XI

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Ayla Leduc

Naquela época estava juntando todas minhas forças possíveis. O que sempre me motivava era ver minha vó feliz. Sem precisar sair cinco horas da manhã e voltar as nove da noite.

Fui morar com ela durante um tempo, porque realmente não conseguia nem passar na frente de minha casa, mas ali naquela rua, onde um dia eu também havia morado [...]

Aquelas velhas invejosas. Dava para ver ódio no olhar de certas pessoas vendo minha vó tendo as próprias coisinhas. Como não tinha conseguido fazer isso a tempo com minha mãe resolvi fazer com a "muié velha" mobiliei com tudo novo em sua casa. Só não fiz uma reforma porque a velha não deixou. Todo lugar que eu ia, minha vó vinha comigo.

Meus parentes ficavam se mordendo vendo eu dar coisas para uma "conhecida" como eles mesmo disseram. Porém Dona Fátima é bem mais que apenas uma conhecida, ela sim depois do acidente foi minha família e não ficou atrás de guarda nenhuma. Eu que insisti para ela pegar minha guarda, mas como esperado o juiz não deixou. Por motivos óbvios. Mas graças a Deus, minha tia, filha de minha vó. Conseguiu minha guarda. Com um pouco de suborno de minha parte? Sim! Dei tudo que irmãs de minha mãe pediram, queria ficar com minha vó. Não com eles!

Era bem horrível ver todo mundo com pena de mim. Não precisava, aconteceu algo desastroso e tudo bem. Em algum momento eles iriam morrer. E se Deus quis naquele momento, ok. Fiquei chateada? triste? abalada? Óbvio que sim, impossível não ficar. Mas ficar recebendo mensagens por sete meses seguindo foi foda.

Entendo que era uma "criança" mas não teria como ressuscitar eles então estava...ia ficar tudo bem. E ficou. Meu desempenho melhorou 100%, toda partida eu estava fazendo gol, e já estávamos com expectativa a mil. Com libertadores, copa do Brasil, Brasileirão, Paulista e óbvio...O mundial.

Melhor coisa na época era chegar no centro de treinamento e passar a tarde toda lá. Até minhas pernas pedirem arrego. Era isso que eu gostava, de me cansar até esquecer de meu próprio nome. De esquecer que existia mundo fora daquele campo.

Meu cachorro também ficou abalado vendo que os três nunca chegavam. Passou dias deitado ao meu lado, a todo lugar que eu ia ele ia atrás. Era muito horrível ver ele triste. Era pior ainda vendo minha vó tentando ser forte para eu ser forte.

Não vou mentir, me fechei completamente depois do acidente. Ninguém conseguia se aproximar, ser meu amigo, colega ou algo do tipo. Eu não dava abertura alguma. Minhas colegas de equipe até que eram próximas, porque eu via elas todos os dias. Mas mesmo assim, não era aquela amizade, sabe? Quando eu ia para a escola na época de provas todo mundo me cercava.

Várias delas tentaram se aproximar, virar um possível amigo, mas eu não deixava. Vários garotos também já deram encima de mim, mas não fiquei com nenhum deles. Podia ser o garoto mais bonito que eu já havia visto, não dava o mínimo de abertura. A pessoa realmente mais próxima de mim era minha vó.

Até que eu acerte o golOnde histórias criam vida. Descubra agora