diário. O pai do Butters sempre falou que diário era coisa de garota, mas o Butters precisava de um. — Kenny acreditava que Butters passava por muita coisa com seus pais, desde não ser aceito até os castigos, ele sabia que tudo isso era muita barra, por isso incentivava Butters a escrever seus sentimentos. Quem diria que em algum momento aquele caderno serviria para algo?

Kenny folheou o caderno, leu algumas partes, tinha muita coisa legal cravada naquelas páginas, mas também muitas coisas triste. Assombrosas. Obscuras. Muito obscuras. Até Kenny ler o nome de Eric, seu coração deu um salto.

“DIÁRIO PÓS-FASE3 eu tô cada dia pior.

Eu queria fazer um testemunho, embora essas últimas folhas eu só fale sobre isso. Eu queria falar sobre essa doença que está me matando há cada dia que passa.
No final é um doce sofrimento…
Você ama uma pessoa, e você sabe que ela nunca te compreenderá, parece que seu corpo não aceita um não e automaticamente começa a se autodestruir, eu tô há meses assim e tô rezando para que isso acabe.
Por Deus acabe logo…
Por Deus acabe logo…
Por Deus, Eric, me aceite…
Eu te amo…”

Butters sempre foi caprichoso e empenhado, aquela folha estava repleta de desenhos pequenos e fofos, corações e flores, isso fazia o loiro lembrar o quanto Butters gostava de desenhar em seu braço, Kenny sentia vontade de ficar semanas sem tomar banho apenas para deixar os desenhos intactos… Aos poucos Kenny se reprimiu, seus olhos lacrimejaram e banharam as folhas em lágrimas.

— Mas que porra! O Butters gosta do Eric? — Kyle retirou o caderno das mãos de Kenny, o loiro secou os olhos com a blusa, assoando o nariz. Stan deu algumas batidas em suas costas enquanto Kyle lia as páginas e pulava parágrafos.

— Isso é tão…

— Nojento! Asqueroso! — Kyle gritou, fechando o livro e olhando para Stan, o moreno simplesmente não conseguiu falar mais nada. Kenny se ergueu e saiu de perto dos dois, apontou para a saída do quarto.

— Fora, os dois! Vocês só estão piorando tudo! — Kenny secou as lágrimas com a mão livre. Kyle e Stan se olharam, mas não demoraram para sair do quarto.

Naquele exato momento, quando estava sozinho, Kenny sentiu um peso cair sobre seus ombros, a garganta se fechar e as lágrimas aumentarem. Ele caiu na cama de Butters e abraçou o travesseiro.

Rosas em meu peitoOnde histórias criam vida. Descubra agora