Contagem de palavras: 1175
— Certo — riu — Mas seria bom melhorar isso antes da guerra, pode acabar matando um aliado sem querer.— Estou tentando melhorar, mas tomar controle dessas coisas é difícil.
— Então seria melhor continuar estudando o primeiro volume, não? Em vez de devolvê-lo sem ter dominado tudo— Disse, observando o ambiente distorcido ao redor. Reparou que começava a ver muito mais verde ali, estava saindo da cidade e se aproximando da terra de Kailor.
— Na verdade não — soou a voz sem corpo — O problema não é com a teoria do livro. É mais uma questão de quanta magia eu consigo movimentar e quanta prática eu tenho. Oh, já chegamos — os arredores pararam. As imagens passando borradas se acalmaram, mostrando onde Artur estava.
Estava em uma terra rural, longe de qualquer sinal de civilização. O mato ia até a altura do tornozelo e haviam algumas árvores grandes aqui e ali. Olhando para trás, Artur viu o palácio de sua família como um ponto da paisagem. Um mísero ponto do tamanho do seu polegar, ao lado de centenas de pontinhos menores de vários formatos e cores, formando uma vista linda: uma cidade se estendendo para todos os lados no horizonte.
Isso o lembrou do quão longe estava agora. Se não fosse por Idrissa, ele demoraria horas para chegar ali, isso se pegasse o melhor cavalo de sua casa. Magia espacial era realmente incrível.
— Eu só consigo te trazer até aqui. Existe um bloqueio mágico daqui em diante.
Ele sorriu — Como sempre, Kailor é cauteloso. Você já me trouxe longe, não tem problema. Mas antes que eu vá: Como nós vamos fazer mais tarde? Como vou te entregar o segundo volume?
— Esteja no seu quarto, à meia noite, com livro nas mãos. Vou te trazer e pegar o livro.
— Tudo bem. Nos vemos mais tarde.
Artur começou a andar. No chão à sua frente haviam algumas pedras formando um caminho. Ele as seguiu com cuidado, só pisando onde elas estavam. O jovem sabia dos perigos que aguardavam fora do caminho. E sabia que quanto mais perto da morada do mago, mais fortes eles ficavam.
Artur sabia de todos os segredos, armadilhas e defesas da Fortaleza, porque o próprio Kailor o contou com o tempo. Por algum motivo, o mago sempre gostou bastante dos irmãos Lara, principalmente de Artur.
Não demorou muito e ele estava subindo um morro. Um morro bem florestado, quanto mais andava, mais árvores via. Era uma floresta que ficava mais e mais densa.
Entre as árvores dessa floresta algo observava, Artur conseguia sentir. Uma sensação estranha, de ameaça, vindo de todos os lados. É como aquilo que o Mago das Visões sentiu quando subia a montanha, Artur percebeu chocado. De fato, era a mesma sensação, só que mais fraca, muito mais fraca. O herdeiro Lara conhecia aquilo como outra defesa da Fortaleza. Como ele não estava ali com más intenções, não ficou com medo. Mas se estivesse... aí sim aquilo seria um problema. Um enorme problema.
Lá pelo alto do morro, Artur, já cansado e ofegante, ouviu passos. Ele olhou e viu um homem seguindo pelo mesmo caminho, mas no sentido contrário, saindo da Fortaleza.
Ele tinha a pele alguns tons mais escura do que a de Artur e cabelo negro com um ou outro fio branco. Era bonito e passara por muita coisa, como mostrava a cicatriz no seu rosto, um ferimento que por pouco não pegou o olho. Vestia camisa e calça de tons marrons, a calça sendo de um tom mais escuro. E trazia na cintura, no lado esquerdo, uma espada na bainha. Usava no pescoço um colar com pingente dourado.
A aparência, a espada e a cicatriz já davam dicas de sua origem e profissão. Devia ser um aventureiro do reino de Alépia, vizinho de Trisla. O pingente no pescoço não só confirmava isso, como dizia que era um aventureiro muito prestigiado.
— Talento — disse Artur, cumprimentando com um aceno e um sorriso. Como herdeiro de uma grande família, ele era bem instruído na história e costumes dos povos vizinhos. "Talento" era o jeito respeitoso de chamar um aventureiro em Alépia.
— Milorde — respondeu o outro, se curvando levemente com a mão direita no peito. Ele também reconheceu as características de Artur e sabia como cumprimentar de forma correta. Tanto a família Real como os Lara eram gigantes que não podiam ser ofendidos, então alguém da elite de Alépia sempre cumprimentaria um Lara e um príncipe da mesma forma, para não ofender muito um dos lados.
O caminho de pedras não era largo, mas também não era estreito. Artur conseguiu dar passagem para o alepiano sem sair das pedras. Depois que já tinha passado, o jovem olhou para trás, observando o homem mais velho descer o morro.
Kailor era o mago da família Lara, por decisão dele mesmo. Ele não ajudava em guerras e violências, mas protegia os Lara e ajudava em todos os outros assuntos. Porém, não havia exclusividade. O mago fazia negócios com outras famílias, tinha acordos e relações com muitas pessoas importantes. Artur sabia disso, mas ver um Talento saindo da Fortaleza o impressionava mesmo assim.
Ele se voltou para o caminho, faltava pouco. Passo a passo ele seguiu, observando com cuidado as pedras. Até que chegou em uma parte sem tantas árvores, andou mais pouco e chegou ao fim do caminho. Dali em diante o chão não era de terra gramada, era todo ladrilhado com pedra branca.
E acima do chão pavimentado, se erguia a grande Fortaleza de Kailor. Um amontado de prédios retangulares largos e torres circulares altíssimas que se estendia por todo o campo de visão. Tudo construído com enormes blocos de pedra amarelada.
A torre mais alta ficava no centro, cercada de prédios aglomerados, lá no alto dela, acima do nível dos prédios, havia várias janelas em cada andar. Aquela era a última defesa da Fortaleza, que Artur apelidava de "A boca do dragão". Caso alguém chegasse até ali querendo o mal de Kailor, aquela torre cuspiria fogo por todas as suas janelas, como um dragão enlouquecido.
Muitos já tinham conspirado contra o mago dos Lara. Os motivos eram sempre os mesmos: inveja, medo ou ganância. Com seus planos, aliados e feitiços, muitas pessoas já subiram ali para atacá-lo. Mas todas elas sofreram com as armadilhas e aquilo que se escondia nas árvores. E nenhuma delas venceu a boca do dragão.
Artur andou até a entrada. Todos os prédios e torres estavam conectados entre si por corredores (muitas vezes suspensos), sem que houvessem portas externas. A única porta que levava do exterior para o interior era uma porta de ferro tão alta quanto uma árvore e tão larga quanto uma estrada. Foi para lá que Artur andou.
Estendeu a mão para bater na porta, mas antes mesmo de fazê-lo, elas se abriram sozinhas. Abriram-se para dentro, revelando um cômodo escuro, iluminado por velas e uma lareira. O chão era de madeira escura. De pé nesse chão, olhando para Artur, havia um homem de cabelos brancos e olhos antigos, mas sem rugas ou muitas marcas comuns de idade.
Ele vestia um manto verde e branco com vários detalhes dourados. Sorrindo disse:
— Artur. Estava te esperando.
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Através Das Eras
FantasyNesse mundo cruel tudo é passageiro. Os rios secam, as montanhas viram pó, as pessoas morrem... No fim, o tempo devora tudo. Tudo menos uma pessoa. Sua morte aconteceu bem antes dos reinos de hoje em dia existirem. Seu poder sumiu como fumaça há mui...